Cid Nelson
Hastenreiter, médico, discorre:
A interiorização da
Medicina deve ser feita mesmo que só com estetoscópio e termômetro, não
esquecendo de que a Medicina foi feita para quem está doente e não para o
médico que é apenas o veículo desse recurso, assim como a justiça não foi feita
para os advogados e juízes, mas, sim, para os injustiçados.
Em todas as
manifestações contrárias às medidas adotadas e/ou apresentadas pelo governo a
respeito da interiorização da medicina, tem destaque a necessidade de
infraestrutura antes do envio dos profissionais.Em um dos artigos, um titular
de urologia da USP, faz coro a essas vozes como se fosse porta-voz de todos os
médicos. Assim sendo, coloco-me como dissidente dessa postura que é destituída
de conhecimento da realidade e nega a importância dos atos médicos esquecidos
nos porões do conhecimento, como a anamnese e exame físico, viciados em que
estamos na utilização perdulária da parafernália semiotécnica.
Sempre frequentei
os melhores hospitais do Rio de Janeiro e ainda frequento, exercendo uma
especialidade de ponta: a Cirurgia Vascular. Alguns desses hospitais não tem em
seus quadros um especialista e os eventos de complicações vasculares ocorrem
sistematicamente. Os doentes apresentam quadros agudos de necessidade de
intervenção imediata e sucumbem, ou
perdem os membros, ao lado dos equipamentos de última geração. Isso, sem falar
dos planos de saúde e dos laboratórios de imagem que levam mais de duas semanas
para marcar exames de natureza emergencial.
Além disso,
observei durante toda a minha vida profissional, alguns coleguinhas enxergarem
o paciente do hospital público apenas como mero material didático e isso não
depende de nenhuma medida legal ou de governo, mas se explica com a origem
aristocrática da maioria dos profissionais da medicina e com o nepotismo
reinante nos grupos de interesse. Não é à-toa que, entre as profissões ditas
liberais, os médicos ocupam a segunda bancada no Congresso, perdendo apenas
para a dos advogados.
No plano ético,
assisti a várias mudanças do Código de Ética, sempre protegendo os interesses
da medicina de grupo.
As tabelas de
honorários dilaceram e espremem, não só o discernimento do médico, como
influenciam com enorme peso a indicação terapêutica. Os laboratórios e a
indústria dos materiais são com um aríete na dignidade profissional,promovendo
uma festança na utilização desnecessária de materiais, deixando claro os
conflitos de interesses.
Pois bem, A
INTERIORIZAÇÃO DA MEDICINA DEVE SER FEITA MESMO QUE SÓ COM ESTETOSCÓPIO E
TERMÔMETRO, NÃO ESQUECENDO DE QUE A MEDICINA FOI FEITA PARA QUEM ESTÁ DOENTE E
NÃO PARA O MÉDICO QUE É APENAS O VEÍCULO DESSE RECURSO, ASSIM COMO A JUSTIÇA
NÃO FOI FEITA PARA OS ADVOGADOS E JUÍZES, MAS, SIM, PARA OS INJUSTIÇADOS.
Sobre o Avô do Léo,
Esperidião de Queiroz Lima, médico, na primeira década do séc. XX:
Quer dizer que
alguns médicos querem que o povo do interior fique sem atendimento médico
enquanto a categoria luta por condições ideais?
O avô do Léo,
Esperidião de Queiroz Lima, foi médico muito competente, no interior do Acre,
sem laboratório, sem CTI, sem raio X, sem tomografia. Ele examinava os
pacientes, mandava-os estirar a língua, observava-lhes os olhos e
auscultava-lhes o peito, conversava, examinava, examinava, diagnosticava e
medicava ... Era muito querido e salvou muita gente. Estas ações são narradas
no livro de sua autoria: “11 anos na Amazônia”.
Os salários
oferecidos para os médicos irem para o interior são na faixa de, no mínimo, R$
8 mil mais alguns penduricalhos. Eles não vão porque não têm treinamento para
trabalhar em condições precárias - exatamente o que os cubanos têm.
Artigo enviado pela escritora Urda Alice Klueger
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