quinta-feira, 16 de outubro de 2008

AINDA EM DEFESA DE MARTA."PERGUNTAR NÃO OFENDE", DIZ LUIZ MOTT

Quinta, 16 de outubro de 2008
Mott: "Não se deve tripudiar em cima de Marta"
Claudio Leal


A propaganda eleitoral de Marta Suplicy (PT), com insinuações sobre a vida pessoal do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), não provocou reações homogêneas no movimento gay. Na semana em que a campanha petista perguntou se o democrata era casado e tinha filhos, líderes históricos se dividem sobre a dubiedade do ataque televisivo.

Fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), doutor em Antropologia pela Unicamp e professor aposentado na Universidade Federal da Bahia, Luiz Mott avalia que a trajetória política de Marta não permite que a "mais importante" simpatizante da história do Brasil seja "tripudiada".

- Colocando na balança duas perguntas dúbias, que podem ser interpretadas não necessariamente como homofóbicas, e todo o histórico de ações e declarações favoráveis, não podemos tripudiar em cima de uma figura tão importante na nossa cidadania GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) no Brasil - pondera Mott, em entrevista a Terra Magazine.


O antropólogo identifica, por trás da indignação moral provocada pela peça publicitária, um viés homofóbico. Mott acrescenta: "perguntar não ofende" e se torna difícil a discrição de homens públicos em relação à vida privada.

- O eleitorado ainda vê o homossexual assumido, sério, como um risco, um sedutor em potencial e um "falso ao corpo", um termo usado no Nordeste para se referir aos homossexuais.

Leia a entrevista:

Terra Magazine - A propaganda de Marta Suplicy, na campanha de São Paulo, abala a importância dela para o movimento gay?

Luiz Mott - Considero Marta Suplicy a simpatizante, ou aliada, mais importante da história do Brasil. Pelo seu pioneirismo (em 1982, na TV Mulher, ela já me entrevistava), pelo projeto de lei de parceria civil de 1995 e por muitas outras participações em eventos GLBT e declarações solidárias. De modo que, colocando na balança duas perguntas dúbias, que podem ser interpretadas não necessariamente como homofóbicas, e todo o histórico de ações e declarações favoráveis, não podemos tripudiar em cima de uma figura tão importante na nossa cidadania GLBT no Brasil.

Parte dessas reações a Marta tem um tom homofóbico?

Também. Considero que há uma espécie de indignação moral excessiva, tanto por parte do núcleo GLBT quanto de (João Silvério) Trevisan, de Miriam Martinho, que são dois amigos, militantes históricos. Acho que perguntar não ofende e que, de fato, essa indignação tem a ver com essa mística de que a vida privada é intocável. Mas personagens públicos não podem manter esse tipo de discrição. Quem tá na chuva é pra se molhar. Depois de todos esses rumores, fartamente documentados no Google, sobre essa suposta homossexualidade de Kassab, somente agora ele declarou que não é homossexual e que é muito disputado por mulheres.

Por que é tabu, no Brasil, um político de uma grande cidade "sair do armário"? Há os prefeitos de Berlim e Paris...

Considero que o eleitorado ainda é extremamente homofóbico e moralista. Como já se disse, "gay somente caricato", como a eleição, em Salvador, da (vereadora transexual) Leo Kret. O eleitorado ainda vê o homossexual assumido, sério, como um risco, um sedutor em potencial e um "falso ao corpo", um termo usado no Nordeste para se referir aos homossexuais. Espero que isso seja superado e que nas próximas eleições se ultrapasse os quatro gays e travestis que foram eleitos este ano.

O senhor prestou solidariedade a Kassab. Mas, como avalia a propaganda de Marta?

Foi infeliz pela dubiedade, que permite várias leituras, inclusive sobre uma suposta homossexualidade secreta do Kassab. Agora eu lastimei, sobretudo, por ter perguntado se ele tem filhos. Reforça a idéia do familismo reprodutivo heterossexual. Num mundo onde há explosão demográfica, e tantos menores abandonados... Aqui em Salvador, o jornal Tribuna da Bahia publicou hoje: "Ser casado e ter filhos não é álibi de nenhuma homossexualidade. O grande exemplo é Luiz Mott, decano do movimento homossexual, que foi casado e tem duas filhas" (risos)


Terra Magazine .
Comentário.
Enquanto Kassab não sair de dentro do armário esta confusão não vai terminar.Infelizmente.

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