O título deste
texto não é uma piada, nem uma projeção, nem mesmo a expressão de um desejo. É
apenas a constatação de um fato: os últimos números publicados para o Índice de
Atividade do Banco Central, o IBC-BR, que pode ser considerado uma aproximação
em base mensal para o PIB trimestral do IBGE, indicam claramente que no segundo
trimestre de 2013 a economia brasileira estava crescendo ao ritmo de 4% ao ano.
Mas espere um
momento! Não foram esses números que repercutiram de forma tão negativa na
imprensa, sugerindo até que estamos novamente a caminho da recessão? Basta
olhar os títulos de algumas das matérias publicadas: Indicador do BC mostra
país na rota da recessão; Economia tem maior retração desde 2008; Cada vez mais
difícil decolar; Bancos oficiais já prevêem crescimento abaixo de 2%; IBC-BR
reforça sinais da lenta perda de gás da economia em 2013; Pibinho de inverno.
É no mínimo
temerário extrair qualquer sinal de direção de movimento com base na observação
de um único mês
Na realidade, a
única coisa que fica clara aqui é que a mídia especializada e a grande maioria
dos analistas da economia parecem sofrer atualmente de um pessimismo obsessivo.
De fato a leitura que foi feita dos números do BC configura um caso clássico do
que a psicologia cognitiva denomina de viés de confirmação (confirmation bias),
que ocorre quando as pessoas só são sensibilizadas por informações que pareçam
confirmar suas crenças ou hipóteses, ignorando qualquer evidência em sentido
contrário.
Todo esse
pessimismo foi produzido apenas pela observação de que a variação percentual de
maio sobre abril do IBC-BR com ajuste sazonal foi de menos 1,4%. Acontece,
porém, que essa série de variação mensal tem muito ruído. É no mínimo temerário
extrair qualquer sinal de direção de movimento com base na observação de um
único mês. Além disso, quando usamos dados mensais a introdução do ajustamento
sazonal não aumenta muito o poder informativo de uma observação isolada. No
dado mensal o padrão de sazonalidade pode variar muito ao longo do tempo em
resposta a uma serie de fatores, como feriados, greves, paralisações ou
mudanças institucionais. Sabemos que não existe técnica perfeita de ajuste
sazonal, mas com dados mensais as dificuldades ficam ainda maiores.
Se quisermos ter
uma ideia precisa do que está acontecendo com uma economia, o caminho mais
seguro é trabalhar com variações em doze meses. Mesmo assim uma observação
mensal isolada tem que ser vista com cautela. Por exemplo, a variação em doze
meses do IBC-BR até maio de 2013 (portanto sobre maio de 2012) foi de 2,28%,
mostrando sem dúvida uma desaceleração importante em relação à variação em doze
meses de 7,3% até abril. Note-se, porém, que esse excepcional resultado de
abril foi simplesmente ignorado tanto pela imprensa como pela maioria dos
analistas de economia. Por outro lado, a variação em doze meses de maio
significou aceleração em relação às variações de 1,16% até março e de 0,44% até
fevereiro. Que direção de movimento estaria sendo sinalizada aqui?
Existe amplo
consenso de que a forma mais segura para se analisar o movimento do PIB é usar
dados trimestrais. Não é por outra razão que contas nacionais em toda parte são
sempre elaboradas em base trimestral, como acontece também com o nosso IBGE. O
que então pode ser concluído quando os dados do IBC-BR são transformados por
média para uma base trimestral? Se compararmos o trimestre composto pelos meses
de março a maio de 2013 com o mesmo período de 2012 obtemos uma variação de
3,74%. Podemos notar também que ao longo do ano essa variação em doze meses
calculada para grupos sucessivos de três meses só aumentou: 1,55% até janeiro.
1,71% até fevereiro, 2,86% até março, 3,5% até abril e 3,74% até maio.
Para calcular a
variação em doze meses do segundo trimestre de 2013 precisaremos ter também uma
estimativa para o IBC-BR de junho. Para ser bem conservador, vamos admitir que
o número de junho fique 2,5% abaixo do número de maio, repetindo um
comportamento observado em 2012. Isto significa um número de junho 5,6% abaixo
do de abril. Nesse caso a variação em doze meses para o PIB do segundo
trimestre será de 3,95%. Ou seja, parece grande a probabilidade de que a taxa
de crescimento em quatro trimestres do PIB do segundo trimestre fique muito
próxima de 4%.
Se isso for também
confirmado pelo IBGE (e é difícil imaginar porque não seria), poderemos estar
falando de uma variação trimestral na serie com ajuste sazonal do PIB superior
a 1%, talvez até próxima de 1,5%. Vai ser bem mais difícil sustentar o
pessimismo quando esses números forem publicados em agosto. Ainda assim, é
importante insistir de imediato numa leitura mais precisa dos dados da
economia. Afinal ninguém pode razoavelmente desejar que o pessimismo de hoje
venha a afetar negativamente decisões empresariais de produzir e investir,
comprometendo nosso crescimento futuro.
Francisco Lafaiete
Lopes – PhD por Harvard, sócio da consultoria Macrométrica e ex-presidente do
Banco Central (BC).Conversa Afiada.
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