Irmã de Daniel Dantas é indiciada por corrupção ativa
Fausto Macedo
O Estado de S. Paulo - 28/01/2010
No mesmo dia em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu liminarmente a Operação Satiagraha, a Polícia Federal indiciou por corrupção ativa a empresária Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity e ex-sócia de Verônica Serra, filha de José Serra(acréscimo do Terror).
A PF atribui a Verônica suposto envolvimento na tentativa de suborno do delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves, a quem Dantas teria mandado oferecer US$ 1 milhão em troca do arquivamento da Satiagraha ? inquérito sobre evasão e lavagem de dinheiro.
O indiciamento ocorreu em 18 de dezembro, data em que o ministro Esteves Lima, do STJ, paralisou a Satiagraha, medida que alcança ações penais e inquéritos relativos à polêmica operação até julgamento de mérito do habeas corpus por meio do qual a defesa de Dantas pede anulação de todos os seus feitos alegando suspeição do juiz federal Fausto Martin De Sanctis.
Verônica ocupa função relevante no Opportunity. Ela já havia sido indiciada no inquérito principal da Satiagraha, no qual a PF lhe imputou seis crimes: lavagem, evasão de divisas, sonegação fiscal, quadrilha, gestão fraudulenta de instituição financeira e empréstimo vedado.
Além da irmã de Dantas foram enquadrados, também por corrupção ativa, os advogados Wilson Mirza e Pedro Rotta ? ex-procurador da República e ex-desembargador federal. A eles a PF atribui papel de intermediários na aproximação do lobista Humberto Braz, suposto emissário de Dantas que teria sido encarregado de levar a oferta ao delegado. O ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos foi indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil para defender Mirza nos autos da PF.
O inquérito que cita Verônica e os advogados é desdobramento de um capítulo da Satiagraha e complementa ação judicial que culminou com a condenação de Dantas a 10 anos de prisão por corrupção ativa. O banqueiro nega a trama. Ele recorre em liberdade.
O delegado Rodrigo Sanfurgo de Carvalho, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF, presidiu o inquérito contra Verônica. Em relatório final de quase 200 páginas ele determinou o indiciamento da irmã do banqueiro e dos advogados com base em "cruzamento de dados, compartilhamento de informações, ação controlada, relatório de interceptações e depoimentos".
O inquérito foi remetido à Justiça Federal, mas agora está parado porque atingido por aquela ordem do STJ.
Os indiciamentos ocorreram indiretamente, sem a presença dos investigados. Apenas Pedro Rotta depôs. "Não tive conhecimento e não tive nenhum envolvimento em tratativas", afirmou. "Nada sobre suborno foi levado ao meu conhecimento. Eu expliquei ao delegado (Rodrigo Carvalho) que fui consultado para localizar expediente sobre aqueles fatos (Satiagraha). Mas não localizei processo nenhum. Foi essa a minha participação, nada mais. Nunca estive com o delegado Vitor Hugo."
O advogado Wilson Mirza, estabelecido no Rio, se disse perplexo e revelou indignação. "É realmente desconcertante. Eu jamais participaria de ato criminoso. Minha história na advocacia tem mais de 50 anos de retidão e respeito à Justiça. Quando esses supostos encontros com o delegado da PF ocorreram eu nem estava no Brasil, tinha viajado para a França. Tenho comprovação do que digo. Eles me indiciaram sem que eu fosse intimado."
Nenhum comentário:
Postar um comentário