Se a crise perdeu seus tons apocalípticos, começam as respostas contraditórias à reorganização de um mercado financeiro global
Por Candido Mendes, no jornal Folha de S. Paulo
Se a crise global perdeu todos os seus tons apocalípticos, começam, agora, as diversas respostas contraditórias à reorganização de um mercado financeiro internacional.
Rompemos o Ano-Novo com a recusa da Islândia de pagar aos seus devedores internacionais, e seu presidente veta a lei que o autorizaria, respaldado em 70% de apoio do país.
Cá, às nossas fronteiras, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, toma o caminho oposto e demite o diretor do Banco Central por se recusar à paga prioritária dos débitos externos privados de seu país.
Os resultados financeiros do Federal Reserve afastam a ideia de vez de uma crise estrutural do modelo. E caberá agora, como se anuncia, ao presidente francês Nicolas Sarkozy, no Fórum de Davos, atribuir os colapsos financeiros do último biênio à estrita especulação e ao apetite de ganho dos dirigentes das megaorganizações bancárias. Mas essa abordagem voluntarista não parece campear, como superação da crise, entre confrontos e contradições.
Repetem-se os pronunciamentos da União Europeia de descrédito quanto a uma efetiva regulamentação para os novos fluxos financeiros globais e, especialmente, dentro da autonomia que vem mantendo, para o médio e longo prazo, os “hedge funds”.
De toda forma, são os Brics que avançam na sua dinâmica econômico-financeira, tendo o Brasil como exemplo notório de uma expansão voltada basicamente para o mercado interno, de par com a tônica na atividade estatal em investimentos de base e seu papel crítico para o desenvolvimento sustentado.
A China, no topo dos Brics, significativamente, ao lado do desmesurado mercado próprio, já se transformou, em 2009, na principal potência exportadora mundial.
E a perplexidade dos resultados do encontro de Copenhague mostra, por outro lado, a visão muito mais realista de conciliação do cuidado ecológico com a importância primeira da produção, no seu impacto sobre a geração de empregos e a superação da injustiça social.
E é essa a palavra da União Europeia, na década que começa, de voltar a prioridade da luta contra a miséria como imperativo do mundo global, que sai da crise com os lanhos todos de uma nova tomada de consciência e as ilusões da prosperidade concentracionária das últimas duas décadas.
E o Salão Oval, hoje, em Washington, na visão inovadora de Barack Obama, junta as duas pontas da raiz mesmo da instabilidade mundial destes dias.
Se o terrorismo se instala agora no Iêmen, de pouco adiantam as velhas políticas de segurança sem que o combate à miséria se instale, prioritariamente, como uma política de desenvolvimento, e não pelo despejo de dólares, nem mais como esmola, mas como estrita estratégia de sobrevivência política, mais que econômica.
Independentemente de entrar ou não de maneira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o Brasil delineia uma nova liderança ao oferecer ao sistema internacional a cooperação do BNDES. Nossa expertise na luta contra a marginalidade é um trunfo prospectivo quando a Al Qaeda grassa, já, no vazio da miséria do Oriente Médio para instalar a “guerra de religiões”.
*Membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do “senior Board” do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade.
Por Candido Mendes, no jornal Folha de S. Paulo
Se a crise global perdeu todos os seus tons apocalípticos, começam, agora, as diversas respostas contraditórias à reorganização de um mercado financeiro internacional.
Rompemos o Ano-Novo com a recusa da Islândia de pagar aos seus devedores internacionais, e seu presidente veta a lei que o autorizaria, respaldado em 70% de apoio do país.
Cá, às nossas fronteiras, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, toma o caminho oposto e demite o diretor do Banco Central por se recusar à paga prioritária dos débitos externos privados de seu país.
Os resultados financeiros do Federal Reserve afastam a ideia de vez de uma crise estrutural do modelo. E caberá agora, como se anuncia, ao presidente francês Nicolas Sarkozy, no Fórum de Davos, atribuir os colapsos financeiros do último biênio à estrita especulação e ao apetite de ganho dos dirigentes das megaorganizações bancárias. Mas essa abordagem voluntarista não parece campear, como superação da crise, entre confrontos e contradições.
Repetem-se os pronunciamentos da União Europeia de descrédito quanto a uma efetiva regulamentação para os novos fluxos financeiros globais e, especialmente, dentro da autonomia que vem mantendo, para o médio e longo prazo, os “hedge funds”.
De toda forma, são os Brics que avançam na sua dinâmica econômico-financeira, tendo o Brasil como exemplo notório de uma expansão voltada basicamente para o mercado interno, de par com a tônica na atividade estatal em investimentos de base e seu papel crítico para o desenvolvimento sustentado.
A China, no topo dos Brics, significativamente, ao lado do desmesurado mercado próprio, já se transformou, em 2009, na principal potência exportadora mundial.
E a perplexidade dos resultados do encontro de Copenhague mostra, por outro lado, a visão muito mais realista de conciliação do cuidado ecológico com a importância primeira da produção, no seu impacto sobre a geração de empregos e a superação da injustiça social.
E é essa a palavra da União Europeia, na década que começa, de voltar a prioridade da luta contra a miséria como imperativo do mundo global, que sai da crise com os lanhos todos de uma nova tomada de consciência e as ilusões da prosperidade concentracionária das últimas duas décadas.
E o Salão Oval, hoje, em Washington, na visão inovadora de Barack Obama, junta as duas pontas da raiz mesmo da instabilidade mundial destes dias.
Se o terrorismo se instala agora no Iêmen, de pouco adiantam as velhas políticas de segurança sem que o combate à miséria se instale, prioritariamente, como uma política de desenvolvimento, e não pelo despejo de dólares, nem mais como esmola, mas como estrita estratégia de sobrevivência política, mais que econômica.
Independentemente de entrar ou não de maneira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o Brasil delineia uma nova liderança ao oferecer ao sistema internacional a cooperação do BNDES. Nossa expertise na luta contra a marginalidade é um trunfo prospectivo quando a Al Qaeda grassa, já, no vazio da miséria do Oriente Médio para instalar a “guerra de religiões”.
*Membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do “senior Board” do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade.
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