Fábio Gomes,
gerente operacional do Cremesp, enviou o seguinte email, na tarde de ontem,
para a lista de funcionários da entidade:
Senhores chefes,
gerentes e funcionários,
Em virtude da
mobilização geral dos médicos agendada para hoje (dia 3 de julho), às 16h00, na
Associação Médica Brasileira (Rua São Carlos do Pinhal, 324), convocamos os
funcionários interessados em ajudar na realização desta atividade
extraordinária.
Os interessados
deverão procurar os funcionários da Seção de Eventos que estão alocados em
frente da Sede da AMB até às 16h00. Será concedida a utilização de boletos de
taxi até a AMB.
Trajeto: O ponto de
encontro será na Associação Médica Brasileira (Rua São Carlos do Pinhal, 324),
de onde a passeata sairá, às 16h, rumo ao gabinete de representação da
presidência da República, na avenida Paulista, 2163 ( esquina com rua Augusta;
prédio do Banco do Brasil).
Solicitamos às
chefias que dispensem os funcionários interessados em participar desta
atividade extraordinária, bem como para disponibilizar boletos de táxi aos
funcionários participantes.
As papeletas de
horas extraordinárias pela participação deste evento deverão ser encaminhadas à
Seção de Eventos.
Ou seja, a entidade
pagou táxi, dispensou seus funcionários mais cedo e ainda se dispôs a remunerar
com hora extra quem participasse da atividade. Fábio Gomes diz textualmente no
comunicado da convocação que “as papeletas de horas extraordinárias pela
participação deste evento deverão ser encaminhadas à Seção de Eventos”.
Muitos dos que
participaram do evento carregando cartazes, xingando Lula e Dilma e os médicos
cubanos na noite de ontem na Avenida Paulista não eram nem médicos e nem
médicas. Mas funcionários das entidades representativas do setor. Você pode ter
visto na Avenida Paulista escriturários, telefonistas, secretárias,
administradores, motoristas usando jalecos brancos e/ou carregando cartazes.
O blogue procurou a
assessoria de imprensa do Cremesp questionando se a entidade incentivou de
alguma forma o ato dos médicos na noite de ontem. A assessora informou que, por
decisão em assembléia, o Cremesp apoiou a manifestação. Indagada se isso
significava que funcionários da entidade foram liberados e receberam horas
extras para participar do ato, a assessora disse que não tinha essa informação.
A atitude do
Cremesp pode não ser ilegal, mas no mínimo é bastante questionável.
Vale registrar que
a Rede Globo realizou ontem uma empolgada cobertura do evento. Não falou que a
manifestação ao parar a Paulista afetou o atendimento nos hospitais da região e
nem que atrapalhou a circulação de ambulâncias. E mais do que isso, no Jornal
da Globo os cartazes atacando Lula e Dilma foram a estrela da reportagem e
ainda se registrou que haviam 5 mil médicos na manifestação. Estiva na Paulista
e vi o ato. Com muita generosidade, não havia 2 mil pessoas ali. E agora, como
se sabe, boa parte não era nem médico e nem estudante de medicina.
O debate sobre a
saúde no Brasil não pode ser exclusivo de uma única categoria. Há muitos
problemas no setor, mas um deles é sim a
forma como boa parte da classe médica brasileira se acostumou a atender apenas
em áreas centrais. Além disso, é preciso moralizar o setor. Muitos
administradores dizem que têm que fazer
vistas grossas para o uso de artimanhas por médicos que são contratados para
prestar uma quantidade de horas de serviço e não cumprem nem 1/3 do combinado.
Os que tentam enfrentar esses esquemas, são chantageados exatamente porque
faltam médicos no Brasil.
Criar novas
universidades nesta área é a melhor solução, mas demanda tempo. E as pessoas
que estão doentes hoje não podem esperar. Por isso, abrir o país para receber
mais profissionais desse segmento é uma iniciativa razoável. Outra, seria criar
cursos de especialização para outros profissionais de saúde brasileiros em
clínica geral. Exatamente o oposto do que os médicos querem. Eles defendem o
Ato Médico, que impede até que um paciente tome uma vacina de uma campanha do
governo se não passar antes por um médico. E que limitará a ação, por exemplo,
de psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas, entre outros profissionais da
saúde. O Ato Médico acaba de ser aprovado por pressão dos médicos no Congresso
por pressão dos médicos.
Não faz muito
tempo, um esquema de uso de dedos de silicone foi utilizado por médicos de
Ferraz de Vasconcelos para garantir a presença de médicos ausentes. O
“incentivo” que o Cremesp deu aos seus funcionários para serem médicos por uma
noite na Paulista é diferente do dedo de silicone. Mas ao mesmo tempo é a mesma
coisa. É falsificar a verdade de uma manifestação.
PS: Após a
publicação desta nota recebi a seguinte informação de um jornalista pelo
Facebook: “Trabalhei na Associação Paulista de Medicina, recebíamos boletos de
táxi e dinheiro para comer. Além disso, eram contratados figurantes para dar
número. E a proporção era bizarra, apenas uns 30% de médicos, chutando alto.”
Fonte:Blog do Rovai
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