O Lobista de Chávez
Jornalista brasileiro trabalha no Senado, mas faz hora extra para defender interesses da Venezuela
Claudio Dantas Sequeira, IstoÉ.
Cada vez que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, retoma a concessão de uma emissora de rádio ou de televisão em seu país, ocorre uma festa a 3.800 quilômetros de Caracas. O anfitrião é o jornalista mineiro Carlos Alberto de Almeida, funcionário concursado do Senado Federal. Apesar de duramente criticadas pela Sociedade Interamericana de Imprensa e pela Anistia Internacional, medidas como o recente cancelamento das licenças de operação de 34 estações de rádio são aplaudidas por Beto, como ele é conhecido, como ações necessárias à democratização dos meios de informação. Beto tem motivos de sobra para defender Chávez.
Há quase cinco anos, ele foi convidado pelo próprio presidente venezuelano para integrar o conselho diretor da Telesur, emissora criada para se contrapor à rede americana CNN na América Latina. "A cultura imposta por Hollywood nos faz perder a identidade cultural e baixa a autoestima da população", diz o jornalista, seguindo à risca a cartilha do caudilho venezuelano. Na visão de Chávez, a Telesur é "a CNN dos humildes".
Chávez formalizou o convite a Beto numa videoconferência, da qual também participou o comandante cubano Fidel Castro. Desde então, o jornalista tem viajado com frequência a Caracas para participar das reuniões do conselho, dividindo sua rotina diária entre as funções no Senado e a defesa dos interesses da agenda ideológica do presidente venezuelano. Sua principal meta é conseguir convencer o governo de Luiz Inácio Lula da Silva a se associar à empreitada de Chávez, o que demandaria constantes aportes financeiros para alavancar as atividades da Telesur no Brasil. Até agora a emissora funciona de forma precária, quase na informalidade. Mas, aos poucos, Beto vai avançando no lobby pelos ideais bolivarianos. Já emplacou, por exemplo, a programação da Telesur na grade do Canal Comunitário de Brasília, a "TV Cidade Livre", da qual é presidente. E está costurando um convênio entre a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), ex-Radiobrás, e a Telesur, que poderá ser assinado na próxima semana.
Amigo do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), Beto levou o sinal da emissora de Chávez para a TVE paranaense e garante que todo o trabalho que faz é voluntário, sem vínculo empregatício. "Eles apenas me pagam a passagem e a hospedagem." Em 2008, ele assinou com o governo Requião um convênio de "cooperação para serviços especiais de radiodifusão de sons e imagens", no valor de R$ 528 mil. Em abril, no Fórum Social do Mercosul, saiu em defesa dos amigos. "O governador Requião tem sido vítima da tirania midiática privada porque combate os monopólios, assim como Evo Morales (presidente da Bolívia), assim como o presidente Chávez", diz.
Em artigos e fóruns de discussão, ele também defende o repasse de verbas federais para emissoras públicas e comunitárias. Seu e-mail no Senado é encontrado em listas de debate na internet sobre o tema. O senador Álvaro Dias (PSDB- PR) estranha a dupla militância do funcionário, que trabalha na TV Senado. "É preciso saber se as atividades paralelas dele com o governo Chávez são compatíveis com os horários de trabalho no Senado", questiona Dias. A outra dúvida é se essas atividades bolivarianas são compatíveis com os princípios da liberdade de expressão.
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