Profeta e precursor foi Getúlio Vargas, ele entendeu o que a
UDN pretendia
por Mauricio Dias —CartaCapital
A exploração do pré sal, deslanchada na segunda-feira 21, com o leilão do Campo de Libra, é uma questão igual ou talvez até de maior
importância para o País como foi, em meados do século XX, a luta pela
exploração do petróleo brasileiro.
No plano dos episódios que movem de fato a história
brasileira, a luta pelo petróleo, em fins dos anos 40, de onde nasceu a
Petrobras, pode ser identificada como a pré-história do pré-sal. No plano
político, resguardadas as diferenças promovidas em um mundo que, por razões da
física, não para de girar, a presidenta Dilma Rousseff moveu-se, por motivos
políticos, por um caminho novo.
Em vez do controle total do petróleo, ela optou por um sistema
de partilha com a criação de uma empresa estatal brasileira, a PPSA,
responsável pela gestão e fiscalização dos investimentos. O resultado
desagradou aos gregos de esquerda e aos troianos de direita. Realizado o
leilão, tudo agora se transformou, prós e contras, em contendas semânticas.
Ideologicamente, uma parte da esquerda considera que o Brasil
entregou o ouro aos bandidos. Exagero. Inspirados em lutas sociais dos anos
1940-1950, quando a situação era, de fato, tudo ou nada, alegam que o País era
dono de 100% do petróleo do pré-sal, agora ficou com 40%.
À direita, protestos contra a presença de uma estatal, a PPSA,
que teria inibido a formação de mais consórcios. Havia uma previsão de 14 deles.
Imediatamente após o resultado surgiram os primeiros protestos no sentido de
alterar o regime de partilha nas licitações do pré-sal.
Dilma privilegia o confronto com o setor privado e garantiu
que nada vai mudar: “Eu não vejo onde o modelo precisa de reajustes. Sabe por
quê? Porque aqueles que são contra o conteúdo local querem transferir a riqueza
do pré-sal de outra forma para o exterior”.
Houve discussão semelhante na criação da Petrobras nos anos
1950. Naquele momento, 60 anos atrás, pouca gente entendeu – porque é difícil
mesmo de ser entendido – as razões pelas quais a UDN, partido conservador até a
medula, foi responsável pelo toque final de estatização total do petróleo
brasileiro.
A pressão não era pouca. Ela se estendia das noções interessadas
e equivocadas, supostamente nacionalistas, de Monteiro Lobato, entre outros, ao
sufoco político imposto pelos interesses dos Estados Unidos.
Uma frase do presidente Getúlio Vargas, perdida na história,
ajuda a entender essa suposta contradição udenista: os liberais estatizaram o
controle do petróleo. Evito aspas no esforço de captar melhor a ironia da fala
de Vargas. Ele apontava os adversários e dizia: para eles, o petróleo é nosso,
mas embaixo da terra.
A UDN apostava que o Brasil não teria dinheiro para bancar a
exploração e, ao fim, o País envergonhado privatizaria o petróleo. Sustentavam
também que não havia condições técnicas para explorar as “terras profundas” do
solo.
Desdenharam da capacidade financeira e técnica do País
tropical e deram com os burros n’água. Como se dizia muito antigamente: bem
feito! O pré-sal só existe pela pré-história dele. O desenvolvimento
tecnológico da Petrobras.
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