Mário Augusto Jakobsking
O Ibope respondeu de forma pouco clara ao artigo da semana passada intitulado A Face Oculta do Ibope. Na verdade, misturaram alhos com bugalhos, inclusive deixando a desejar em muitos aspectos. Na questão da negativa do recebimento de “salário”, o Ibope se saiu na base do pior a emenda do que o soneto ao “explicar” que os salários não eram salários, mas apenas brindes.
Como afirma o jornalista e cineasta Antonio Castigliola, o Ibope “não esclarece que tipo de “brindes” – casas, apartamentos, automóveis, caixas de bombons ou salários informais pagos por debaixo do pano?”
O Ibope tergiversou, porque ao “esclarecer” que a sua pesquisa abarca vários pontos do país, não respondeu propriamente a indagação sobre a pesquisa minuto a minuto. Isto é, como o artigo falava sobre X, o Ibope respondeu na base do Y.
Sobre a falta de rotatividade das famílias que participam da amostragem negada, na nota pelo Ibope, Castigliola fala da auditoria da Ernest & Young que constatou serem as mesmas famílias a participar da medição da audiência há pelo menos dez anos.
Decidi reservar o espaço desta semana ao próprio Antonio Castigliola, que foi a principal fonte do artigo que escrevi depois de ver o programa Ver TV, na TV Câmara, em que o jornalista deu várias informações sobre o Instituto.
Eis o que diz Castigliola neste artigo intitulado “Bolsa Ibope”:
"Eu não vim para explicar, eu vim para confundir". A máxima do Velho Guerreiro, Abelardo Barbosa Chacrinha, é o que sugere o Ibope. Em nota de esclarecimento (?) ao DR, contesta afirmação que fiz, durante debate no programa VerTV, ao questionar a medição da audiência televisiva feita pelo instituto, reproduzida em artigo recente do jornalista Mario Augusto Jakobskind, nesse mesmo espaço.
Ao falar durante aquele minuto quase final que o programa reserva ao debatedores, afirmei que as emissoras precisam se desatrelar da ditadura do Ibope para ousar, criar novas grades e formatos- o tema do VerTV era a criatividade (ou falta de) na televisão brasileira. Aproveitei .para revelar, ao falar da metodologia aplicada pelo instituto, o que pouca gente sabe.
Os dados minuto a minuto, em real time - aqueles que guiam as estratégias de atrações, como as dominicais - resultam da medição feita em apenas 750 casas, todas na Grande São Paulo. Ou seja, a área rural não é mensurada pelo Ibope por critérios até hoje desconhecidos Mais: afirmei que são as mesmas 750 famílias há dez anos, percebendo salários do Ibope.
Na nota, o Ibope nega que remunere as famílias que participam da pesquisa de medição de audiência, "obedecendo aos critérios estabelecidos pelo Codigo Internacional de Pesquisa Social e Pesquisa de Mercado". Mas admite que, "eventualmente", os participantes da amostra são "contemplados com brindes" Não esclarece que tipo de "brindes" - casas, apartamentos, automóveis, caixas de bombons ou salários informais pagos por debaixo do pano? Lembro que o próprio Código Internacional de Pesquisa Social e de Mercado, citado pelo Ibope, proíbe, terminantemente, qualquer tipo de "agrado" aos participantes da amostra. Para quem não sabe, o Ibope é uma multinacional, presente em 13 países. Ano passado, faturou o equivalente a 160 milhões de dólares. Verba para possíveis brindes generosos não faltariam em seu caixa.
No (des)esclarecimento, onde tenta confundir e não explicar, o instituto também garante que "o tempo máximo que um domícilio pode permanecer na amostra é de quatro anos". Vamos que seja esse tempo. Só isso já impediria a necessária rotatividade para uma amostragem séria - a renovação de pelo menos 25% dos participantes da amostra, a cada seis meses, é fundamental nesse tipo de pesquisa, indicam os especialistas na matéria. E nem impediria evitar "vícios", do tipo alguém sintonizar apenas uma emissora em troca de algum "brinde" especial do Ibope.
