Segundo vereador mais
votado de São Paulo e do Brasil, embaixador do Brasil em Roma no governo
Fernando Henrique, de quem foi tesoureiro da campanha à reeleição, secretário
de Energia de Mario Covas, chefe das Subprefeituras com José Serra e secretário
de Cultura de Geraldo Alckmin; largo currículo de Andrea Matarazzo não foi
suficiente para que seu nome fosse destacado pela mídia tradicional na notícia
da quebra, pela Justiça, de seus sigilos bancário e fiscal sob suspeita de
envolvimento no escândalo de corrupção Alstom-Siemens; seria como informar que
a AP 470 tem 42 réus, sem lembrar que os famosos José Dirceu, José Genoíno e
Delúbio Soares, do PT, estão entre eles
Por que o
vereador Andrea Matarazzo tem tanta força na mídia tradicional?
O que fez dele um
homem tão forte, desde o início de sua carreira política, na mais alta cúpula
tucana?
Como ele conseguiu
começar por cima sua carreira na vida pública, em 1991, e cumprir uma
trajetória ascendente, ininterrupta e repleta de poder, nos últimos 22 anos, em
todas, sem exceção, as administrações tucanas no plano federal (Fernando
Henrique), estadual (governos paulistas de Mario Covas, José Serra e Geraldo
Alckmin) e municipal (gestões Serra e Gilberto Kassab)?
Por ser sobrinho-neto
do histórico conde Francesco Matarazzo?
Ou por ser
repositário de segredos bem guardados no ninho tucano paulista, ao menos até o
estouro das denúncias do escândalo Alstom-Siemens, de desvio de verbas e
corrupção no sistema de transportes públicos em São Paulo?
Estas e outras
interrogações poderão ser mais precisamente respondidas a partir de agora.
Nesta segunda-feira
30, a Justiça determinou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Matarazzo,
além de dez outros suspeitos de envolvimento no escândalo que abala o moral dos
tucanos paulistas. A maioria dos nomes é de gente desconhecida do público
brasileiro (lista abaixo), entre os quais executivos das duas multinacionais
envolvidas no esquema. Há, além deles, o nome do ex-presidente do Metro José
Fagali Neto.
Mesmo sendo o
personagem, disparado, de maior peso nesta turma da pesada, como prova da
influência de Matarazzo na mídia tradicional seu nome ficou de fora dos títulos
de destaque dos portais UOL, IG e G1.
Essas fontes
noticiaram o fato, na tarde desta segunda 30, após a informação, levantada pelo
jornalista Fausto Macedo, ter sido dada em primeira mão no Estadão.com.
Registre-se: na
própria página virtual do jornalão paulista, porém, o nome de Matarazzo
igualmente foi poupado do devido destaque.
Do ponto de vista
jornalístico, noticiar, com a máxima discrição possível, a devassa que está
para ser iniciada na vida financeira e tributária de Andrea Matarazzo não se
justifica, seja qual for o ângulo pelo qual se examine a questão. Afinal, ele
mesmo foi saudado, pela mesma mídia, no final do ano passado, como o segundo
vereador mais votado de São Paulo e do Brasil, graças aos mais de 117 mil votos
na eleição paulistana do ano passado.
Entre os tucanos,
Matarazzo sempre foi o campeão. Um verdadeiro faz tudo. Além do feito político
de, em sua primeira tentativa, bater todos os outros concorrentes do partido,
Matarazzo é um polivalente do setor público tucano: foi secretário de Energia e
presidente da estatal Cesp no governo Mario Covas, ministro-chefe da Secretaria
de Comunicação Social do governo Fernando Henrique, do qual também foi
embaixador em Roma, secretário municipal de Serviços, primeiro, e das
Subprefeituras, em seguida, na gestão de José Serra na Prefeitura paulistana,
e, ufa!, secretário estadual de Cultura na gestão de Geraldo Alckmin.
Constaria de qualquer
manual de jornalismo que uma notícia do porte da quebra de sigilos de um tucano
como Matarazzo, dentro do pacote do rumoroso escândalo Siemens-Alstom, deveria
ser um chamariz de leitura. Mas, do ponto de vista de sintonia com os tucanos,
é, de fato, melhor que ele não apareça tanto quanto deveria. Não pega bem...
Para efeito de
comparação, seria como se todos esses portais da mídia tradicional noticiassem
que a Ação Penal 470, em julgamento no Supremo Tribunal Federal, analisa o
envolvimento em corrupção de 42 réus. E não, como aconteceu, dos ex-presidente
do PT José Dirceu e José Genoíno, e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.
Qual é a notícia mais
forte: 42 réus são julgados na AP 470 ou Dirceu, Genoíno, Delúbio e outros 39
são réus no Supremo?
A resposta é óbvia.
Há, ainda, uma
agravante. Assim como Delúbio foi tesoureiro do PT, Matarazzo foi apresentado,
na campanha de reeleição de Fernando Henrique, em 1998, também como tesoureiro
da campanha tucana. Ele nunca teve receio de arrecadar dinheiro para seu
partido.
A quebra de seu
sigilo bancário fornecerá informações importantes sobre sua eventual
participação no escândalo Alstom-Siemens. Mas não apenas. Poderá esclarecer
muito sobre o modus operandi do partido no poder.
Além de todos os
cargos, Matarazzo desfruta da intimidade dos mais emplumados tucanos. Com Mario
Covas, de quem era difícil divergir, o atual vereador foi um secretário de
Energia e presidente da Cesp que privatizou a companhia por um modelo muito
criticado na ocasião, inclusive com críticas do próprio governador. Considerada
a estatal mais bem estrutura do Estado, a Cesp foi fatiada em 11 partes, sendo
arrematada pelo mercado a preços que poderiam ser bem maiores do que os valores
apurados no encerramento das operações que liquidaram a estatal, segundo
especialistas do setor.
Diante do
anti-tabagista militante José Serra, Matarazzo deu impressionantes mostras de
segurança ao, em diferentes ocasiões, baforar a fumaça de seus cigarros sobre o
rosto do ex-ministro da Saúde. Quem poderia fazer isso sem medo de uma
reprimenda humilhante?
O pai de Andrea,
Giannandrea Matarazzo, morto em 2011, foi presidente do Conselho Administrativo
do colégio Dante Aliguieri, talvez o mais tradicional de São Paulo, e da sua
associação de ex-alunos. Durante sua gestão neste último cargo, surgiram
denúncias de desvios de verbas. O caso foi noticiado pelo jornal Folha de S.
Paulo num dia e, em seguida, nunca mais apareceu em sua páginas. Nova prova de
forte influência do tucano que poderá ser melhor compreendida a partir de
agora.
A seguir, lista dos
11 nomes cujos sigilos bancário e fiscal foram quebrados pela Justiça nesta
segunda 30:
Andrea Matarazzo,
Eduardo José Bernini, Henrique Fingerman, Jean Marie Marcel Jackie Lannelongue,
Jean Pierre Charles Antoine Coulardon, Jonio Kahan Foigel, José Geraldo Villas
Boas, Romeu Pinto Júnior, Sabino Indelicato, Thierry Charles Lopez de Arias e
Jorge Fagali Neto, (ex-presidente do Metrô).Brasil-247
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