Autor(es): Sérgio Bueno, de Porto Alegre
Valor Econômico - 27/01/2010
Ao contrário de 2005, quando chegou a ser vaiado por participantes do Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre, ontem à noite o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido como herói pelos participantes do evento que reúne representantes de movimentos sociais e organizações de esquerda de vários países. No palco dividido apenas com um dos coordenadores do evento, Cândido Grzybowski, o presidente nacional da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, e a feminista uruguaia Lilian Celiberti, teve espaço para exercitar o espírito de "estadista global" - prêmio que receberá sexta-feira em Davos - e ao mesmo tempo turbinar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua própria sucessão.
Embora o FSM 2011 esteja programado para Dacar, Lula afirmou que irá ao evento como ex-presidente e que em seu lugar estará "uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao país as coisas que têm que ser feitas daqui para a frente". Durante o discurso que durou quase 50 minutos, ele chegou a referir-se à ministra como "Dilminha" para perguntar quanto o país terá de investir para atingir as metas de redução de emissões propostas na conferência sobre mudanças climáticas da ONU em Copenhague.
Em resposta a uma pergunta de Grzybowski sobre o que o Brasil faria para evitar a "ocupação militar" do Haiti pelos Estados Unidos, Lula cobrou dos organizadores do FSM que o evento deve tirar a "decisão" de dedicar "um ano de solidariedade" às vítimas do terremoto.
Pela manhã, um debate sobre conjuntura econômica reuniu o economista Paul Singer, secretário nacional de economia solidária do Ministério do Trabalho, o geógrafo britânico David Harvey, professor da City University, de Nova York, e a cientista política Susan George, presidente honorária da Associação para a Taxação das Transações Financeiras (Attac) na França.
Autor do livro "A condição pós-moderna", no qual aborda as formas de acumulação de capital e as práticas culturais da chamada "pós-modernidade", Harvey disse que o crescimento da economia a uma taxa mínima exigida de 3% ao ano gera uma situação "fictícia" em que o capital em circulação supera em muito o valor dos ativos reais. O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2007 foi só um exemplo.
O problema, de acordo com ele, é que depois da explosão da crise financeira global a sociedade americana está tentando reconstruir essa "ficção", que está sendo "replicada" na China. "Em pouco tempo a bolha vai estourar de novo", disse o professor, que calcula em US$ 3 trilhões a necessidade anual de investimentos mundiais, em 2030, para se manter o ritmo de crescimento de 3% ao ano. Segundo ele, essas perspectivas exigem a transição para uma economia não capitalista, sem os erros das experiências malsucedidas do socialismo real.
Para Susan, da Attac, além de novas crises financeiras, a humanidade está prestes a enfrentar catástrofes ambientais com conflitos por água e alimentos e a geração de milhões de "refugiados ecológicos" pelo planeta. Ela acredita que o mundo está chegando a um ponto de degradação ambiental do qual não haverá retorno.
Uma saída, conforme a cientista social, é substituir o "círculo financeiro" pelo ambiental como mais importante na organização da sociedade. Os bancos, por exemplo, devem ser obrigados pelos governos a investir em tecnologias verdes, energias não poluentes e na produção de mais alimentos pela agricultura ecológica: "Dinheiro não é problema; o problema é a política."
Na opinião do economista Paul Singer, porém, apesar das "angústias ambientais" de longo prazo, no curto prazo a economia precisa crescer para enfrentar os problemas sociais, reduzir o desemprego e fortalecer os sindicatos. "Identificar o crescimento com a degradação é um erro porque é possível crescer, e muito, até recuperando o meio ambiente", afirmou.
Singer deu ênfase à economia solidária como alternativa de geração de renda por meio de associações e cooperativas de trabalhadores: "A economia solidária não tem limites; pode produzir de tomates a aviões desde que haja organização."
De acordo com ele, a Secretaria Nacional de Economia Solidária deve concluir em abril um novo censo do setor no país. Ele acredita em um crescimento de 40% a 50% em relação aos números apurados em 2007, quando o último levantamento - feito em 51% dos municípios brasileiros - apontou que esses empreendimentos geraram uma receita bruta de R$ 8 bilhões para 1,7 milhão de pessoas. Neste ano a pesquisa também deverá ser mais abrangente, alcançando de 60% a 70% das cidades do país.
