Um leitor do Diário
recentemente fez o seguinte comentário: “Jamais deixaria um filho meu estudar
numa escola da Abril.”
Ele lera a notícia
de mais uma compra de escola pela Abril, num movimento estratégico vital para a
empresa. Com os negócios minguando aceleradamente nas revistas que fizeram sua
fortuna, a Abril desloca-se para a área de educação.
O ponto do leitor:
ele não queria que seus filhos fossem alcançados pela visão de mundo da Veja –
não apenas conservadora mas distorcida e frequentemente cínica.
Na preocupação do
leitor está um ponto que pode acabar atrapalhando o futuro da Abril na
educação. Não são poucos os pais que definitivamente não gostariam que seus
filhos fossem ‘educados’ indiretamente pela Veja.
É compreensível.
Imagine que seu filho
vá ter uma aula sobre os protestos, com vistas ao vestibular.
A Veja elegeu, como
símbolo das manifestações, Maycon Freitas, um extremista que diz em sua página
no Facebook que ‘bandido bom é bandido morto’ e que rejeita agressivamente
qualquer coisa parecida com direitos humanos.
Freitas recebeu as
Páginas Amarelas, e foi apresentado como a “voz que emergiu das ruas”.
Ele evidentemente
tinha pegado carona na capacidade mobilizadora do MPL, mas segundo a Veja ele
comandou multidões nos protestos do Rio.
Para ver a
realidade, basta checar o que aconteceu quando o MPL saiu de cena e Freitas fez
convocações frenéticas para uma “Marcha das Famílias contra o Comunismo”.
Compareceram 36
pessoas, segundo cálculos confiáveis.
Parece anedótico,
mas que pai gostaria que seu filho corresse o risco de aprender a realidade dos
protestos segundo a Veja?
Numa escola da
Abril, esta é uma possibilidade real.
Lembremos que até
alguns anos atrás, antes de girar freneticamente para a direita, a Veja era uma
leitura quase obrigatória para jovens interessados em atualidades para as
provas de vestibular.
O mundo paralelo da
Veja está no papel e na internet.
Também a respeito
dos protestos, o site publicou textos que poucos pais gostariam que chegassem
às crianças.
Dois deles merecem
destaque.
Num, o professor
Marco Antônio Villa dizia que os garotos do MPL eram “sociologicamente
irrelevantes”. Num artigo com 16 pontos sobre os protestos, então em seu
início, Villa errou simplesmente todos.
Mesmo assim, ele
permanece errando no site da Veja – e nos programas da Globonews — sem que isso
pareça trazer qualquer problema para ele, num caso notável de impunidade por
razões ideológicas.
Num outro texto do
site da Veja, o ex-publicitário Neil Ferreira conclamava a polícia a “passar
fogo” nos manifestantes. Terror se combate com terror, escreveu Neil.
A força da Veja na
Abril é enorme. Não é fantasiosa, assim, a hipótese de que o conteúdo da
revista acabe contaminando o ensino nas escolas da Abril.
Imagine que
Reinaldo Azevedo seja convidado a falar sobre política. Ou que algum de seus
livros seja recomendado aos alunos.
(O site da Veja
mereceria um teste da nova geração dos Civitas, aliás: o envio — mediante um
pseudônimo, claro –de um comentário que não bata com a opinião dos
blogueiros. Não apenas são censurados
como o autor é instado a ir para a ‘esgotosfera’. Isso mesmo quando o
comentário é civilizado e não comete senão o pecado de não dizer amém.)
Estrategicamente, a
Abril tem um problema em sua divisão de educação, dada a imagem fortemente
negativa da Veja.
Ou a casa trabalha
intensamente para melhorar essa imagem, e para isso é necessário um jornalismo
na Veja que impeça absurdos como a transformação de fanfarrões como Maycon
Freitas em heróis, ou as ambições na área da educação dificilmente serão
preenchidas.
Talvez este
problema já tenha sido captado na Abril.
Se não foi, é porque as
coisas estão realmente complicadas.
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