sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cúpula tucana age para evitar constrangimentos

Jornal do Brasil - 04/09/2009

Parlamentar do PSDB tentou contratar esposa de Agaciel

BRASÍLIA - Depois do PSDB enquadrar o senador Papaléo Paes (PSDB-AP), a servidora Sânzia Maia, mulher do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, desistiu de ser transferida para o gabinete do tucano. Sânzia ligou para Papaléo e informou que percebeu o desgaste que gerou ao parlamentar e disse que não tinha interesse em prejudicá-lo.

Sânzia deve continuar trabalhando na gráfica do Senado, berço político do ex-diretor. A requisição para ela trabalhar com o tucano ainda não tinha sido publicada no Boletim Administrativo de Pessoal do Senado.

A notícia de que ela desembarcaria no escritório de Papaléo, divulgada ontem, gerou mal-estar na cúpula tucana. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), telefonou para o correligionário e pediu que ele voltasse atrás em sua decisão de contratar Sânzia.

A cúpula do PSDB avaliou que a contratação da servidora para o gabinete do tucano representaria um desgaste para o partido, um dos que mais elevaram o tom do discurso contra Agaciel – apontado nas denúncias como o principal articulador das irregularidades administrativas descobertas na Casa – e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que chegou a ser denunciado pela legenda ao Conselho de Ética, entre outras razões, por ter indicado e defendido a permanência do ex-diretor no cargo nos últimos 14 anos.

O presidente do PSDB não quis comentar o caso. Papaléo se disse “chateado” com a repercussão negativa da movimentação da servidora.

– Ela agradeceu, pediu desculpas, e disse que não queria me causar qualquer tipo de problema político. Agora, o que precisa ficar claro é que não é uma questão política. Ela já é servidora do Senado, não tem nenhuma irregularidade, não tem nada que pese sobre a conduta dela. Insisto que estou tratando esse caso como uma questão humanitária. Ela não pode ser condenada pela supostas irregularidades do marido – explicou Papaléo.

O tucano havia requisitada Sânzia nesta semana para trabalhar em seu gabinete. Papaléo, aliado regional de Sarney, disse ainda que não há fato algum que “desabone” o trabalho de Sânzia.

O feudo

Atualmente, a mulher de Agaciel está trabalhando na gráfica do Senado. Recebe por mês R$ 3.302,42, segundo Papaléo, e não teria nenhum reajuste com a mudança de lotação.

Sânzia permaneceu de 1999 até 2008 em uma situação considerada irregular na Casa. Foi nomeada pelo próprio marido para comandar a Secretaria de Estágios, mesmo com a Lei 8.112/90, que trata do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, proibindo que se mantenha sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil.

Ela acabou exonerada da função em 2008 quando o Supremo Tribunal Federal proibiu o nepotismo nos Três Poderes. O tucano, contudo, saiu em defesa do trabalho da servidora.

– Ela é servidora da Casa há mais de 20 anos, não tem nenhum processo administrativo nas costas, não vejo problema algum dela trabalhar aqui e espero que ela contribua muito com a nossa atividade na Casa – disse Papaléo antes de desistir da contratação.

O Senado estuda a demissão de Agaciel. Uma comissão para analisar a responsabilidade do ex-diretor na edição dos atos secretos foi criada e o prazo para que decida sobre o futuro de Agaciel terminaria no dia 6 de setembro, mas deve ser prorrogado. (Com agências)

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