O governo da
presidente Dilma Rousseff enfrenta momentos difíceis, definidos pelo baixo
crescimento com aumento da inflação e pelas manifestações da classe média
contra a classe política, que colocaram em cheque seu governo e causaram queda
da sua popularidade.
Diante desse
quadro, a presidente reagiu bem. Entre outras medidas, propôs um plebiscito
para saber se o povo quer que o financiamento de campanhas eleitorais seja
público ou privado e se quer manter o voto proporcional ou mudá-lo para
distrital ou misto. Essa é uma resposta direta ao centro das manifestações populares.
Uma assembleia
constituinte convocada exclusivamente para emendar a Constituição nessas
questões é uma boa iniciativa. Há muito são discutidas pelos políticos, mas
eles não se mostram capazes de respondê-las. Não é surpreendente que os
conservadores e os políticos a tenham rejeitado. Para os conservadores é uma
ameaça à sua capacidade de "comprar" os políticos ao financiá-los,
para os políticos, uma mudança no jogo eleitoral que poderá afetá-los.
Quando cai a
popularidade de um presidente, cai também o seu poder. Não o seu poder formal,
mas seu poder efetivo, sua liderança. Parte dessa popularidade será recuperada,
porque os ativos da presidente --sua firmeza, seus padrões éticos, seu bom
conhecimento de economia e dos problemas da infraestrutura brasileira--
continuam a jogar a seu favor, mas agora parecem insuficientes para ela superar
a crise política e os resultados econômicos medíocres.
Esses resultados
não poderiam ser diferentes, dado o fato de que herdou uma taxa de câmbio
altamente sobreapreciada, incompatível com a retomada do crescimento.
No primeiro ano de
governo, a presidente tentou enfrentar esse problema, mas de maneira
insuficiente. Levou a taxa de câmbio de R$ 1,65 para R$ 2,00 por dólar, quando
a taxa de câmbio "necessária" (aquela que garante competitividade
para as empresas industriais competentes) é cerca de R$ 2,75 por dólar.
Não foi além na
depreciação porque tanto os economistas identificados com a ortodoxia liberal
quanto os identificados com o keynesianismo vulgar, que, juntos, dominam
amplamente a definição de políticas econômicas no Brasil, embora se critiquem
mutuamente, deram-se por satisfeitos com a depreciação alcançada. Os dois
apoiam a "preferência pelo consumo imediato" e o baixo nível de
investimento que resultam de uma taxa de câmbio apreciada.
Dado esse acordo,
no primeiro ano de seu governo não havia condições para a presidente fazer a
mudança de matriz macroeconômica necessária para a retomada do desenvolvimento;
muito menos há agora.
Que fazer então? De
imediato, a melhor coisa é retomar o ajuste fiscal. O desajuste fiscal não é o
problema básico do Brasil, mas a política fiscal é o único espaço de política
econômica que está hoje aberto para o governo.
E lutar pelo
plebiscito. A reforma política não resolverá a desmoralização a que foi sujeita
a política brasileira nos últimos dez anos. Mas é uma resposta objetiva às
manifestações. E uma tentativa séria de aperfeiçoar o sistema eleitoral.
Luiz Carlos Bresser Pereira
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