Ao contrário de 2005, quando chegou a ser vaiado por participantes do Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre, ontem à noite o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido como herói pelos participantes do evento que reúne representantes de movimentos sociais e organizações de esquerda de vários países. No palco dividido apenas com um dos coordenadores do evento, Cândido Grzybowski, o presidente nacional da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, e a feminista uruguaia Lilian Celiberti, teve espaço para exercitar o espírito de "estadista global" - prêmio que receberá sexta-feira em Davos - e ao mesmo tempo turbinar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua própria sucessão.
Embora o FSM 2011 esteja programado para Dacar, Lula afirmou que irá ao evento como ex-presidente e que em seu lugar estará "uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao país as coisas que têm que ser feitas daqui para a frente". Durante o discurso que durou quase 50 minutos, ele chegou a referir-se à ministra como "Dilminha" para perguntar quanto o país terá de investir para atingir as metas de redução de emissões propostas na conferência sobre mudanças climáticas da ONU em Copenhague.
Em resposta a uma pergunta de Grzybowski sobre o que o Brasil faria para evitar a "ocupação militar" do Haiti pelos Estados Unidos, Lula cobrou dos organizadores do FSM que o evento deve tirar a "decisão" de dedicar "um ano de solidariedade" às vítimas do terremoto.
Pela manhã, um debate sobre conjuntura econômica reuniu o economista Paul Singer, secretário nacional de economia solidária do Ministério do Trabalho, o geógrafo britânico David Harvey, professor da City University, de Nova York, e a cientista política Susan George, presidente honorária da Associação para a Taxação das Transações Financeiras (Attac) na França.
Autor do livro "A condição pós-moderna", no qual aborda as formas de acumulação de capital e as práticas culturais da chamada "pós-modernidade", Harvey disse que o crescimento da economia a uma taxa mínima exigida de 3% ao ano gera uma situação "fictícia" em que o capital em circulação supera em muito o valor dos ativos reais. O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2007 foi só um exemplo.
O problema, de acordo com ele, é que depois da explosão da crise financeira global a sociedade americana está tentando reconstruir essa "ficção", que está sendo "replicada" na China. "Em pouco tempo a bolha vai estourar de novo", disse o professor, que calcula em US$ 3 trilhões a necessidade anual de investimentos mundiais, em 2030, para se manter o ritmo de crescimento de 3% ao ano. Segundo ele, essas perspectivas exigem a transição para uma economia não capitalista, sem os erros das experiências malsucedidas do socialismo real.
Para Susan, da Attac, além de novas crises financeiras, a humanidade está prestes a enfrentar catástrofes ambientais com conflitos por água e alimentos e a geração de milhões de "refugiados ecológicos" pelo planeta. Ela acredita que o mundo está chegando a um ponto de degradação ambiental do qual não haverá retorno.
Uma saída, conforme a cientista social, é substituir o "círculo financeiro" pelo ambiental como mais importante na organização da sociedade. Os bancos, por exemplo, devem ser obrigados pelos governos a investir em tecnologias verdes, energias não poluentes e na produção de mais alimentos pela agricultura ecológica: "Dinheiro não é problema; o problema é a política."
Na opinião do economista Paul Singer, porém, apesar das "angústias ambientais" de longo prazo, no curto prazo a economia precisa crescer para enfrentar os problemas sociais, reduzir o desemprego e fortalecer os sindicatos. "Identificar o crescimento com a degradação é um erro porque é possível crescer, e muito, até recuperando o meio ambiente", afirmou.
Singer deu ênfase à economia solidária como alternativa de geração de renda por meio de associações e cooperativas de trabalhadores: "A economia solidária não tem limites; pode produzir de tomates a aviões desde que haja organização."
De acordo com ele, a Secretaria Nacional de Economia Solidária deve concluir em abril um novo censo do setor no país. Ele acredita em um crescimento de 40% a 50% em relação aos números apurados em 2007, quando o último levantamento - feito em 51% dos municípios brasileiros - apontou que esses empreendimentos geraram uma receita bruta de R$ 8 bilhões para 1,7 milhão de pessoas. Neste ano a pesquisa também deverá ser mais abrangente, alcançando de 60% a 70% das cidades do país.
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