O Rio de Janeiro,
na quinta (12), foi palco mais uma vez
da selvageria da Polícia Militar comandada por Sérgio Cabral, o governador que
vive nas alturas com helicópteros utilizados por sua família nos fins de
semana. Quem esteve na passeata organizada pelas centrais sindicais e prestou
bem atenção pôde perceber perfeitamente a colocação em prática de uma
estratégia objetivando prejudicar o movimento dos trabalhadores. A receita, já
utilizada em manifestações anteriores, deveria ser investigada com todo rigor.
O Ministério Público poderia se encarregar disso.
Um amigo chileno
informou que o mesmo tipo de estratégia é utilizado no país andino durante as
manifestações estudantis e a mídia de mercado no dia seguinte informa sobre as
arruaças. Será coincidência?
No Rio de Janeiro
aparecem grupos provocadores de pessoas notoriamente de classe média, alguns
até com máscara protetora ou com as caras cobertas como se estivessem
preparados para um confronto.
Entram de repente e
em grupo, não tendo nada a ver com as manifestações. No caso da passeata das
centrais sindicais, apareceram intimidando os manifestantes e na prática
chamando a polícia para agir ao jogarem objetos sobre os soldados. Como se
fosse algo combinado, e pode ser que o seja, a PM passou a arremessar gás
lacrimogêneo e de pimenta, além da balas de borracha sobre os manifestantes.
Foi o que aconteceu no final da passeata, o que impediu, como estava
programado, o encerramento com discursos dos representantes sindicais.
Mas os agentes
provocadores mais uma vez não foram admoestados. Saíram incólumes e não foram
identificados.
Brutalidade e
covardia
A PM, mais uma vez
obedecendo ordens de comando, leia-se Sérgio Cabral e Mariano Beltrame, o
Secretário de Segurança, passou a agir de forma brutal e a todo momento
atacando indiscriminadamente com bombas contra qualquer grupo que encontrasse
pela frente. Fazendo dobradinha com o batalhão de choque podiam ser vistos,
facilmente reconhecidos, agentes da P2, a polícia secreta da PM em trajes
civis. Para cúmulo, ainda por cima surgiu um carro de combate, mais conhecido
como “caveirão”, utilizado pela PM na rotineira repressão em áreas carentes da
cidade.
A mesma PM e os P2
fizeram vista grossa quando apareceram os jovens suspeitos, alguns com
indumentária negra, para tumultuar a manifestação dos trabalhadores. Receberam
a denominação de Black Blocs, uma suposta organização internacional que joga
para o confronto. Centenas deles foram vistos intimidando as pessoas, como
historicamente agem grupos de extrema direita, exatamente com o objetivo de
criar fatos prejudiciais ao movimento de massa. No Chile, os provocadores fazem
o mesmo.
É importante
divulgar esses fatos, porque a mídia de mercado, sobretudo a Rede Globo, tanto
nas manifestações anteriores como agora filmava dos helicópteros cenas de
confrontos, com o visível objetivo de fazer com que a opinião pública
deplorasse o que denominam de “vandalismo” . Mas onde entra a desonestidade
jornalística? Exatamente pelo fato de apresentarem imagens pinçadas para dar a
impressão que a passeata do movimento sindical aconteceu transformando o centro
da cidade numa batalha campal.
Aí aparece a mídia
de mercado utilizando o termo vândalos de uma forma manipulativa. Na verdade,
vândalos foram as tropas da PM e os agentes provocadores, que, vale sempre
repetir, não têm nada a ver com os trabalhadores.
Manipulação grosseira
O jornal O Globo,
como sempre, também entrou pesado no circuito manipulativo, primeiro informando
deliberadamente errado o número de participantes, reduzindo-os a cinco mil. Mas
as próprias fotos tiradas dos helicópteros ou de andares altos dos prédios
mostravam claramente um número bem maior de manifestantes. Por baixo, bem por
baixo, o número ultrapassou os 30 mil, o que, para os dias atuais para um ato
convocado por centrais sindicais e alguns movimentos sociais, como o MST-RJ
pode ser considerado significativo.
Mas a mídia de
mercado tentou descaracterizar a manifestação. Não há termos de comparação com
os atos anteriores convocados nas redes sociais pelos mais diversos segmentos.
Mas para a mídia de mercado, o que vale é a comparação pura e simples, sem
analisar mais fatos específicos, como, por exemplo, a própria covarde e
violenta ação policial ordenada exatamente com o objetivo de esvaziar os
movimentos de protestos que se seguiriam a histórica quinta-feira (20 de
junho).
Não podia ser diferente
o noticiário de O Globo, porque historicamente o jornal da família Marinho
sempre destilou ódio contra qualquer manifestação classista. Está no DNA das
Organizações com o mesmo nome.
Já no início da
concentração, na Candelária, houve um princípio de tumulto, desta vez por culpa
única e exclusiva da PM. Testemunhas garantem que a PM achou que um
manifestante sentado estava puxando um baseado e o prendeu arrastando-o pelo
chão alguns metros. De nada adiantou a explicação do atônito manifestante preso.
Houve uma reação natural em função da covardia. A PM, com a colaboração da
mídia de mercado, informou que o manifestante foi preso porque jogou uma pedra
quebrando vidro da Igreja da Candelária, quando isso aconteceu depois da prisão
e da ação policial.
Repressão no
Palácio Guanabara
A covarde e
violenta repressão policial contra manifestantes, na prática fomentada por
agentes provocadores, não se resumiu à Avenida Rio Branco e Cinelândia. Nas
imediações do Palácio Guanabara, a PM utilizou também métodos repressivos
violentos e covardes, que se estenderam até pelo menos um quilômetro do local
onde despacha Sérgio Cabral. Nem mesmo um hospital naquele área foi poupado do
gás lacrimogêneo. Numa praça (São Salvador) cerca de 500 metros do Palácio
Guanabara, a PM arremessou gás lacrimogêneo atingindo pessoas que se
encontravam em bares e restaurantes, inclusive crianças.
Uma semana antes, o
próprio Governador dizia que os manifestantes poderiam protestar no Palácio
Guanabara e não na esquina de sua residência particular, no Leblon. Depois de
reprimidos, também covardemente, segundo inúmeras testemunhas de moradores da
rua Aristides Espindola, os jovens que não aguentam mais Sérgio Cabral, foram
ao Palácio Guanabara.
A violência
policial não pode continuar impune. A responsabilidade é do comandante em
chefe, Sérgio Cabral, que a todo momento justifica a truculência da PM. A
Anistia Internacional já protestou e agora até a Organização das Nações Unidas
(ONU) está pedindo explicação (fato ainda não divulgado) às autoridades sobre
os acontecimentos ocorridos sobretudo no Rio de Janeiro.
Registro um fato: John
Jeremiah Sullivan, o escritor estadunidense que participou do Flip, fará
matéria especial para o New York Times Magazine, sobre os acontecimentos.
Depois de ser informado sobre temas que a mídia de mercado nacional silencia,
como fatos relacionados com a questão dos leilões de petróleo, as mobilizações
do MST e a importância para o Brasil da democratização dos meios de
comunicação, Sullivan esteve acompanhando a manifestação classista das centrais
sindicais no Rio junto com o autor destas linhas. Tem material de sobra para
informar aos leitores norte-americanos, como disse que faria.
autor deste artigoMário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantá
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