Depois esse tipo de jornalismo porco, bandido, seletivo tem medo de censura.
CRISTINA GRILLO
FOLHA DO RIO
Do calçadão da
avenida Atlântica era possível ver os salões do hotel Copacabana Palace
transformados em um misto de palácio tropical e indiano, com arranjos de flores
multicoloridas sobre mesas espelhadas e painéis reproduzindo trabalhos de
artistas da missão francesa, como Debret e Rugendas.
Lá dentro, o clima
era tenso entre os cerca de 1.000 convidados do casamento de Beatriz Barata e
Francisco Feitosa Filho --ela, neta de Jacob Barata, conhecido como "rei
dos ônibus" do Rio; ele, filho de Francisco Feitosa, grande empresário do
setor de transportes do Ceará.
A tensão começara
mais cedo, quando Beatriz teve que descer da Mercedes que a levara à igreja sob
a proteção de policiais militares. Depois da cerimônia, convidados e
manifestantes seguiram para a festa no hotel.
"Ficamos todos
muito assustados, constrangidos por estarmos ali e com medo do que poderia
acontecer", contou à Folha uma convidada. "Todos se olhavam como se
fossemos Marias Antonietas prontas para a degola."
No calçadão da
avenida Atlântica, manifestantes gritavam "Ox, ox, ox, tá cheia de
botox" para as convidadas que chegavam à festa ou ousavam se aproximar da
varanda do hotel para ver o que acontecia lá embaixo.
Na dúvida de quem
era o noivo, qualquer jovem engravatado que aparecia na sacada era saudado com
"Há, há, há, vai brochar".
Beatriz Barata
planejava seu casamento grandioso havia mais de dois anos. Nessa época, quando
ainda era noiva de Renato Amorim, executivo de uma multinacional de
recrutamento de pessoal, ela reservou quase 800 metros quadrados dos principais
salões do hotel: o Nobre, o Golden Room e outros três, frontais, que se ligam à
varanda do Copacabana Palace.
Guardou também um
espaço na concorrida agenda da igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro da
cidade, e na do decorador Antonio Neves da Rocha.
O namoro com Amorim
terminou, Feitosa apareceu e os planos foram mantidos.
Profissionais do
ramo de cerimônias de luxo ouvidos pela Folha calculam que o casamento tenha
custado em torno de R$ 3 milhões.
O serviço de bufê
do hotel, por exemplo, custa cerca de R$ 250 por pessoa. Inclui coquetel,
frios, jantar com entrada e saladas, sobremesas e bebidas não alcoólicas.
Uma decoração como
aquela, segundo os profissionais, não custa menos de R$ 500 mil. A noite teve
ainda show do cantor Latino, cujo cachê para eventos do tipo gira em torno de
R$ 80 mil.
CINZEIRO
A festa de Beatriz,
que nas redes sociais ficou conhecida como "o casamento da dona
Baratinha", terminou mal.
Daniel Barata, 18,
seu primo, é suspeito de ter atingido com um cinzeiro o manifestante Ruan
Nascimento, 24, morador do Complexo do Alemão, que levou seis pontos na testa.
A partir daí o
clima esquentou. Cinco carros tiveram vidros quebrados ou foram amassados. Uma
vidraça da entrada do hotel foi quebrada.
Mais uma vez, o
Batalhão de Choque foi chamado para intervir. O "casamento da dona
Baratinha" acabou em uma nuvem de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Em fotos postadas
nas redes sociais, o jovem Barata é visto lançando aviõezinhos feitos com notas
de R$ 20 sobre os manifestantes. Convidados da festa jogaram bem-casados da
varanda.
Ontem Barata
escreveu um pedido de desculpas no Facebook e negou ter arremessado o cinzeiro.
"Para
esclarecer as coisas, joguei uma nota de R$ 20 da sacada do hotel com o
objetivo, sim, de repudiar os manifestantes [...] e admito que errei, assim
como acredito que erraram os que atiraram pedras e ovos nos convidados [...],
mas quero deixar bem claro que não tenho nada a ver com quem tacou
cinzeiro."
"O que
assistimos foi o baile da Ilha Fiscal do nosso século. Houve uma grande reação
popular a uma situação de ostentação, e a partir de agora as pessoas vão pensar
mais antes de fazer uma festa desse tamanho", disse a colunista social
Hildegard Angel, que escreveu sobre a festa em seu blog.
Colaboraram MARIANA
SALLOWICZ e PAULO MAURÍCIO COSTA
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