terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um novo jogo de ataque contra defesa


Coisas da Política


Autor(es): Cristian Klein
Jornal do Brasil - 12/01/2010

As estratégias das campanhas da situação e da oposição para a eleição presidencial neste ano vão se definindo. Como mostrado na coluna de domingo, o PT partirá para o “oito contra oito”. Fará uma exaustiva comparação entre os oito anos do governo Lula contra os oito de Fernando Henrique Cardoso. Acredita que assim levará vantagem. O golpe mais pesado contra os adversários – a faca amolada – usará a tática da divisão da sociedade: o PT trabalhou pelo povo, pelos mais pobres; e o PSDB pelos mais ricos. Os tucanos já ensaiaram a resposta.

Em dezembro, o governador de Minas, Aécio Neves, ao abandonar a disputa com José Serra pela indicação do partido, delineou, em carta aberta, o que deverá ser o eixo da estratégia de campanha para as eleições de 2010. “Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o país ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres. Nossa tarefa não é dividir, é aproximar. E só aproximaremos os brasileiros uns dos outros através da diminuição das diferenças que nos separam”.

É um discurso bonito, elegante, de convergência, em prol de uma unidade nacional, que revela bem as distinções entre petistas – que sempre tiveram o domínio do discurso político, agressivo, direto – e os tucanos, mais afeitos à fala técnica, a contemporizações, à postura “em cima do muro”, que já virou folclore. O conteúdo tem uma baixa voltagem, posto que é conciliatório, ameno. Mas é tão ideológico quanto o do PT. Obviamente, há divisões na sociedade. Há o rico e há o pobre. E os estratos médios a impedir uma visão precisa sobre onde começa um e começa outro. Qualquer limite é arbitrário. Mas a questão é ressaltarem-se ou não os extremos, os polos. Aos petistas, isso interessa. Aos tucanos, não. Pois sabem que serão jogados para uma posição minoritária – o número de pobres é muito maior que o de ricos – e empurrados para a direita, o que parece ser o grande objetivo do governo, que tem em sua base de apoio parte desta mesma direita.

O fato é que os tucanos, mais uma vez, serão postos diante de uma situação em que se veem obrigados a fugir da briga. Como foi no segundo turno da eleição de 2006, quando a campanha de Geraldo Alckmin gaguejou e não soube responder à altura aos ataques de que os pessedebistas foram os arautos da privatização e vendilhões do patrimônio nacional.

É isso que está se desenhando novamente para este ano, com a estratégia do PT. Um novo jogo de ataque contra a defesa. Curiosamente, tanto a fleuma do PSDB e/ou sua paralisia – diante da enorme popularidade de Lula – quanto os acertos da gestão petista têm sido responsáveis, no Brasil, por uma inversão de papéis quase que naturais na dinâmica eleitoral. É o governo que joga na ofensiva; e a oposição, na retranca. Uma saída para os tucanos neste ano seria o discurso da alternância do poder, dos seus benefícios para a democracia como um valor. Parte de um eleitorado mais bem informado – ou indeciso diante da incógnita Dilma Rousseff – já tem se mostrado sensível a esse argumento. Mas ele atinge um segmento muito restrito e é por demais abstrato, frágil, diante do que vem à frente: se o governo está ou não atendendo aos interesses da maioria da população. E a maioria é quase toda pobre. Oi, se a saída para os tucanos seria o discurso da alternância do poder, eles devem ser varridos do Estado de São Paulo, pois faz mais de 20 anos que mandam no pedaço(observação minha).

A grande ironia é que parcela importante da elite, especialmente o setor industrial voltado para o mercado interno, também tem motivos para não querer mexer na toada desenvolvimentista que marca o segundo mandato de Lula. Daí sairá, com certeza, boa parte dos grandes financiadores da campanha governista rumo ao Planalto. Outra parte, ainda que não satisfeita, pagará a conta apenas para dar razão à sagaz máxima de Oscar Ameringer (1870-1943), um dos mais contumazes (e espirituosos) defensores do socialismo, nos Estados Unidos: “A política é a arte pela qual os políticos obtêm as contribuições para a campanha dos ricos e os votos dos pobres, sob o pretexto de proteger uns dos outros”.

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