Desde que foi reeleito em 2006, o presidente Lula tem trabalhado para transformar a sua sucessão, que acontecerá em outubro deste ano, numa imensa enquete nacional sobre o seu governo. O sonho de Lula, e toda a energia política que ele gasta, é para que as eleições presidenciais ocorram apenas entre o seu candidato e o nome que representa a oposição, de modo a que o eleitor se veja unicamente entre duas opções: a que ratificará seu governo e a que o rechaçará, sem meios termos.
As pesquisas eleitorais apontam, de fato, uma concentração das intenções de voto nos nomes da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a aposta governista, e do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o candidato oposicionista. Ainda que esse dado reforce o caráter plebiscitário desejado por Lula, o fato é que, mesmo que com chances mínimas, haverá nomes na disputa eleitoral além de Dilma e Serra.
O engenheiro civil Martiniano Cavalcanti, 51 anos, é o mais novo nome colocado nessa disputa. Na quinta-feira (21), os principais nomes da Executiva do PSol, como a presidente do partido, Heloisa Helena, e a deputada Luciana Genro (RS), lançaram Martiniano como pré-candidato à Presidência pelo partido. Esquerdista radical, deficiente físico (não tem um braço, perdido em um acidente de motocicleta), Martiniano é do movimento Terra, Trabalho e Liberdade, que defende o direito à moradia e a reforma agrária.
O Psol tomará a decisão final sobre candidatura presidencial no início de abril. Só o que está decidido por enquanto é que o partido terá seu próprio nome na disputa. Até o início do ano, o Psol caminhava para apoiar a candidatura de Marina Silva, do PV. Recuou diante da aproximação do Partido Verde com o PSDB e o DEM, os partidos que, na avaliação do Psol, formam a oposição conservadora ao governo. “Por princípio, o Psol não pode apoiar alianças com partidos de direita”, diz o presidente do diretório do partido em Alagoas, Mário Agra. A aliança com Marina era defendida principalmente por Heloisa Helena, muito amiga da senadora acreana. Mas, por coerência com seu discurso, o Psol decidiu no início da semana que não poderia se aproximar do PSDB e do DEM. Ainda que o PV tenha Marina como candidata, em alguns estados, como o Rio de Janeiro com Fernando Gabeira, o partido se aliará aos tucanos e ao Democratas.
Embora tenha apoios de peso, Martiniano não é o único pré-candidato do Psol. Também pleiteiam a vaga os ex-deputados federais Plínio de Arruda Sampaio (SP) e João Batista Babá (PA). “Vamos buscar um acerto que possa evitar a disputa. Se não, em abril, os três disputarão e teremos nosso nome na sucessão presidencial”, diz Mário Agra.
Zé Maria e Ruy Pimenta
O PSTU, que em 2006 apoiou a candidatura à Presidência de Heloisa Helena pelo Psol, também terá seu candidato. Volta à disputa José Maria de Almeida, velho conhecido de outras disputas presidenciais. Desde novembro, o partido fez reuniões de pré-lançamento da candidatura que, segundo o site do PSTU, reuniram duas mil pessoas. José Maria diz que sua candidatura é justamente uma alternativa de fato à falsa dicotomia pretendida por Lula entre seu governo e a oposição representada pelo PSDB e pelo DEM.
Acostumado a bater pesado, Ruy Pimenta, do PCO, diz que é tudo jogo de cena. Em artigo recente, ele diz que o PSTU formou uma central sindical com o Psol, que José Maria lança a sua candidatura com o mesmo intuito da candidatura de Marina, apenas para forçar um segundo turno entre Dilma e Serra. Ele descarta tanto Marina como Heloisa Helena como alternativas reais de esquerda. “Nenhuma das duas senadoras eleitas pelo PT é ou foi em momento nenhum uma alternativa de esquerda, que dirá de classe. A pré-candidatura do PSTU, por sua vez, também não cumpre absolutamente nenhum papel classista na eleição. É, na realidade, o oposto. Sua tarefa é encobrir o apoio do PSTU a este bloco, cuja política o coloca sempre a serviço da direita”, dispara. “É preciso, tanto nas eleições, como principalmente fora delas, uma alternativa que seja de classe e revolucionária”.
Jogo confuso
Fora do quadro da esquerda nanica, as opções eleitorais ainda não estão claras. Mesmo a candidatura de Marina Silva ainda não parece totalmente consolidada, pela dificuldade que demonstra em agregar apoios. Sozinho, o PV tem pouco tempo de televisão. Os verdes apostam na possibilidade de agregação a partir de uma alavancagem dos números de Marina nas pesquisas. Sonham que isso possa acontecer após o próximo lance na disputa. Os próximos programas eleitorais do PV, que irão ao ar a partir de 10 de fevereiro, serão dirigidos por Fernando Meirelles, o badalado diretor de Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio sobre a Cegueira.
Outra opção, o deputado Ciro Gomes, tem testado os nervos dos líderes do seu partido, o PSB. Apesar das reclamações de socialistas como o senador Renato Casagrande (ES), Ciro mantém uma postura errática com relação à sua candidatura. Ora parece que assumirá a candidatura, até acentuando algumas críticas ao governo, ora desaparece completamente por semanas.
Espectador até o momento da disputa eleitoral, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que já apoiou Ciro Gomes, julga que o quadro eleitoral ainda está bastante confuso. Por isso, tem orientado o PTB a não precipitar a sua decisão. Na semana passada, ele até estimulou o lançamento de uma pré-candidatura no partido, o advogado do Rio Grande do Norte, Geraldo Forte. As chances de a pré-candidatura de Forte prosperarem são praticamente nulas. Tanto que, depois de receber Forte e a sua pretensão, Roberto Jefferson comentou com colegas do partido: “É mais um desses maluquinhos que aparecem de vez em quando”.
Na verdade, o que Roberto Jefferson deseja é não precipitar no partido uma decisão sobre quem apoiará. O PTB não é uma força desprezível, e hoje tem um pé em cada uma das principais candidaturas presidenciais. O próprio Jefferson, que denunciou a existência do mensalão, é um adversário do governo. Em estados como São Paulo e Goiás, o partido é francamente ligado aos tucanos. Em outros, como o Distrito Federal e Pernambuco, explicitamente governista.
Num quadro em que Serra às vezes hesita, Dilma tem dificuldades em decolar e fechar suas alianças (com as discussões em torno do nome do vice, do PMDB), Marina não consegue ainda aparecer como alternativa viável e Ciro Gomes não deixa claro o que fará, Jefferson acha melhor esperar para poder fazer a aposta certa.
Fonte: Congresso em Foco
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