Em sua Coluna Econômica de hoje, Luís Nassif
apresenta um consistente resumo sobre como operava o esquema de Carlinhos
Cachoeira que reproduzimos abaixo.
Pelas primeiras avaliações dos parlamentares que
compõem a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) funcionava assim a
associação criminosa entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a construtora
Delta.
1. A Delta se habilitava a uma licitação na qual
houvesse garantia de aditamento do contrato (isto é, de reajuste posterior do
contrato).
2. Tendo essa garantia, apresentava um preço
imbatível, muitas vezes inexequível. No caso do aeroporto de São Paulo, por
exemplo, o maior lance foi de R$ 280 milhões. A Delta apresentou uma proposta de
apenas R$ 80 milhões.
3. Ganhava a licitação e depois aguardava o aditivo.
Enquanto isto, a empresa ficava sem caixa para bancar seus fornecedores – de
peões de obra a vendedores de refeições e cimentos. Aí entrava Cachoeira
garantindo o capital de giro da empresa com dinheiro clandestino, do jogo. Ou
com o fornecimento de insumos, através de empresas laranjas. Estima-se que o
desembolso diário do bicheiro fosse de R$ 7 milhões, mais de R$ 240 milhões por
mês.
4. Quando vinha o aditivo, a Delta utilizava o
recurso – legal – para quitar as dívidas com Cachoeira, através das empresas
laranja. Era dessa maneira que Cachoeira conseguia legalizar o dinheiro do
jogo.
***
Quando algum setor relutava em fazer o aditivo,
Cachoeira recorria ao seu arsenal de escândalos e chantagens, valendo-se da
revista Veja.
Foi assim no episódio do DNIT (Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transporte). Aparentemente houve um conflito entre
Cachoeira e o diretor Luiz Antonio Pagot. Providenciou-se a denúncia, destinada
apenas a derrubar as resistências de Pagot. Como dizia um bom observador das
cenas brasilienses, Cachoeira pretendeu assar o porquinho e acabou colocando
fogo na choupana.
O que era para ser um alerta para Pagot coincidiu
com a ação do governo de demitir a diretoria do DNIT.
***
O rastreamento das ações de Cachoeira pela CPMI se
concentrará nos aditivos contratuais. E também nos pagamentos efetuados pela
Delta a fornecedores. A partir daí será possível identificar o enorme laranjal
que constituía o esquema Cachoeira, assim como os esquemas de corrupção nos
órgãos contratantes.
***
Outro trabalho será identificar as reportagens da
revista que serviram aos propósitos de Cachoeira. No caso da propina dos
Correios, por exemplo, sabe-se que o grampo foi armado entre Cachoeira e o
diretor da revista, com vistas a expulsar um esquema rival dos Correios.
Detonado o esquema, o próprio Cachoeira assumiu o novo esquema, até ser
desmantelado pela Polícia Federal.
***
Em todo esse processo, foi crucial a ligação do
bicheiro com a revista. Foi graças a ela que Cachoeira conseguiu transformar seu
principal operador político – senador Demóstenes Torres – em figura influente,
capaz de pressionar a máquina pública em favor do bicheiro. E foi graças a ela
que intimidava recalcitrantes na máquina pública.
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Ontem O Globo saiu em defesa da Veja, com um
editorial em que afirma que “Civita não é Murdoch”. Referia-se ao magnata
australiano Rupert Murdoch, cujo principal jornal, na Inglaterra, foi flagrado
cometendo escutas ilegais para gerar reportagens sensacionalistas.
Em uma coisa O Globo está certo: Murdoch negociava os grampos com setores da polícia; já Roberto Civita negociou com o crime organizado.
Em uma coisa O Globo está certo: Murdoch negociava os grampos com setores da polícia; já Roberto Civita negociou com o crime organizado.
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