quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A insustentável leveza da política


LULA MIRANDA

É falsa a "poesia" que supostamente estaria por detrás da aliança política entre Eduardo Campos e Marina Silva? Ou toda política é em si uma falsificação, uma dissimulação? O que testemunhamos é uma imitação canhestra de algo que se poderia chamar, violentando um pouco os fatos e a semântica, de "poesia"? Ou um simulacro, e uma violação, da Política dos "puros", que era até então defendida pelos "sonháticos" da Rede, dentre outros?

Já podemos falar em "pragmáticos", no lugar de "sonháticos"; em "arrivistas", no lugar de utopistas? Já podemos dar nome às coisas, como elas de fato se nos apresentam? Ou ainda seria prematuro?

Devemos então, enquanto os elefantes se acomodam na loja de cristais, em nosso íntimo nos indagar/questionar: qual o sentido da política?

Para que serve a política? Para promover o bem comum na Polis? É isso? É essa a política que defendemos?

Qual a política que propugnamos?

Quais os partidos que praticam essa política, genuinamente voltada para o bem comum?

O governo Dilma e sua base aliada estão promovendo essa política? Está promovendo, mas de forma insuficiente? Não está promovendo?

Marina representa essa política? Eduardo Campos representa? Aécio Neves? Ou, já que estamos a falar de modo franco, talvez fosse mais honesto perguntar: José Serra representa essa política?

Se Eduardo Campos representa essa política, por que se associou a Ronaldo Caiado (já descartado, ao que parece), a Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen, dentre outros "homens bons" – como diria o insuspeito Professor Hariovaldo Almeida Prado? Esses senhores citados representam uma nova maneira de fazer política? Por que Campos, com seus olhar lânguido e jeito de bom moço, tentou primeiro seduzir Kátia Abreu antes de se juntar a Marina?

Existem os "puros" na política?

Onde está o santo? De qual lado estarão os "pecadores"?

Por onde andará o "Mão Santa"?

Paulo Maluf, à casa de quem Lula acorreu para lhe dar um abraço de "companheiros" (ou seria de afogados?) noutra estranha, inesquecível e indesculpável aliança, representa essa nova política? Ou Sarney? Ou Renan? Ou... Gilberto Kassab, que ora é aliado de

Serra (e do PSDB) ora de Dilma (PT); que diz não ser de centro nem de direita, ou de esquerda.

Na coalizão que dá sustentação ao governador de SP perfilam-se Campos Machado, Coronel Telhada, Paulinho da Força e o grupo político de... Paulo Maluf. Estes senhores, de reconhecida reputação, por acaso, representam um novo jeito de fazer política?

Qual a lógica que subjaz à política? A lógica da Poesia?!

"Veja bem, mas são todos políticos eleitos pelo voto do povo e, no final das contas [e dos contos – sussurra-me o cronista Machado de Assis], vivemos numa democracia, num governo de coalizão" – poderia ponderar você, caro leitor. Agradeço vossa providencial ponderação.

"The answer, my friend, is blowing' in the wind" – canta, insistentemente, o Senador Suplicy da tribuna do Senado.

Aqui caberia, talvez, mais uma pergunta [ingênua, ora direis!], típica de um autêntico "sonhático". Ou melhor, duas:

1º: Por que então não se juntam os autênticos homens bons [esqueçamos, por ora, as aspas e a ironia mordaz do sarcástico professor Hariovaldo] dos principais e mais representativos partidos numa única frente ampla de esquerda ou de centro-esquerda?

2º: Por que não se juntam todos os parlamentares e fazem uma reforma política que, efetivamente, se constitua num primeiro passo, num singelo e providencial passo, para que possamos começar a mudar de verdade a maneira de fazer política neste país.

Sim, pois não será um partido a mais, ou um "cacique" a mais, ou a insustentável "leveza" da aliança Campos-Marina, que mudará os rumos da política brasileira e irá possibilitar que prossigamos no caminho da transformação desse país numa grande nação.


Como Queríamos Demonstrar [Q.E.D. - Quod erat demonstrandum].

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