Lula Miranda
Cada semana é uma
nova manchete de capa denunciando um escândalo de corrupção. Mas por que os
pecados de uns são mais sujos que os de outros?
O exercício pleno
da política é essencial para a evolução da sociedade, para o desenvolvimento
dos países – e para o bem-estar da humanidade, digamos assim. A boa Política
pode nos conduzir a um desenvolvimento com mais distribuição de renda e justiça
social. Temos que valorizar e moralizar a Política, não condená-la,
vilipendiá-la ou detratá-la. Vamos colocá-la aqui assim, em maiúscula, para
distingui-la da outra, a política minúscula, que rasteja ao rés-da-lama.
"Mas quem
detrata e desmoraliza a Política são os próprios políticos!". Perfeito.
Ligeiro, rápido no gatilho, você já argumenta, de chofre. Correto! Os
políticos, dando o mau exemplo, reiteradas e incansáveis vezes, mas também,
faço indispensável ressalva, a grande imprensa, que se restringe a fazer uma
cobertura moralista, focada na espetacularização do escândalo, na condenação
dos inimigos políticos e na proteção aos amigos.
Um dia é o
"mensalão" do DEM; no outro, do PSDB; depois, do PT. Isso porque
"esqueceram-se" de citar os "mensalões" dos demais
partidos. Porque, como já disse aqui, reiteradas vezes, TODOS OS PARTIDOS se
utilizam de esquemas marginais de financiamento de campanhas. Lógico que isso
não absolve a todos, mas sim condena a todos. Mas "condenar", de modo
hipócrita e seletivo, nada resolve. Escamoteia, camufla. É preciso mudar.
Cada semana é uma
nova manchete de capa denunciando um escândalo de corrupção.
Qual o caso mais
recente? Seria o do presidente da Câmara, que, em plena temporada de protestos,
foi pilhado utilizando-se de um avião da FAB para assistir com a
namorada/noiva, e mais alguns apaniguados, um joguinho no novo Maracanã? Não
foi este mesmo, novamente o próprio, que teve a "bagatela" de R$ 100
mil roubados, das mãos de um assessor, na calada da noite em Brasília? Não teria
sido o mesmo que seria candidato a vice de José Serra, mas caiu devido a uma –
outra?! – denúncia? Um homem como este reúne condições morais para ser
presidente da Câmara?! Ou seriam os políticos uns "sem noção"?
Ou o último
escândalo seria esse que está na capa da revista Isto É, em sua edição de nº
2279, e que envolve, mais uma vez, os tucanos? Título eloquente: "O
propinoduto do tucanato paulista".
Mas por que os
pecados de uns são mais sujos que os de outros? Por que o que para uns é crime
de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, com cobertura
"privilegiada" na TV Globo (pagou os R$600 mil de imposto ou não
pagou?), para outros são "pequenos deslizes", "pecadilhos"
e são ignorados, quando não tolerados como crime de "caixa 2". Porquê?!
"The answer, my friend, is blowing in the
wind". Sim, estou citando trecho daquela famosa canção
de Bob Dylan da predileção do ilustre senador Suplicy. A resposta está
explodindo (a essa altura, quase que ribombando!) no vento.
A resposta para isso
é a reforma da política. Repito: reforma política.
A imprensa
prestaria melhores serviços à sociedade se informasse aos cidadãos que existem
maus e bons políticos; se desse mais espaço aos bons políticos e relegasse os
maus políticos ao chamado "baixo clero", ou à indiferença e ao
anonimato; se informasse aos cidadãos o nome dos políticos e dos partidos que
só servem para extorquir o Estado brasileiro (todos sabem quem e quais são!);
que essa profusão de partidos serve quase que exclusivamente a esse intento de
parasitar e sugar as tetas dos governos; que o financiamento privado de
campanhas coloca o Estado refém dos interesses do grande capital; que é preciso
urgentemente que façamos uma reforma política para diminuir, para menos da
metade, essa profusão de partidos, para assim melhorarmos e qualificarmos a
representação política.
Do jeito que estão
esses partidos e esses maus políticos, nanicos na moral, na estatura e no
Parlamento, representam apenas a bandalheira, a corrupção.
Mas não dá para
mudar a Política e o mundo somente através das redes sociais, por intermédio de
correntes de e-mails, ou através do voluntarismo, da arrogância ou da
prepotência. A transformação definitiva e duradoura da sociedade se dará de
modo paulatino, através do diálogo e da Política.
Não podemos
prescindir da Política, dos partidos e dos políticos, dos sindicatos, dos
movimentos sociais. Devemos, reitero o quanto necessário for, participar,
melhorar e aperfeiçoar essas instâncias de representação da cidadania – que têm
a sua história, sua trajetória e valor.
O maior analfabeto
é aquele que não sabe que de decisões políticas depende o custo dos alimentos,
a creche das crianças, a boa Educação, um transporte público de qualidade,
Saúde, Segurança Pública etc.
Sim, você acertou
novamente: estou citando o clássico poema de Bertolt Brecht. E vou mais além.
Vou encerrar esse artigo com ele. Por que nunca é demasiado lembrar que:
"O pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos
políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da
farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto
político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor
abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."
É preciso dizer
mais?
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