quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Brasil gerou quase 1 milhão de empregos em 2009



Denise Neumann e João Villaverde

Valor Econômico - 21/01/2010

Mesmo com crescimento zero da economia, o Brasil gerou 995 mil novos postos de trabalho em 2009. A relação entre crescimento e emprego foi melhor do que em anos anteriores. Em 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1%, mas gerou menos empregos do que no ano passado. Naquele ano, o saldo entre admitidos e demitidos foi positivo em 645 mil vagas.

Para economistas que acompanham o mercado de trabalho, a composição do crescimento do ano passado explica por que o país foi capaz de gerar quase um milhão de empregos mesmo sem crescer. O dinamismo da economia, resumem, veio do mercado interno, ancorado no setor de serviços, construção civil e comércio. Esses também são os setores que mais abriram postos de trabalho no ano passado - juntos, eles explicam 98% dos novos empregos, enquanto a indústria chegou ao fim de 2009 com apenas 10 mil novas vagas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho.

Em 2009, a expectativa dos economistas é que o PIB tenha encerrado o ano próximo de zero, mas dentro deste resultado a demanda interna terá peso positivo, de 0,9 ponto. O número final cai por conta, principalmente, do investimento, segundo estimativas da LCA Consultores. Já em 2003, a alta de 1,1% do PIB embutiu uma contribuição negativa do consumo de 0,24 ponto, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

"Em 2009, o comportamento do emprego refletiu o dinamismo da construção civil, dos serviços e do comércio, e não temos vagas na indústria, em parte, porque os segmentos de produção de maior valor agregado ainda não se recuperaram", observa Marcio Pochmann, presidente do Ipea. "A economia reagiu puxada pelo mercado interno e o mercado de trabalho é espelho desta reação."

Em 2008, a indústria respondeu por 12% do 1,4 milhão de vagas novas criadas naquele ano. Em 2003, mesmo com o baixo PIB, o setor criou 129 mil novos empregos, ou 20% do total. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mais recente, referente a 2008, o setor de serviços concentrava 12,5 milhões de trabalhadores, quase o dobro de indústria e comércio somados - 7,31 milhões e 7,32 milhões, respectivamente.

"Há uma queda importante no emprego industrial, que é compensado, cada vez mais, pelo setor de serviços", avalia Sérgio Mendonça, supervisor técnico das pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese).

Mendonça também observa que "há um fortalecimento da renda na base da pirâmide social, processo que começou em 2003 e que, no momento da explosão da crise, já ganhara musculatura". O peso do mercado doméstico, sustentado pela elevação da renda, foi maior no ano passado. "É isto que difere 2009 de outros períodos recessivos", diz Mendonça.

O fortalecimento do mercado interno serviu também para alterar a teoria econômica, avaliam os especialistas. Em tese, diz Mendonça, "o câmbio desvalorizado amplia empregos, porque aumenta a lucratividade das empresas exportadoras, enquanto que a moeda apreciada retira esse dinamismo". Em 2003, a dólar chegou a valer R$ 3,70, e no ano passado a moeda americana foi de R$ 2,34 para R$ 1,73. "Como o mercado interno é mais robusto que no passado, o câmbio valorizado eleva o poder de compra do trabalhador", diz o pesquisador do Dieese.

Para Célio Hiratuka, professor do Núcleo de Economia Industrial, da Unicamp, o mercado de trabalho, a partir de 2004, iniciou dinâmica distinta da que vigia na década de 1990. "Nos anos 90, a situação do mercado de trabalho era bastante deteriorada por crises e pela reestruturação da economia industrial", diz. "A partir de 2004, o mercado formal se recupera ano a ano, com aumento de vagas e do salário médio, o que amplia o mercado doméstico." Segundo Hiratuka, a recuperação rápida da atividade foi sustentada pelo consumo, "que passou praticamente incólume pelas turbulências globais". Para ele, a política de aumento do salário mínimo foi crucial para manter o consumo aquecido.

Há, para Mendonça, do Dieese, uma combinação de fatores, do lado do rendimento, que justifica a manutenção - e ampliação - do consumo das famílias. Além da alta do salário mínimo, a lista inclui a queda da inflação - que caiu de quase 6% em 2008 para 4,3% no ano passado - e a ampliação do crédito à pessoa física. "E não podemos desconsiderar a alta do emprego. A criação de quase um milhão de vagas num ano de grave crise mundial é surpreendente."

Os dados do Caged mostraram que as demissões, em dezembro, foram muito fortes. O mês é, sazonalmente, um período de dispensas, mas o saldo negativo de 415 mil vagas, desde 2003, só foi superado pelo corte de 655 mil trabalhadores formais em dezembro de 2008, auge da crise econômica. A indústria de transformação foi a principal responsável pelo saldo negativo do último mês de 2009, com perda de 166 mil postos, sendo o setor alimentos o que mais demitiu empregados (94,5 mil).

Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o saldo de 2009 não foi dos piores, levando em consideração a crise. "Os Estados Unidos perderam 4 milhões de empregos. Toda a Europa fechou com perdas astronômicas. No G-20, o Brasil é o único a ter esse número", disse ele, em Brasília, ao divulgar os resultados. (Com Agência Brasil)

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