terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sabujo critica mensaleiros do PIG


Jornalistas são arrogantes e não querem ser melhorados"

Autor(es): CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Folha de S. Paulo - 22/09/2009


Ombudsman da Folha atribui erros do jornal a pressa, preguiça e ignorância

NONO OMBUDSMAN da Folha e há 18 meses no cargo, Carlos Eduardo Lins da Silva, 56, afirma que os jornais e jornalistas são arrogantes, prepotentes e não aceitam contestações. "Não gostam de ouvir críticas, em nenhuma hipótese, e não querem ser melhorados", disse o jornalista, sabatinado ontem durante duas horas em São Paulo por quatro entrevistadores: o colunista da Folha Marcelo Coelho, as jornalistas Eleonora Gosman, correspondente do jornal argentino "Clarín", e Verónica Goyzueta, correspondente do espanhol "ABC", e Eugênio Bucci, professor da ECA-USP e colaborador de "O Estado de S. Paulo".

Durante o evento, realizado para lembrar os 20 anos da criação desse cargo no jornal, Lins da Silva falou sobre o dia a dia da atividade, sua independência em relação à Direção do jornal e à Redação, apontou erros da Folha e defendeu a criação de mecanismos de autorregulamentação pelos veículos de comunicação. "Ou os jornais se autorregulam para melhorar ou eles vão ser regulados por alguém, e vai ser muito pior para todo mundo." Cerca de 90 pessoas acompanharam a sabatina no Teatro Folha, em São Paulo.

FHC x Lula


"Muitos leitores acham que a Folha foi mais condescendente com o governo Fernando Henrique Cardoso do que com o governo Lula. Essa é uma resposta que só pode ser dada por meio de um trabalho acadêmico, científico, metodologicamente e comprovadamente constatado. Fica-se muito no terreno das impressões. [...] Na minha impressão, a Folha era muito dura com o presidente Fernando Henrique também. Ele tinha sido colunista da Folha durante muitos anos antes de se tornar presidente. [...] Quando deixou a Presidência, tinha tanto ressentimento em relação à Folha que foi ser colunista do "O Estado de S. Paulo"."

Credibilidade


"O que mais fere a credibilidade do jornal não é o tipo de crítica que ele recebe, mas o tipo de erro que comete. Se o jornal comete erros graves, a sua credibilidade paga. As críticas não são tão importantes quando são dirigidas por questões ideológicas ou por condicionamentos partidários. Parece-me que é muito pequeno o impacto desse tipo de crítica sobre a credibilidade do jornal no conjunto da sociedade. Mas quando o jornal comete erros graves, que podem ser imputados a posicionamentos ideológicos, acho que a credibilidade se fere."

Dilma


No caso do dossiê [da ministra] Dilma [Rousseff] fiz sugestões muitos concretas. Foi um caso polêmico, muito controvertido e nenhuma delas foi atendida. [Foi a situação] da reprodução de uma suposta ficha da ministra Dilma do período em que ela era militante de um movimento revolucionário no regime militar. Essa foto foi publicada na primeira página da Folha como se fosse verdadeira. Depois a Folha disse que não tinha como provar que era verdadeira, mas também não tinha como provar que era falsa. [...] Na minha opinião, é um dos dois erros mais graves que a Folha cometeu ao longo desses 18 meses.

Gripe


O outro [erro], mais grave ainda, é o da gripe A (H1N1). Há exatamente dois meses, a Folha, em chamada de primeira página, disse: "Em dois meses, trinta e tantos milhões de brasileiros devem estar infectados e 4,4 milhões devem estar internados". Isso baseado em um modelo matemático que não era alimentado por dados a respeito dessa gripe, mas sim de outras gripes do passado. Esse acho que esse foi o erro mais grave que a Folha cometeu nesse meu período [como ombudsman]".

Pressa e preguiça


"80% dos erros que saem no jornal podem ser atribuídos a três fatores: pressa, preguiça e ignorância. E acho que isso não tem muito como mudar, a não ser com um controle firme do comando da Redação."

Nenhum comentário: