terça-feira, 16 de julho de 2013

A medicina para todos



Cid Nelson Hastenreiter, médico, discorre:


A interiorização da Medicina deve ser feita mesmo que só com estetoscópio e termômetro, não esquecendo de que a Medicina foi feita para quem está doente e não para o médico que é apenas o veículo desse recurso, assim como a justiça não foi feita para os advogados e juízes, mas, sim, para os injustiçados.

Em todas as manifestações contrárias às medidas adotadas e/ou apresentadas pelo governo a respeito da interiorização da medicina, tem destaque a necessidade de infraestrutura antes do envio dos profissionais.Em um dos artigos, um titular de urologia da USP, faz coro a essas vozes como se fosse porta-voz de todos os médicos. Assim sendo, coloco-me como dissidente dessa postura que é destituída de conhecimento da realidade e nega a importância dos atos médicos esquecidos nos porões do conhecimento, como a anamnese e exame físico, viciados em que estamos na utilização perdulária da parafernália semiotécnica.

Sempre frequentei os melhores hospitais do Rio de Janeiro e ainda frequento, exercendo uma especialidade de ponta: a Cirurgia Vascular. Alguns desses hospitais não tem em seus quadros um especialista e os eventos de complicações vasculares ocorrem sistematicamente. Os doentes apresentam quadros agudos de necessidade de intervenção imediata e  sucumbem, ou perdem os membros, ao lado dos equipamentos de última geração. Isso, sem falar dos planos de saúde e dos laboratórios de imagem que levam mais de duas semanas para marcar exames de natureza emergencial.

Além disso, observei durante toda a minha vida profissional, alguns coleguinhas enxergarem o paciente do hospital público apenas como mero material didático e isso não depende de nenhuma medida legal ou de governo, mas se explica com a origem aristocrática da maioria dos profissionais da medicina e com o nepotismo reinante nos grupos de interesse. Não é à-toa que, entre as profissões ditas liberais, os médicos ocupam a segunda bancada no Congresso, perdendo apenas para a dos advogados.
No plano ético, assisti a várias mudanças do Código de Ética, sempre protegendo os interesses da medicina de grupo.

As tabelas de honorários dilaceram e espremem, não só o discernimento do médico, como influenciam com enorme peso a indicação terapêutica. Os laboratórios e a indústria dos materiais são com um aríete na dignidade profissional,promovendo uma festança na utilização desnecessária de materiais, deixando claro os conflitos de interesses.

Pois bem, A INTERIORIZAÇÃO DA MEDICINA DEVE SER FEITA MESMO QUE SÓ COM ESTETOSCÓPIO E TERMÔMETRO, NÃO ESQUECENDO DE QUE A MEDICINA FOI FEITA PARA QUEM ESTÁ DOENTE E NÃO PARA O MÉDICO QUE É APENAS O VEÍCULO DESSE RECURSO, ASSIM COMO A JUSTIÇA NÃO FOI FEITA PARA OS ADVOGADOS E JUÍZES, MAS, SIM, PARA OS INJUSTIÇADOS.

Sobre o Avô do Léo, Esperidião de Queiroz Lima, médico, na primeira década do séc. XX:
Quer dizer que alguns médicos querem que o povo do interior fique sem atendimento médico enquanto a categoria luta por condições ideais?
O avô do Léo, Esperidião de Queiroz Lima, foi médico muito competente, no interior do Acre, sem laboratório, sem CTI, sem raio X, sem tomografia. Ele examinava os pacientes, mandava-os estirar a língua, observava-lhes os olhos e auscultava-lhes o peito, conversava, examinava, examinava, diagnosticava e medicava ... Era muito querido e salvou muita gente. Estas ações são narradas no livro de sua autoria: “11 anos na Amazônia”.


Os salários oferecidos para os médicos irem para o interior são na faixa de, no mínimo, R$ 8 mil mais alguns penduricalhos. Eles não vão porque não têm treinamento para trabalhar em condições precárias - exatamente o que os cubanos têm.



Artigo enviado pela escritora Urda Alice Klueger

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