O ingresso de
Marina Silva no PSB mexeu na política brasileira. A ex-senadora conta com
grande apoio da mídia conservadora, que desde há muito abre grandes espaços
para ela. Um colunista de O Globo, o Merval Pereira, tem se esforçado bastante
para ela aparecer como “fenômeno novo” na política brasileira, Claro, a
conclusão é do imortal da Academia Brasileira de Letras.
A verdadeira
história da tentativa de legalização da Rede está mal contada, até porque os
próceres de Marina, ou mesmo ela sozinha, dificilmente decidiriam em uma
madrugada a aliança com o Governador Eduardo Campos.
Marina é esperta
demais e ao ter percebido que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negaria o
registro não deve ter perdido tempo. Conversou com deus e o mundo. Usou o
boquirroto Roberto Freire para despistar. O ex-comunista hoje abrigado no PPS,
um partido apêndice do PSDB, achava que Marina ingressaria em suas fileiras.
Ficou irritado quando soube o que ela tinha decidido. Mas com o tempo tudo isso
vai passar, porque afinal de contas ele precisa se agarrar em alguém para
sobreviver politicamente. E Aécio Neves, que Freire apoiava até agora, não
decola.
Correndo por fora,
Eduardo Campos aguardava o desenrolar dos acontecimentos e num sábado morno e
sem notícias montou com Marina Silva um piquenique jornalístico que ocupou
grandes espaços na mídia eletrônica, sobretudo na Globonews, que cobriu ao vivo
toda a festa de filiação que culminou numa entrevista coletiva gênero
convescote.
A mídia
conservadora explorou sobremaneira um suposto desabafo de Marina na reunião de
madrugada com os correligionários em que teria afirmado que um de seus
objetivos agora é acabar com o “chavismo” no PT. Na coletiva não confirmou o
uso do mesmo adjetivo, mas também não negou, o que na prática significa que ela
pensa isso mesmo.
A referida prédica
vai ser muito repetida pela mídia de mercado, podem crer os leitores. Tal fato
de alguma forma ajuda finalmente a política brasileira a se definir se é de
direita, de esquerda, de centro. O que não pode continuar é na base do muito
pelo contrário, como ela tenta passar para os incautos.
Marina tambhém se
considera fato novo na política brasileira. Mas o que significa exatamente
modernidade? Antes disso seria importante que ela definisse vários pontos,
como, por exemplo, o atual posicionamento em relação ao leilão do complexo
petrolífero de Libra, no pré sal e as demais privatizações que o atual governo
está tentando incrementar. Certo que o petróleo é uma energia poluente e que é
necessário encontrar outros recursos, como o solar e dos ventos. Mas como a
bacia petrolífera é uma realidade, qual a posição da Ministra do Meio Ambiente
no governo Lula sobre o pré-sal?
Qual a posição da
sua Rede em relação ao capital financeiro? Será que ela conversa sobre o tema
com seus correligionários e com sua amigona Maria Alice Setubal, mais conhecida
como Neca, herdeira do Banco Itaú? A sustentabilidade da Rede passa pela defesa
da soberania nacional? E qual a posição do partido abrigado provisoriamente no
PSB no que diz respeito à integração latino-americana? Se fosse presidente,
como seria a política externa de seu governo?
Seria também
importante uma definição de Marina Silva, em princípio candidata a vice de
Eduardo Campos, sobre o bloqueio econômico dos Estados Unidos contra Cuba.
Algum repórter poderia perguntá-la o que faria se estivesse ocupando o governo
e descobrisse que seus telefones e correios eletrônicos estavam sendo
grampeados pela inteligência norte-americana? Como, em suma, enfrentaria uma
situação ao se tornar pública a informação segundo a qual a inteligência
estadunidense atua no Brasil na maior desenvoltura?
Qual a posição de
Marina sobre a política externa de países como o Reino Unido e Estados Unidos?
Outra dúvida que ela pode desvendar, se é verdade que a atual filiada ao PSB
têm vínculos estreitos com as entidades ecológicas bancadas pelo Príncipe
Charles, como dizem seus desafetos?
Para ajudar a
definir se a Rede é de direita, de esquerda, de centro e abolir o muito pelo
contrário, o que a política brasileira acha das mobilizações dos movimentos
sociais no sentido de ampliar os espaços midiáticos, ou seja, para conseguir
que no Brasil os meios de comunicação sejam democratizados e todos os setores
sociais tenham vez e voz em pé de igualdade?
Qual a posição de
sua Rede no que concerne às Comissões da Verdade? Marina Silva agora como
correligionária da deputada Luiza Erundina, tratada com destaque no anúncio da
entrada no PSB, apoia o posicionamento da parlamentar na defesa da revisão da
Lei da Anistia?
Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato.Direto da Redação
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