quarta-feira, 15 de outubro de 2008

NADA MAIS INCENSURÁVEL



NOVES FORA, NADA




Eleitores voltarão às urnas no último domingo de outubro (26) para escolher o prefeito que governará as suas respectivas cidades por quatro anos. No Rio de Janeiro, onde reside este jornalista, bastante influenciados pela mídia, os eleitores optaram entre Eduardo Paes, o candidato do governador do Estado, do PMDB, e Fernando Gabeira, do PV (Verde). Antes de definir o voto, é preciso analisar profundamente quem é quem e que forças políticas compõem os respectivos campos.

Logo depois de conhecidos os resultados, as cúpulas de partidos políticos considerados de esquerda decidiram apoiar Paes, um cria de César Maia que foi secretário geral do PSDB, já considerou Lula “chefe de quadrilha”, e agora, de forma ridícula, na base do “esqueça o que eu disse”, correu atrás do Presidente para pedir voto. Gabeira, aproveitando-se de um passado de luta contra a ditadura, posando de lorde, corre atrás de personalidades.

Surpreendentemente, o candidato verde conseguiu o apoio do arquiteto Oscar Niemeyer, apesar do atual posicionamento de Gabeira, não apenas de aliança com os tucanos que estavam em extinção no Rio, como também votando sempre com a velha e a nova direita no Congresso. O lorde-verde, ou FHC esverdeado, como querem alguns, votou contra o monopólio da Petrobrás e pela privatização das telecomunicações, além de constantemente condenar o governo do Presidente Hugo Chávez e o regime socialista de Cuba.

Tudo que Niemeyer sempre defendeu com muita coerência, Gabeira atualmente combate com unhas e dentes.

Do lado do candidato de Sérgio Cabral, os jornais estamparam em primeira página ícones da esquerda (?) carioca como Vladimir Palmeira, Jandira Feghali, Benedita da Silva e outros menos votados sorrindo e de braços dados com Paes. O PSB e PDT de Lupi também anunciaram o apoio a Paes. Brizola deve estar se remexendo no túmulo.

Dona Jandira é bem capaz de tentar repetir o esquema Niterói, quando depois que perdeu a eleição para o Senado, em 2006, tornou-se secretária de alguma coisa. Se Paes vencer, podem crer, uma secretaria esperará por dona Jandira. Curioso, no primeiro turno dona Jandira do PC do B mostrava em sua propaganda eleitoral que Paes sempre foi um trânsfuga e que quando era parlamentar chamou Lula de “chefe de quadrilha”. Agora se apresenta como adepta de Paes, desde criancinha.

Paes, um candidato típico da direita privatizadora, como seu padrinho Sérgio Cabral, se for eleito vai seguir a linha do atual governador. Fará o possível e o impossível para privatizar as áreas de saúde e educação. Cabral quer entregar as escolas estaduais para a iniciativa privada. Com isso, esse setor terá um celeiro de mão de obra barata para ampliar seus lucros. A saúde nem se fala.

A mediocridade do candidato Paes não permite que ele tenha vôo próprio. Conseguiu se projetar com César Maia, que o considerava “o meu garoto”. Fez um estágio como secretário geral do PSDB e posteriormente bandeou-se para o PMDB de Cabral, agora se oferece a Lula. Este gravou mensagem de apoio a quem o ofendeu há três anos. Ou seja, para Paes, por conveniência, Lula não é mais chefe de quadrilha.

Gabeira também não fica atrás. Foi do PT, abandonando o partido depois de receber um chá de cadeira do então todo poderoso Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu. Hoje está alinhado com a nova direita, cuida de herbários do Jardim Botânico do Rio, como admitiu em um debate com Paes, mas aproveita o embalo para lembrar que no passado perdeu até parte do fígado no combate a ditadura. O seu projeto de gestão na Prefeitura do Rio não difere muito do de Paes. Já prometeu dar um “choque de capitalismo” no Rio, repetindo o que Mário Covas falava a todo o momento na eleição presidencial de 1989. Ou seja, pegou carona ideológica no esquema podre tucano e agora tenta iludir os incautos prometendo governar com “técnicos”.

Se for eleito Gabeira trará para a administração da prefeitura figuras perniciosas do ninho tucano, como Armínio Fraga, um ex-empregado de George Soros, o mega-especulador que comprou ações da Petrobrás e terras no Brasil, claro, para especular. Fraga sempre legislou em causa própria. O seu Deus é o lucro fácil e ao ocupar cargo público serve a interesses poderosos.

Gabeira quer dar um choque de capitalismo no Rio, por isso se aliou a patota do Estado mínimo. Por sua vez, Paes é dependente de forças políticas que criminalizam os pobres, como o Governador Sergio Cabral. Gabeira está tentando tirar uma de Carlos Lacerda ao prometer segurança e honestidade. Já mobilizou até o pessoal da Tropa de Elite para a sua campanha.

Em suma, os dois têm amplos espaços na mídia conservadora. Gabeira já ganhou até sete páginas da revista Veja. E no reino dos Civitas não se prega prego sem estopa. O esquema Globo jogou o tempo todo contra o candidato Marcelo Crivella, não pelo que ele defende, o que não é muito diferente de Gabeira ou Paes, mas pelos vínculos do senador com uma rede de televisão concorrente da família Marinho. Teve gente iludida que embarcou na canoa anti-Crivella e votou (in) útil em Gabeira. Os do ramo sabiam que os eleitores desse candidato não passariam de 19%. Não deu outra.

Ah, sim, Gabeira tem um grande sonho, talvez até maior do que ser prefeito do Rio: entrar nos Estados Unidos, porque a legislação de lá não permite o ingresso de quem participou de ações contra representantes de seu país. Como ele oficialmente participou do seqüestro do então embaixador Charles Elbrick, está impedido de ingressar na terra de Wall Street. Gabeira é capaz de fazer de tudo para conseguir, menos se valer de sua condição de parlamentar brasileiro e exigir a entrada.

Por estas e muitas outras, Gabeira ou Paes significam seis e meia dúzia.Só resta então o marcar o zero-zero. Será também um recado às cúpulas carcomidas da esquerda, que no fundo no fundo são seduzidas pelo esquema liberal, como diria o filósofo marxista-lacaniano Slavoj Zizek. Mas aí é outra história.
Mário Augusto Jakobskind

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