sexta-feira, 10 de outubro de 2008

LULA PROMETEU AOS BRASILEIROS: O PERU DO NATAL ESTÁ GARANTIDO


Lula diz ser contra pacote anticrise e afirma que governo trabalhará com intervenções pontuais

A crise econômica que ameaça as principais economias do mundo não deve atrapalhar o Natal dos brasileiros, que será, nas palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "extraordinário". A previsão foi feita nesta sexta-feira (10) durante a primeira entrevista coletiva de um presidente da República exclusivamente para portais de Internet. Lula disse também que não trabalha com a possibilidade de um pacote anticrise. Segundo ele, o governo vai trabalhar com intervenções pontuais.

Trecho da entrevista coletiva"O Brasil tomou uma vacina. (...) Se a crise chegar, será em proporções menores do que nos Estados Unidos e Europa." A avaliação do presidente é de que os fundamentos econômicos brasileiros devem imunizar o país. "Estamos acompanhando com lupa", disse. "Estou convencido de que o Brasil sofrerá menos do que qualquer outro país a crise econômica surgida nos EUA. Precisamos nos preparar para comprar tudo aquilo que a gente sonha no Natal e torcer para que que o Ano Novo seja infinitamente melhor."

A crise econômica foi o assunto predominante na entrevista, que durou aproximadamente 30 minutos, feita no Palácio do Planalto com jornalistas do UOL, Terra, iG, G1, Limão e Agência Brasil.

Durante toda a conversa o presidente procurou passar tranqüilidade. "Meu papel é passar serenidade e a verdade absoluta", disse. No entendimento dele, há uma apreensão generalizada, sobretudo pelos fatos divulgados pela imprensa. Contudo, ele voltou a relativizar seu impacto. "Vamos dar à crise a dimensão que ela tem."

"Eu continuo otimista que nós vamos ter um Natal extraordinário no Brasil. Até porque, embora o Brasil esteja vivo e participando da economia global, a crise não chega do mesmo tamanho em todos os países do mundo. No Brasil nós ainda não temos nenhum grande projeto que tenha sofrido qualquer arranhão. A decisão do governo é de manter todas as obras do PAC, todas as obras de infra-estrutura que nós já assumimos compromisso."


Lula aproveitou para comparar o cenário atual com o período entre 1997 e 1999, quando os mercados enfrentaram as crises dos tigres asiáticos, da Rússia e do México. "O mundo de 2008 é diferente do mundo de 1998." Segundo ele, o Brasil vai se sair melhor agora diante de uma crise de US$ 2 trilhões do que quando enfrentou uma crise de US$ 40 bilhões ou US$ 70 bilhões em 1998.

"Só os Estados Unidos já colocaram US$ 1 trilhão. O nosso amigo Gordon Brown, primeiro-ministro da Inglaterra, ontem anunciou mais US$ 1 trilhão para o sistema financeiro. Já são US$ 2 trilhões, e a crise não está causando no Brasil o impacto que causou uma crise de US$ 40 ou US$ 70 bilhões. Isso porque o Brasil está mais sólido. Isso porque os empréstimos que nós temos que fazer para crescer, já estão contraídos. Isso porque os bancos brasileiros estão mais preparados, não estavam na especulação. Isso porque o BNDES está mais estruturado. Isso porque a economia brasileira está crescendo fortemente. Isso nós vamos continuar fazendo."

"Eu tenho conversado, tenho recebido cartas das indústrias que vieram me comunicar investimentos aqui, todas vão manter os investimentos. Aliás, Deus queira que o Brasil seja um bom lugar para que eles façam os investimentos e tenham os lucros necessários para ajudar as matrizes a pagar suas dívidas lá no exterior."

O presidente defendeu eventuais programas de auxílio a bancos, medida que vem sendo tomada por diferentes governos pelo mundo. Para ele, colocar dinheiro em instituições bancárias não é ajudar o banqueiro, mas o correntista. E sentenciou: "Este é o momento da política."

Lula afirmou ainda que é preciso tirar lições da crise. A principal deles seria a revisão do papel dos bancos centrais e a maior regulação dos mercados financeiros. Ele apontou a excessiva alavancagem praticada pelos bancos norte-americanos que, nas palavras do presidente, chega a 35 vezes, quando no Brasil ficaria em nove ou dez vezes o valor investido.

O presidente retomou metáforas usadas em discursos anteriores ao dizer que "não é crise dos pobres" e apontar que "desta vez o calo é no pé dos ricos", ou ainda ao afirmar que a "economia real foi ultrapassada pelo cassino financeiro."

Questionado sobre a agilidade em responder às ameaças da crise internacional, o presidente explicou que a estratégia do governo é intervir pontualmente para garantir a tranquilidade dos mercados.

"Tenho evitado pacotes. Este país quebrou a cara muitas vezes com pacotes", afirmou. Lula deu como exemplo o caso de um doente que precisa tomar 20 vacinas para se curar. "Não precisa tomar todas de uma vez." Ele afirma manter reuniões diárias com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para acompanhar os desdobramentos da crise.

"Na medida em que essa crise chegar ao Brasil e tiver implicação na diminuição dos investimentos, ou o governo for obrigado a diminuir os investimentos, com a mesma serenidade que estou dizendo que o Brasil está em um momento bom, eu vou dizer: companheiros, amigos e amigas, a situação está se agravando e nós vamos ter que fazer isso, fazer aquilo, e anunciar as medidas. Eu tenho evitado trabalhar com pacote. Tenho dito ao Guido e ao Meireles que com pacote atrás de pacote, este país já quebrou a cara muitas vezes. Eu prefiro ir tomando medidas pontuais, na hora em que for necessário."

"Não é porque o médico fala que você tem que tomar 20 injeções, que você vai tomar as 20 de uma vez. Toma uma de cada vez. Aí você vai se curar melhor do que se tomar todas de uma vez. Então, comigo não tem pacote, comigo serão medidas na medida em que for necessário tomar medidas."

Entre os planos do presidente está a convocação para os próximos dias de uma reunião extraordinária do Mercosul para avaliar o impacto da economia sobre o bloco.
Fonte: Uol.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lula é um nordestino/repentista. Sabe improvisar de tudo. Suas tiradas são fascinantes. Inebriantes. O povo se sente nele; quanto + atrasado, analfabeto, tanto maior sua fé. O povo se identifica com sua fala – um improviso. Repente. Aquele caso do homem de alhos azuis responsável pela crise, agradou muito. Nesta entrevista a que nos reportamos, Lula tangencia o científico da Economia, sem economez e fala que reunirá o Mercosul para que este tenha uma decisão a nível regional. Muito bem. Não creio que o sábio Fernando Henrique fizesse melhor.
Cicero Coelho Lapa (021) 2610-5850.