Mas não é. Uma auditoria da Ernest & Young verificou que as casas chegam a ficar até dez anos com um aparelho medidor de audiência, o peoplemeter, com tecnologia, pasmem, desenvolvida pelo próprio Ibope. Que há pouca ou nenhuma rotatividade de famílias, especialmente nas classes D e E, que representam, atualmente, o maior número de telespectadores da tevê aberta.. Nessas duas faixas, a Ernest & Young constatou a existência de famílias de desempregados, sobrevivendo em condições superiores ao que lhe possibilitaria o Bolsa Família que recebem do governo. Será que o instituto criou para essa faixa uma espécie de Bolsa Ibope, disfarçado de "brinde?.
Toda essa desconfiança levou Silvio Santos a liderar, em tempo recente, uma campanha para que outras emissoras fundassem um instituto de pesquisa próprio, suspeitando de distorções propositais, que favoreceriam ao conglomerado Globo.. O dono do SBT chegou a bancar a criação e manutenção do Datanexus Resultado: os números se mostraram incompatíveis com os do Ibope, com muitas variantes diversas do instituto.. Pressionado pelas agências de propaganda, que ameaçaram cancelar investimento de milhões em verba publicitária na emissora, SS desistiu da empreitada.
Na mistura de alhos (ou seriam dados?) com bugalhos, o Ibope tenta confusionar ainda mais. Diz que, ao contrário da informação prestada no artigo do jornalista Mario Augusto Jakobskind, baseado em minhas afirmações, "o Ibope monitora mais de 3,5 mil domicílios". Esclareça-se. São dois tipos de medições distintas Uma em tempo real, só em São Paulo, como mencionei no VerTV. Reconhecido pelo próprio Ibope, em seu site, quando fala que, em São Paulo, "os dados são enviados por sinais de rádio e os dados de audiência são apresentados imediatamente, com variação de um minuto". Ou seja, neste caso, confirmando o que afirmei, a audiência em tempo real que conta é a dos paulistanos.
Outra, que manda as informações no final do dia, feita em São Paulo, nos 750 domicílios que mencionei e em mais nove regiões metropolitianas. O que o instituto não informa é que ela trabalha com dois tipos de informação para o monitoramente da audiência.
A primeira, e menos conhecida, inclui no cálculo os aparelhos de televisão desligados e é traduzida em pontos Assim, somadas as audiências de cada uma das emissoras da tevêr aberta, num mesmo horário, não se chega a 100 pontos - número máximo. O segundo tipo de informação, conhecido como share, leva em conta somente os televisores ligados. Ou seja, o dado - expresso em percentual - segundo o Ibope, "resulta da relação de domícílios sintonizados em determinado canal com o número de televisores ligados no mesmo período Complicado, não?
A controvérsia sempre foi a marca registrada do Ibope desde sua fundação, em 1942, pelo empresário Auricelio Penteado, dono da extinta Rádio Kosmos, em São Paulo. A ele, juntaram-se as três principais agências de publicidade da época, entre elas, a Standart Propaganda, que deram o necessário aporte de recursos para a fundação do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Opinião. Quase sete décadas depois, o Ibope ainda é fonte de dúvidas e discordâncias. Principalmente no meio político, onde realiza pesquisas eleitorais, e na mídia eletrônica, onde audita a audiência desses veículos A julgar pela "nota de esclarecimento" (assim mesmo aspeado, por favor) enviada ao DR, a medição e explicação são feitas pelas beiradas.
3 comentários:
Olá Gilvan, beleza?
Aquí em Salvador a TV Bahia fez um malabarismo para explicar o "bom resultado" conseguido pelo Ibope. Fizeram uma tabela com três colunas e tres linhas. As colunas eram os índices alcançados pelos très candidatos. A primeira coluna representava o resultado de cada um na pesquisa que deu os três empatados com 31%.
A segunda coluna respresentava o que eles chamaram de pesquisa realizada no dia da eleição, evitaram falar bôca de urna. O resultado apresentado foi 31% Joâo, 30% Pinheiro e 27% Neto. A terceira coluna representava o resultado oficial da eleição, 31% João, 30% Pinheiro e 26 % Neto.
Além da TV não comparar o resultado oficial da eleição com pesquisas anteriores, aquelas que mostraram resultados discrepantes e tendenciosos, chegou à conclusão, baseados nessa pesquisa que na primeira coluna o Ibope apresentou algo em torno de 97% de acerto e na "bôca de urna" 99%. Credibilidade zero para a TV Bahia e para o Ibope. Abraços
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