Samantha Maia, de São Paulo
Valor Econômico - 29/01/2010
A crise econômica não foi capaz de segurar a tendência de formalização do emprego no país. O modesto crescimento de 0,7% do emprego em 2009 foi puxado pelas vagas com carteira assinada, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, enquanto o mercado de trabalho contratou 2,3% mais pessoas com registro em carteira em 2009, o emprego informal sofreu uma queda de 3%. Dessa forma, a média da participação da população com carteira assinada no total de ocupados aumentou de 76,7%, em 2008, para 77,9%, em 2009.
"A tendência de melhora do mercado formal no país se firmou em 2009, apesar de ser um ano de crise e do emprego ter crescido com menos vigor", diz o gerente da pesquisa mensal de emprego (PME) do IBGE, Cimar Azeredo. A pesquisa do IBGE mostra que, em dezembro de 2009, a taxa de desemprego ficou em 6,8% da População Economicamente Ativa (PEA), repetindo o resultado do mesmo período de 2008, o menor da série. A taxa média de desemprego, por sua vez, ficou em 8,1% em 2009, pouco acima da taxa de 2008 (7,9%).
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra evolução semelhante na ocupação. Ela cresceu 0,7% no ano - os empregos com carteira assinada no setor privado tiveram alta de 3,6% e os informais caíram 8,9%. Na Região Metropolitana da São Paulo, a queda dos sem carteira chegou a 12%.
O desempenho do emprego formal em 2009 contrariou as expectativas dos analistas em um ano marcado pela crise econômica mundial. "A formalização foi o que mais surpreendeu, pois em ano de economia ruim, o esperado é que os empregos precários cresçam", diz Sérgio Mendonça, coordenador da PED. A força das contratações na construção civil, a demissão de trabalhadores informais em pequenas empresas e uma menor disposição dos desempregados em aceitar ocupações precárias estão entre as explicações possíveis para o fenômeno.
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o aquecimento das contratações no setor da construção civil teve impacto na formalização. "Há um processo de formalização dos empregos na construção após a abertura de capital de diversas empresas acompanhado por um crescimento importante do setor", diz ele. Em 2009, foram criados 177 mil empregos na construção, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), resultado menor apenas que o de 2008 na série, quando o saldo de vagas ficou em 198 mil.
Segundo a PME, em dezembro de 2009, o emprego na construção civil cresceu 5,3% em relação ao ano de 2008. Sob a mesma comparação, na indústria o crescimento foi de 0,4%, e no comércio houve queda de 0,3%.
O emprego informal também é mais sensível a crises, segundo Thaís Marzola Zara, analista da Rosenberg Consultores Associados, o que pode explicar parte da redução desse tipo de ocupação em 2009. "A demissão de trabalhadores sem carteira assinada num momento de crise ocorre primeiro, pois não tem o impacto dos custos que há no mercado formal", diz.
Já para Mendonça, do Dieese, o resultado positivo da formalização pode ter sido garantido em 2009 pelo ciclo anterior de crescimento da economia no país. Ele explica que de alguma forma o brasileiro não aceitou "qualquer coisa" para retornar ao mercado de trabalho. "O avanço do emprego formal garantiu que mais pessoas pudessem contar com o seguro desemprego, e uma situação mais confortável na família também pode ter ajudado o desempregado a esperar por oportunidades de ocupações melhores em vez de ir para empregos informais", diz ele.
Isso pode ser notado nos dados de desemprego da PED. Segundo a pesquisa do Dieese, o número de desempregados cresceu 1,6% no país no ano passado, puxada pela alta de 5,4% do desemprego aberto, ou seja, as pessoas que estão procurando trabalho e não estão exercendo outras atividades. O desemprego oculto por trabalho precário, por sua vez, caiu 6,2%.
Para o ano que vem, os analistas alertam que o crescimento da PEA, que indica um maior número de pessoas procurando emprego, poderá pressionar o índice de desemprego no país. Segundo a analista Thaís Zara, da Rosenberg, a alta de 1,4% da PEA em dezembro sobre novembro do ano passado é um primeiro sinal de que a recuperação da economia já anima as pessoas a voltarem a buscar trabalho. Em novembro, a alta da PEA foi de 0,4% sobre outubro.
Na mesma linha, Romão, da LCA, projeta uma taxa média de desemprego de 7,8% em 2010, resultado que só não deve ser melhor por conta do crescimento da PEA. "A percepção de aumento da empregabilidade já atrai pessoas que tinham desistido de procurar emprego", diz ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário