quinta-feira, 19 de março de 2009

UMA PETISTA EM EL SALVADOR


Brasileira, futura primeira-dama de El Salvador diz que país pode ser ponto de partida para o Brasil

19 de março de 2009


Uma brasileira será a primeira-dama de um país na América Central: Vanda Pignato, brasilo-salvadorenha nascida em São Paulo, é casada com o jornalista Mauricio Funes, eleito presidente de El Salvador no último domingo e que assume o cargo em 1º de junho. Em entrevista ao UOL Notícias, ela disse acreditar que "El Salvador pode ser um ponto de partida para o Brasil ampliar suas relações comerciais e culturais com os demais países da América Central".

Eleito pelo FLMN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional), partido que até o início dos anos 90 era um grupo guerrilheiro de extrema esquerda, Funes tornou-se jornalista de grande influência e muito popular no país antes de entrar de vez para a política. Essa popularidade, além de ter sido fundamental para a sua eleição no último domingo, também acabaria lhe rendendo, tempos depois, um casamento, como conta a futura primeira-dama.

Vanda, que é diretora do CEB (Centro de Estudos Brasileiros) de El Salvador, lembra que ao ser convidada pela emissora de televisão Canal 12 para opinar sobre a compra de um pacote de telenovelas, pediu para conhecer Funes, de quem, segundo diz, "já era fã de carteirinha por causa do seu estilo destemido e independente". Vanda brinca com o fato de ter conhecido seu marido por causa das novelas e compara a relação deles com "uma boa telenovela com todos os lances felizes".

A futura primeira-dama mora há 16 anos em El Salvador. Além de atuar na embaixada brasileira como diretora do CEB, para o qual foi nomeada em 1993, também representa o PT (Partido dos Trabalhadores) na América Central. Já recebeu várias premiações nos dois países por sua atuação social e cultural.

Na época em que El Salvador estava em guerra civil, Vanda conta que esteve várias vezes no front e, em algumas delas, chegou a entrar de forma clandestina para levar ajuda humanitária às populações atingidas. "Sempre tive uma relação profunda com El Salvador. No ano passado me naturalizei salvadorenha e, hoje, com muito orgulho, tenho as duas naturalidades", conta.

Funes também demonstra grande simpatia por Lula, que foi um dos primeiros a parabenizá-lo pela vitória nas eleições. Logo após ser eleito, o novo presidente de El Salvador já afirmou que pretende construir relações estreitas com o Brasil. Veja abaixo a entrevista da futura primeira-dama ao UOL Notícias.

UOL Notícias - Qual a sua visão sobre El Salvador e seu povo? Considera o povo salvadorenho politizado?

Vanda Pignato - El Salvador é um país apaixonante. O seu povo é afetuoso, tem um grande espírito de luta e muita consciência política. Apesar da campanha suja feita contra Funes e a FMLN, os salvadorenhos o elegeram e não se dobraram diante das calúnias e da campanha destinada a provocar o medo, que falava em onda de desemprego e em criação de dificuldades nas relações com os EUA.

UOL Notícias - Qual é a visão dos salvadorenhos sobre o Brasil?

Vanda Pignato - A visão dos salvadorenhos em relação ao Brasil é de muita admiração. Hoje, eles já têm muita informação sobre o nosso país, graças ao trabalho de divulgação que temos feito por aqui nos últimos anos e pela projeção do Brasil a partir do governo do presidente Lula.

UOL Notícias - A senhora participou da construção do projeto político apresentado por Funes durante a campanha? Como contribuiu?

Vanda Pignato - Sim. Participei com sugestões voltadas para a área social de nosso programa de governo, produto de minha experiência de mais de 25 anos de atuação política no Brasil e em El Salvador. Uma de minhas principais propostas adotadas pelo programa de governo de Funes foi o Cidade Mulher, que consiste na construção de grandes centros de apoio à mulher nas áreas de capacitação profissional, microcrédito, assistência jurídica e de saúde.

UOL Notícias - Na sua opinião, o que pesou mais para o povo de El Salvador ter escolhido Funes? As consequências da guerra civil, as dificuldades econômicas pelas quais o país passa, os quase 20 anos da coalizão do Arena ou os esses três fatores juntos?

Vanda Pignato - É óbvio que todos estes fatores tiveram o seu peso. Mas é importante registrar que, além de tudo isso, Funes encarnou um sentimento de esperança muito forte. A imensa maioria dos salvadorenhos, mesmo aqueles que não votaram nele por medo, deseja uma mudança profunda na maneira de governar o seu país. Eles não estavam aguentando mais a sucessão de políticas econômicas postas em prática pelos governos da Arena nos últimos 20 anos e que só beneficiaram uma minoria. Estas políticas são as principais responsáveis pela imigração de mais de 2 milhões de salvadorenhos para os Estados Unidos e outros países.


UOL Notícias - Como deverá ser a relação de El Salvador com o Brasil daqui para frente? Em qual aspecto a senhora acha que as relações entre Brasil e El Salvador precisam ser aprofundadas? E como deverá ser o relacionamento entre Lula e Funes?

Vanda Pignato - Acho que as relações entre o Brasil e El Salvador poderão melhorar muito daqui para frente, em especial na ampliação do fluxo comercial entre os dois países, que ainda é muito pequeno, mas que tem grande potencial para crescer. El Salvador pode ser um ponto de partida para o Brasil ampliar suas relações comerciais e culturais com os demais países da América Central. Para isso acontecer, sem dúvida alguma, a amizade entre Lula e Funes vai ajudar muito.

UOL Notícias - Como pretende desempenhar o papel de primeira-dama de El Salvador? Já sofreu algum tipo de preconceito ou ataque por ser uma estrangeira?

Vanda Pignato - Ao lado de Funes, vou continuar trabalhando para aprofundar as relações entre El Salvador e o Brasil, como já vinha fazendo em meu trabalho na embaixada, e também porque considero que esta aproximação é boa para os dois países. Da parte do povo salvadorenho, só tenho recebido carinho e simpatia. Posso dizer com segurança que nunca fui alvo de preconceito, a não ser da parte de uma minoria de donos de jornais a serviço da Arena. Mas, se isso não nos atrapalhou na campanha, certamente não nos atrapalhará no governo.

UOL Notícias - A senhora conhece o presidente Lula. Qual sua opinião sobre ele?

Vanda Pignato - Conheço o presidente Lula há mais de 20 anos, ou seja, muito antes de ele se tornar presidente. Mas desde aquela época ficou claro, para mim, que ele era uma figura muito especial. Um tipo de líder popular moderno, aberto, com forte intuição e agudíssima sensibilidade social. Nao é por acaso que ele esteja fazendo, hoje, o governo que faz e se torne, a cada dia, um líder com maior expressão internacional. Trata-se de uma pessoa rara e seu sucesso decorre exatamente disso.

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