Confesso que não sou
dos melhores enxadristas, mas desconfio que Eduardo Campos moveu uma peça
errada no tabuleiro
Já disse aqui, mais
de uma vez, que a política assemelha-se ao xadrez e não ao jogo de damas ou ao
dominó. A questão é saber quais os políticos que jogam damas e quais jogam
xadrez, e destes aqueles que são bons enxadristas.
Eduardo Campos, por
exemplo, joga xadrez ou damas? Se joga xadrez; é um bom enxadrista? Vai
conseguir mobilizar seus peões e encurralar e derrubar a "rainha"?
E Marina Silva, que
é, supostamente, uma dama dos "seringais" da política nacional, joga
xadrez ou damas? Vai conseguir "derrubar" a "rainha"? Mas
para isso terá que antes "derrubar" o "cavalo" que hoje lhe
dá montaria e lhe propicia o trote – garboso para uns, infame para outros. Ou
seria um galope desembestado, em pelo, de um autêntico pangaré, sem rumo, mata
adentro, sem cela ou arreios?
Os dois, Campos e
Marina, jogam xadrez? Se jogam, quem vai dar o xeque-mate? Quem vai assumir a
missão de derrubar a "rainha", ou o rei, que a protege e lhe aufere o
necessário apoio junto ao seu povo? Ou, melhor dizendo: quem vai derrubar quem
nesse jogo?
Confesso que não sou
dos melhores enxadristas, mas desconfio que Eduardo Campos moveu uma peça
errada no tabuleiro.
Dava a entender
àqueles que acompanham as coisas e o mundo da política, que o jovem e promissor
político de Pernambuco estava, de modo estratégico, mantendo uma postura
ponderada e coerente, e postergando a definição da sua candidatura para 2014.
Com o intuito de, como dizem os meus (e dele) conterrâneos,
"assuntar" para onde os ventos soprariam, para que rumo conduziriam
as nuvens pardacentas e os barcos do PT, do PSB e demais partidos da chamada
"base aliada".
A sua aliança recente
com Marina Silva contraria radicalmente essa sua postura de experimentado
matuto, pescador dos mares, infestados de tubarões, do Recife. Lançou-se ao
mar, de peito aberto, em incerta e desmedida aventura. Receio que Campos poderá
se espatifar nos arrecifes.
Parece, ao que tudo
indica, ter contrariado ou negligenciado os conselhos de um velho amigo
pescador, e perdido "de vez", ao menos por ora (em política, sabemos,
nada é "de vez" ou "para sempre"), os laços e pontes que
lhe unia aos amigos da sua praia.
Pode ter com esse
lance, portanto, partido em mar aberto "para sempre" e destruído as
pontes que o uniam às esquerdas, ao Lula e ao PT. Pode, de fato.
Os desdobramentos
dessa sua jogada (Precipitada? Impensada? Intempestiva? Oportunista?
Calculista? Genial?) no xadrez da política precipitou (e ainda está por causar)
uma série de desdobramentos outros, mar adentro – quero dizer, Estados adentro.
Ou, talvez fosse mais
apropriado dizer, consequências que só poderiam ser percebidas algumas jogadas
mais lá na frente, muito difícil de prever no calor da hora, no exato momento
em que se deu esse mais recente lance. Antevisão essa que só é possível aos
grandes enxadristas, capazes de enxergar vários lances à frente. Por isso,
insisto na pergunta: Eduardo Campos é um bom enxadrista?
Se for, parabéns pelo
lance "espetacular" – para ele, para a direita brasileira e para o
seu grupo político. Pois, além de resgatar para o palco principal o verdadeiro
candidato do PSDB, José Serra, já tem a seu favor a grande mídia, os setores
mais conservadores da sociedade e da política, um punhado de empresários,
prontos a lhe(s) financiar uma campanha milionária – para ele ou para Marina –,
dentre outras companhias.
Para ele ou para
Marina?! Não importa. Não importa?!
E Lula? Não conta
nesse tabuleiro? É jogador de damas ou dominó, por acaso? E Dilma?
E os formuladores e
articuladores do PT? Seriam estes meros diletantes ou neófitos da política,
singelos jogadores de damas ou dominó? Estariam, por acaso, nesse momento,
jogando dominó (ou damas) tranquilamente, curtindo as mornas tardes nas praças
públicas, felizes da vida em ganhar de "lasquinê" ou de "buchada
de sena" [ou "duplo-seis"(6X6)]? Estariam dormindo no ponto os
petistas? Difícil acreditar.
Não à toa observe que
tanto Eduardo Campos quanto Marina utilizam agora, como estratégia comum, a
"não ruptura" formal com o ex-presidente Lula e seu inestimável
cabedal político – afinal, a despeito de na prática "sabotarem" o seu
projeto político, não pretendem cometer um precoce suicídio político. Ambos se
pretendem "herdeiros" do chamado "lulismo".
Resta saber até
quando Lula continuará passando a mão na cabeça de seus ex-ministros, sem
deixar evidente aos eleitores que ambos já não estão ao seu lado.
Pois, sabem os
grandes enxadristas da política, Lula ainda é o fiel da balança nessa eleição –
notadamente para as populações do Norte e Nordeste, colégios eleitorais
praticamente cativos do ex-presidente.
Apesar de nordestino
e candidato, antes majoritário, Campos, ao oferecer a garupa a Marina Silva, sinaliza
abrir mão de sua candidatura à Presidência, e quiçá de sua carreira política.
Aposta todas as fichas na eleição de Marina para, ao fim e a cabo, por
"acaso", por "acidente", com os votos do Sul e Sudeste,
derrubar uma coligação de centro-esquerda do poder, colocando em seu lugar uma
frente ampla de centro-direita.
Resta saber se
ganhará essa aposta.
Como diz o pinguço
que joga sinuca comigo, todas as noites, no boteco lá perto de casa: "O
jogo é jogado, meu caro".
Vamos ao jogo então!
Ele está apenas começando.
Pesquisas a essa
altura do jogo só revelam fugazes instantâneos de nuvens passageiras – que,
como dizia a canção, com o tempo se vão.
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