terça-feira, 21 de outubro de 2008

MERCADO DO SANGUE ALHEIO



A morte da moça Eloá pode ter revelado a colossal incompetência da polícia paulista, mas foi sobretudo uma fatalidade muito além da política. Não se pode atribuir a culpa principal à polícia, mas ao criminoso. Dito isto, a tentativa de neutralizar as consequências eleitorais da tragédia, direcionando os holofotes ao transplante dos órgãos, é mais um capítulo patético no romance de horror e decadência dos jornalões. Sabemos perfeitamente bem o que aconteceria se o governador não se chamasse José Serra nem pertencesse ao PSDB. Colunistas, apresentadores, especialistas, articulistas convidados, missivistas, todo o exército midiático entraria em cena para debilitar o político e as instituições políticas responsáveis pela trapalhada sangrenta.

Qualquer leigo agora sabe que a política cometeu erros sucessivos e incompreensíveis. Por que não invadiu o apartamento enquanto o sequestrador dormia? Por que permitiu que uma das rés retornasse ao cativeiro?

Entretanto, o caso que mais me deixa perplexo é a tentativa de atribuir a greve dos policiais paulistas e do embate entre eles e a polícia militar ao PT e às centrais sindicais. Afirmando que a greve é "política", Serra denegriu a "política", denegriu a "greve" e denegriu os trabalhadores, seus próprios policiais. Ao acusar a sua própria polícia de fazer um jogo sujo partidário, Serra ofendeu a honra de policiais que arriscam diariamente a sua vida e a vida de suas famílias para proteger 40 milhões de pessoas.

Atacando as centrais sindicais, Serra cometeu um ato falho e expôs sua face autoritária. Ora, qual a razão de ser das centrais sindicais e dos sindicatos senão defender melhores condições de trabalho para seus membros? A reinvidicação por salários independe de período eleitoral. Atribuindo a greve dos policiais ao PT, Serra agiu com má fé porque o PT não manda na polícia paulista. Força Sindical e CUT não mandam na polícia paulista. Ademais, a Força Sindical apoiou o PSDB durante décadas, e particularmente o governador Serra. Paulinho, presidente da Força, apoiou a eleição de Serra para presidente em 2002 e para prefeito em 2006. Contra o PT. Se a Força hoje integrou-se ao campo de forças governistas, é uma vitória legítima do governo Lula, que patrocinou políticas positivas e inovadoras para o sindicalismo brasileiro. Se quer também a boa vontade dos sindicatos, Serra poderia simplesmente fazer um bom governo.

O Estado de São Paulo informou que, caso o governo paulista cedesse às reivindicações dos policiais civis, o custo da folha salarial ficaria em torno de R$ 200 milhões mais caro. Se um banco ou grande empresário (doutor Ermínio de Moraes, por exemplo) apresentasse problemas de caixa, a imprensa não hesitaria em defender ajuda estatal.

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