"O amor é um cão dos diabos"
Manifestar amor ao presidente Lula rende xingamento, elogio, homenagem e patrulha
José Pedro GoulartDe Porto Alegre (RS)
Andei falando de amor pelo Lula por aqui e fui xingado, achincalhado, e também elogiado, homenageado, de tudo um pouco; teve um blogueiro chapeleiro que gastou um monte de tinta virtual patrulhando o meu afeto, sonegando meu direito a um discurso amoroso pelo presidente. Ô meu rei, eu te amo também, fica frio que tem pra ti. Tal e qual o Mayakovsky: "sou todo coração". Para os que duvidam, segue meu curriculun vitae (resumido).
1966 - No dia 5 de março, às 14h5min, então com seis anos, entrei pela primeira vez em um sala de aula.Às 14h08min desse mesmo dia, me apaixonei perdidamente pela professora, um amor unilateral cuja lembrança até hoje me dói. Em seguida, antes do recreio, às 15h45min, tirei os olhos da minha amada por alguns instantes. Foi então que eu descobri Marisa, meu segundo grande amor na escola.
1974 - O primeiro beijo me custou qüatorze anos de vida. Foi na Thaís, mas quase tinha sido na Sandra, de quem na época eu gostava mais. Razão pela qual o beijo foi dado de olhos abertos - eu queria ter certeza de que a Sandra estava olhando.
1975 - Esse foi o ano que eu tive meu primeiro contato (visual) com pêlos pubianos femininos, excetuando familiares. Foi no cinema, na tela.
1976 - Descobri a literatura de auto-ajuda: ganhei uma Playboy americana do meu tio.
1977 - Em março quase deu, mas não deu, em novembro deu, dia 08 foi o meu dia Deu.
1980 - Cursava o segundo ano de Geologia, mas desisti. Pensei, pensei, e compreendi que jamais poderia continuar freqüentando uma turma com 43 rapazes e só uma moça (que tinha uma ervilha peluda em forma de sinal no nariz). Havia duas opções com bem menos testosterona: Comunicação e Biblioteconomia. Confesso que por mim eu até ia de Biblioteconomia, dada a abundância de matéria-prima, mas me contive e acabei no jornalismo.
1981 - Provando o acerto na decisão de mudar o curso da minha história, tive uma experiência num motel com duas amigas da facul, isso depois de assistirmos a um filme sobre maio de 68. Nessa mesma noite, entre às 12h33 e às 03h04, descobri que eu nunca poderia dizer aquela frase famosa do Ziraldo. Botaram alguma coisa no meu vinho. Só pode.
1990/91/92/93/etc - "Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bundalelê."
2002 - Casei.
2003 - Love, love, love. Finalmente pai. All you need is love.
2008 - Bukowski (L&PM) - "O amor é uma cão dos diabos: me dê uma mulher verdadeiramente viva nesta noite (...) e o senhor pode ficar com todos os poemas."
José Pedro Goulart é cineasta e jornalista.
Terra Magazine.
Este patrulhamento referido pelo autor tem a cara do raivoso Reinaldo Azevedo.
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