Não se pode
questionar a formação médica espanhola, afirma instituição. Programa 'Mais
Médicos' abre vagas para estrangeiros em áreas críticas.
17/07/2013
Do G1, em São Paulo
Os médicos
espanhóis estão aptos a trabalhar no Brasil e o pagamento mensal de R$ 10 mil
previsto no programa "Mais Médicos" é satisfatório, na avaliação de
Fernando Rivas, dirigente responsável pela área de promoção do emprego da
Organização Médica Colegial (OMC), órgão máximo de representação desses
profissionais na Espanha.
O valor proposto
pelo governo federal para atrair médicos a localidades no interior e nas
periferias das grandes cidades foi criticado por médicos brasileiros . Para
Rivas, no entanto, trata-se de uma "boa oferta" .
"Tal como está
a situação da Espanha atualmente, onde os salários têm sido reduzidos entre 20%
e 30% nos últimos anos e onde persistem os cortes [de verbas] na saúde, a oferta
de R$ 10 mil mensais, mais alimentação e alojamento, é uma boa oferta",
diz.
A previsão do
"Mais Médicos" é que haja, além do salário mensal de R$ 10 mil, uma
ajuda de custo inicial de R$ 10 mil a R$ 30 mil aos selecionados para cobrir
gastos de instalação no novo local de trabalho.
Rivas também rebate
as dúvidas levantadas sobre o preparo dos profissionais estrangeiros que virão
ao país.
"Creio que não
se pode questionar a formação médica espanhola. O nível de nossos médicos está
mais do que testado, e certamente aprovado", afirma.
Em meio a uma grave
crise econômica, a Espanha enfrenta cifras recordes de desemprego entre
médicos, diz o dirigente da OMC. "No mês de maio, o número de
desempregados era de 3.395", informa. A quantidade é ainda maior se forem
incluídos os profissionais que deixaram o país em busca de trabalho - só em
2012, 2.405 médicos foram trabalhar no exterior, e em 2011, foram 1.378,
ressalta Rivas. "É evidente que há uma fuga notável de profissionais, e
isso parece que não vai mudar nos próximos anos."
Diferença de idiomas
A diferença de
idiomas também não deve impedir a ida de médicos espanhóis ao Brasil, de acordo
com Rivas. "Mais difícil é o alemão, e temos muitos médicos saindo [da
Espanha] rumo às terras germânicas", afirma. Ele considera que o português
não é uma língua difícil de ser aprendida. "Há anos que médicos de nosso
país migram para Portugal, e nunca tivemos informação de que a língua
portuguesa tenha sido um problema."
Segundo Rivas, não
é uma questão de dinheiro, ainda que "seja evidente que, sem uma oferta
atraente, um médico não vá sair da Espanha". O principal, na opinião dele,
é conhecer as condições de trabalho nos municípios que vão requisitar médicos
pelo programa e assegurar que o profissional espanhol seja tratado do mesmo
modo que o brasileiro, garantindo o exercício da medicina.
É preciso que,
"no caso de algum querer ficar [após o fim do programa], se possam
articular os mecanismos de revalidação de diploma de acordo com o nível de
formação que os médicos da Espanha possuem", diz o dirigente da
organização.
Não são a solução
Os médicos espanhós
"não são a solução do problema" da saúde no Brasil, diz Rivas. Ele
pondera que o "Mais Médicos" deve se configurar como um programa
global, que inclua medidas profundas a médio e longo prazo, para que haja
melhora real da saúde brasileira. "Isso não exclui o fato de que o
programa deve levar os médicos com todas as condições de segurança e
transparência, para que os estrangeiros façam a escolha com consciência",
ressalta.
O fato de o
"Mais Médicos" selecionar profissionais para atuação na rede de
atenção básica é mais um motivo para não duvidar da capacidade dos espanhóis
que vão clinicar no Brasil, na opinião de Rivas. "Não se deve supor nenhum
problema para um médico espanhol trabalhar nestas condições."
'Mais Médicos'
A previsão do
Ministério da Saúde é que até 18 de setembro todos os profissionais dentro do
"Mais Médicos" estejam atuando no país. O programa permite a vinda de
profissionais estrangeiros e de brasileiros que se formaram no exterior sem a
necessidade de revalidação do diploma.
A medida provisória
também institui a abertura de 11.447 vagas em faculdades de medicina até 2017
e, a partir de 2015, aumenta em dois anos a grade curricular das faculdades
públicas e particulares de medicina , com formação voltada à atenção básica (1º
ano) e setores de urgência e emergência (2º ano).
