O Globo - 27/01/2010
Às vésperas de embarcar para Davos, onde participará do Fórum Econômico Mundial, o presidente Lula disse ontem, ao discursar no Fórum Social Mundial — contraponto do evento econômico —, que o encontro, na Suíça, “não tem o mesmo glamour de 2003”. O presidente repetirá o gesto de sete anos atrás, saindo do fórum de Porto Alegre e embarcando para o evento em Davos, onde vai receber, na quinta-feira, o prêmio de estadista do ano.
— Estou aqui e daqui vou a Davos, como em 2003. Tenho consciência de que Davos não tem mais o glamour que tinha em 2003. O sistema acabou de provar, com a maior crise financeira.
Mas eu vou lá com orgulho de quem tem o que dizer.
Vou lá dizer que não devemos mais ao FMI. Mas eles nos devem US$ 14 milhões.
Depois de receber várias cobranças sobre a condução de seu governo por parte de integrantes do FSM, Lula fez uma espécie de balanço de sua administração.
Ele disse que, em sete anos, descobriu que há uma diferença entre o que o governante sonha e a realidade. Segundo ele, essa mensagem deve servir para governantes que virão depois, inclusive em outros países.
Lula disse que, em 2011, voltará a participar do FSM: — No ano que vem, cá estarei novamente. Não mais como presidente, mas como ex. Mas, no meu lugar, estará uma pessoa talvez até mais capacitada e com o mesmo compromisso — disse, sem citar nomes.
Sua afirmação foi recebida pela plateia com aplausos e gritos de “Dilma, Dilma”. A ministra não subiu ao palco, assim como nenhum dos outros cinco ministros que acompanharam Lula. Cerca de 8 mil pessoas estavam no ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre.
Lula, que foi evasivo ao responder às principais cobranças feitas pelos integrantes do fórum, sugeriu que o FSM não deveria “acabar com um catatau de documentos”, mas com mais propostas concretas.
Os participantes do diálogo fizeram várias cobranças. O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva, pontuou medidas que ainda dependem de posicionamento do governo, como a jornada de 40 horas semanais, a ampliação da reforma agrária e a PEC do trabalho escravo. A uruguaia Lilain Celiberti, da Articulação Marcosul, cobrou maior envolvimento do governo brasileiro nas questões de direitos humanos e contra a criminalização dos movimentos sociais.
Durante o dia, no FSM, intelectuais e ativistas discutiram as soluções para os problemas ambientais do país e indicaram que o desenvolvimento sustentável — já defendido por eles — não funciona mais para solucionar o impasse ambiental. Para as organizações, o futuro aponta para o “ecofascismo”, sistema onde só sobreviverão os mais ricos.
— Já não há mais tempo para os planos de desenvolvimento sustentável que, aliás, defendemos por mais de 20 anos. Agora a saída é mudar o sistema. Estamos em uma crise civilizatória — disse Nicola Bullard, do conselho internacional do FSM.
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