quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Brasil apoia presidente deposto de Honduras e cobra ação dos EUA


12/08/2009

Folha Online, em Brasília

O ministro de Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, alinhou suas declarações às do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, nesta quarta-feira, na visita do hondurenho a Brasília, e disse acreditar que os Estados Unidos devem liderar a pressão contra o governo interino de Roberto Micheletti. Ele disse ainda que, "em um momento adequado", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode até intervir por Zelaya, perante o americano Barack Obama.

"A medida que o tempo vai passando, a capacidade de que a volta do presidente Zelaya tem de legitimar eleições vai se enfraquecendo. Isso é ruim para a democracia. Então, é preciso que não só o presidente volte, mas que volte rápido. Para que ele volte rápido, é preciso que os golpistas entendam que eles não tem futuro. E quem pode dizer isso com todas as letras para eles são os EUA, que tem maior influência direta", disse Amorim após reunião entre Zelaya e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O Brasil tem se manifestado com firmeza e com frequência tanto diretamente junto com o governo dos EUA quanto através da OEA [Organização dos Estados Americanos], porque nós achamos que as ações devem ser conduzidas através da OEA", afirmou o chanceler.

Os EUA, que já cortaram verbas destinadas a Honduras, já anunciaram que planejam cortar mais US$ 25 milhões em assistência, além de manter a sua proibição de concessão de vistos diplomáticos a membros do governo interino, mas se recusam a adotar 'sanções econômicas sufocantes'. Os americanos compram 40,6% das exportações hondurenhas.

Na semana passada, o chanceler já tinha pedido ao assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, também em Brasília, que o país bloqueasse as contas bancárias de Micheletti e aumentasse a asfixia econômica do governo interino. No dia seguinte, porém, o presidente Barack Obama disse achar 'irônico' que as nações que 'criticaram a ingerência dos EUA na América Latina estejam reclamando agora que o país não interfere o suficiente'.

Nos últimos dias, Obama reiterou em várias ocasiões que apoia o retorno de Zelaya ao poder, mas, na entrevista de sexta passada (7), disse que não pode "apertar um botão e restitui-lo".

Zelaya

Em Brasília, o deposto Zelaya reconheceu o posicionamento "firme" do presidente americano, porém insinuou que alas daquele governo são favoráveis à sua retirada. Ele mencionou que o avião que o levou para a Costa Rica, no momento de sua deposição, fez uma parada na base de Palmerola, controlada em parceria pelo governo hondurenho e americano.

"Naquele dia [do golpe], estávamos em um processo de pesquisa de opinião pública pacífico. [...] Fui praticamente sequestrado de forma violenta. Estava em roupa de cama, fui colocado no avião [...] e a primeira parada foi na base aérea de Palmerola, que é gerida por Honduras e EUA. Neste momento, agentes do Pentágono sabiam que estava acontecendo um golpe de Estado", afirmou o presidente hondurenho deposto.

O hondurenho aproveitou o encontro com o presidente Lula para elogiar o posicionamento do governo brasileiro --que condenou a saída de Zelaya desde o início-, em especial em relação ao congelamento dos projetos de cooperação. "O Brasil está desenvolvendo vários projetos com meu governo. [...] Tomaram a decisão de congelar esse fundo enquanto continuar um governo ilegal em Honduras", afirmou.

O presidente deposto afirmou ainda que as eleições em seu país --marcadas para novembro próximo-- só serão legítimas se o governo interino aceitar que ele retorne. "Minha presença é a única que garante um processo transparente, porque o povo não vai para as eleições num processo viciado, de irregularidades".

De acordo com Zelaya, na próxima semana, ele deverá se encontrar com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. "Recebi um convite, mas ainda não está definida a data."

Um comentário:

Anônimo disse...

Como se já não bastasse o fato de se cercar dos piores "coronéis" do país, ainda tem que trazer os de fora também? Que estranha atração é essa?
Dize-me com quem andas, e eu te direi quem és!