Neste período, os
alunos terão uma autorização temporária para o exercício da medicina, e
ganharão uma bolsa para atender no SUS. Cada um dos médicos vai receber uma
bolsa federal de R$ 10 mil, além de dispor de uma ajuda de custo inicial que
pode variar de R$ 10 mil a R$ 30 mil. O programa tem investimento de R$ 2,8
bilhões.
Segundo o governo,
a prioridade será preencher as vagas do programa com profissionais brasileiros.
Os postos de trabalho remanescentes serão completados com profissionais
estrangeiros ou brasileiros formados no exterior.
"Não se pode
obrigar um médico que quer morar na capital a ir para o interior. O
profissional de saúde tem o direito de trabalhar onde quiser", afirmou a
presidente Dilma Rousseff durante o lançamento, ao explicar porque optou por
chamar profissionais estrangeiros, se necessário. Segundo ela, a iniciativa
"se trata de garantir que todos os brasileiros tenham acesso a um
médico".
O ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, defendeu que a vinda de profissionais de saúde
formados no exterior não pode mais ser um "tabu" . Ele destacou que,
na Inglaterra, 37% dos médicos são formados fora, e que nos EUA são 25%,
enquanto no Brasil o índice é de 1,79%.
Regras
Só poderão
participar do "Mais Médicos" estrangeiros que tenham estudado em
faculdades de medicina com grade curricular equivalente à brasileira,
proficientes na língua portuguesa, que tenham recebido de seu país de origem a
autorização para livre exercício da medicina e que sejam de nações onde a
proporção de médicos para cada grupo de mil habitantes é de, pelo menos, 1,8
médicos para cada mil habitantes.
Isso exclui países
como Bolívia, Paraguai e Peru, que estão abaixo. Espanha, Portugal, Cuba,
Argentina e Uruguai são exemplos de países que superam esse índice.
Todos os
profissionais vindos de outros países serão acompanhados por uma universidade
federal. Os municípios inscritos no programa terão de oferecer moradia e
alimentação aos profissionais, além de ter de acessar recursos do Ministério da
Saúde para construção, reforma e ampliação das unidades básicas.
Os profissionais de
outros países e brasileiros formados médicos em universidades estrangeiras
ficarão isentos de realizar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas
Médicos, o Revalida, ao optarem pelo registro temporário de médicos, que será
concedido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
No caso dos
estrangeiros, será obrigatório que eles participem de um curso de três semanas,
em uma universidade federal que tenha aderido ao programa, onde serão avaliadas
por professores as capacidades técnica e de comunicação. Sendo aprovado, eles
serão inscritos no Conselho Regional de Medicina do estado em que vão
trabalhar.
Prazos
A escolha das vagas
será dividida em duas fases. A primeira contará apenas com médicos brasileiros,
e a segunda com os profissionais estrangeiros e com brasileiros que se formaram
no exterior.
Segundo o governo,
em 26 de julho serão publicadas as vagas existentes nas cidades brasileiras.
Até 28 do mesmo mês, os médicos brasileiros inscritos no programa poderão
escolher os municípios.
Em 1º de agosto
será divulgada a relação de profissionais brasileiros, que terão de homologar a
participação e assinar um termo de compromisso até 3 de agosto. Dois dias
depois, as escolhas serão validadas no Diário Oficial da União e os médicos
escolhidos começam a atuar em 2 de setembro.
As vagas
remanescentes serão divulgadas em 6 de agosto. O processo de escolha nesta
segunda etapa vai até 8 do mesmo mês e os resultados serão publicados em 13 de
agosto. O início das atividades está previsto para 18 de setembro.
Ciclo de atenção
básica
A medida provisória
também aumenta a carga horária dos cursos de medicina da rede pública e privada
do país. A partir de janeiro de 2015, será incluído um ciclo de dois anos na
grade curricular voltado para atuação na atenção básica e nos setores de
urgência e emergência.
Esse ciclo de
formação será feito no Sistema Único de Saúde (SUS) e os alunos vão receber uma
bolsa custeada pelo governo federal, além de uma autorização provisória para
exercício da medicina. As instituições de ensino terão de oferecer
acompanhamento e supervisão nas especialidades.
Outra iniciativa é
a criação de 11.447 vagas de graduação em medicina até 2017, em 117 municípios.
De acordo com o governo, a expansão desses postos de ensino permitirá diminuir
a carência de médicos em regiões mais carentes.
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