sábado, 20 de julho de 2013

Seriam os políticos uns "sem noção"?


Lula Miranda 



Cada semana é uma nova manchete de capa denunciando um escândalo de corrupção. Mas por que os pecados de uns são mais sujos que os de outros?



O exercício pleno da política é essencial para a evolução da sociedade, para o desenvolvimento dos países – e para o bem-estar da humanidade, digamos assim. A boa Política pode nos conduzir a um desenvolvimento com mais distribuição de renda e justiça social. Temos que valorizar e moralizar a Política, não condená-la, vilipendiá-la ou detratá-la. Vamos colocá-la aqui assim, em maiúscula, para distingui-la da outra, a política minúscula, que rasteja ao rés-da-lama.

"Mas quem detrata e desmoraliza a Política são os próprios políticos!". Perfeito. Ligeiro, rápido no gatilho, você já argumenta, de chofre. Correto! Os políticos, dando o mau exemplo, reiteradas e incansáveis vezes, mas também, faço indispensável ressalva, a grande imprensa, que se restringe a fazer uma cobertura moralista, focada na espetacularização do escândalo, na condenação dos inimigos políticos e na proteção aos amigos.

Um dia é o "mensalão" do DEM; no outro, do PSDB; depois, do PT. Isso porque "esqueceram-se" de citar os "mensalões" dos demais partidos. Porque, como já disse aqui, reiteradas vezes, TODOS OS PARTIDOS se utilizam de esquemas marginais de financiamento de campanhas. Lógico que isso não absolve a todos, mas sim condena a todos. Mas "condenar", de modo hipócrita e seletivo, nada resolve. Escamoteia, camufla. É preciso mudar.

Cada semana é uma nova manchete de capa denunciando um escândalo de corrupção.

Qual o caso mais recente? Seria o do presidente da Câmara, que, em plena temporada de protestos, foi pilhado utilizando-se de um avião da FAB para assistir com a namorada/noiva, e mais alguns apaniguados, um joguinho no novo Maracanã? Não foi este mesmo, novamente o próprio, que teve a "bagatela" de R$ 100 mil roubados, das mãos de um assessor, na calada da noite em Brasília? Não teria sido o mesmo que seria candidato a vice de José Serra, mas caiu devido a uma – outra?! – denúncia? Um homem como este reúne condições morais para ser presidente da Câmara?! Ou seriam os políticos uns "sem noção"?

Ou o último escândalo seria esse que está na capa da revista Isto É, em sua edição de nº 2279, e que envolve, mais uma vez, os tucanos? Título eloquente: "O propinoduto do tucanato paulista".

Mas por que os pecados de uns são mais sujos que os de outros? Por que o que para uns é crime de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, com cobertura "privilegiada" na TV Globo (pagou os R$600 mil de imposto ou não pagou?), para outros são "pequenos deslizes", "pecadilhos" e são ignorados, quando não tolerados como crime de "caixa 2". Porquê?!

"The answer, my friend, is blowing in the wind". Sim, estou citando trecho daquela famosa canção de Bob Dylan da predileção do ilustre senador Suplicy. A resposta está explodindo (a essa altura, quase que ribombando!) no vento.

A resposta para isso é a reforma da política. Repito: reforma política.

A imprensa prestaria melhores serviços à sociedade se informasse aos cidadãos que existem maus e bons políticos; se desse mais espaço aos bons políticos e relegasse os maus políticos ao chamado "baixo clero", ou à indiferença e ao anonimato; se informasse aos cidadãos o nome dos políticos e dos partidos que só servem para extorquir o Estado brasileiro (todos sabem quem e quais são!); que essa profusão de partidos serve quase que exclusivamente a esse intento de parasitar e sugar as tetas dos governos; que o financiamento privado de campanhas coloca o Estado refém dos interesses do grande capital; que é preciso urgentemente que façamos uma reforma política para diminuir, para menos da metade, essa profusão de partidos, para assim melhorarmos e qualificarmos a representação política.

Do jeito que estão esses partidos e esses maus políticos, nanicos na moral, na estatura e no Parlamento, representam apenas a bandalheira, a corrupção.

Mas não dá para mudar a Política e o mundo somente através das redes sociais, por intermédio de correntes de e-mails, ou através do voluntarismo, da arrogância ou da prepotência. A transformação definitiva e duradoura da sociedade se dará de modo paulatino, através do diálogo e da Política.

Não podemos prescindir da Política, dos partidos e dos políticos, dos sindicatos, dos movimentos sociais. Devemos, reitero o quanto necessário for, participar, melhorar e aperfeiçoar essas instâncias de representação da cidadania – que têm a sua história, sua trajetória e valor.

O maior analfabeto é aquele que não sabe que de decisões políticas depende o custo dos alimentos, a creche das crianças, a boa Educação, um transporte público de qualidade, Saúde, Segurança Pública etc.

Sim, você acertou novamente: estou citando o clássico poema de Bertolt Brecht. E vou mais além. Vou encerrar esse artigo com ele. Por que nunca é demasiado lembrar que:

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."


É preciso dizer mais?

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