domingo, 7 de julho de 2013

Dilma, abre os olhos


Convém entender que a maioria dos manifestantes de junho lê e ouve a mídia nativa, grande e infatigável acusadora do governo


por Mino Carta — CartaCapital
  


A presidenta Dilma cai na preferência popular e, segundo a última pesquisa Datafolha, hoje não se reelegeria no primeiro turno. Consequência da onda de protestos que rolou nas ruas do País? Certo é que a pesquisa em questão foi realizada enquanto os movimentos galopavam.

Na segunda-feira 1º de julho, no decorrer de uma reunião do governo, a presidenta anunciou a decisão de manter contato mais estreito com a mídia por meio de entrevistas coletivas. Reação compreensível, medida acertada. Tal é a forma correta de fazer conhecer realizações e propósitos governistas e de aprofundar a compreensão da personalidade presidencial. Dilma se expõe e se habilita a ganhar com isso.


Nada pior, pelo contrário, do que entrevistas de ministros nas páginas deste ou daquele jornalão ou revistão, ou pelos vídeos de nossa medíocre televisão. Exemplar, deste ponto de vista, o súbito comparecimento do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, nas páginas amarelas de Veja, para endossar as próprias teses da revista, defensora de uma pretensa liberdade de imprensa de fato jamais ameaçada. Faço questão de sublinhar mais uma vez: “Temos de acabar – disse o ministro – com a obsessão do PT de censurar a mídia”.

Volto ao assunto porque nem mesmo o PT reagiu à flechada ministerial. Enquanto isso, em entrevista ao blog de Luiz Carlos Azenha, valente e raro praticante do jornalismo honesto, Helena Chagas, ministra-chefe da Secom, faz uma confusa alusão a CartaCapital, sem ficar claro se alguém lamentaria a publicidade do governo dada, ou não dada, a esta publicação. De todo modo, a senhora Chagas insiste em acentuar que são os critérios técnicos a orientar a distribuição dessa publicidade. Fundamental é a audiência, afirma, para que o anúncio governista atinja o maior número possível de cidadãos. Já escrevi em outras ocasiões, e repito: se The Economist fosse brasileira, ficaria com um quinto da publicidade de Veja. Às vezes, ouso insinuar, a qualidade jornalística pesa mais que a quantidade de informações distorcidas. Ou de mentiras.

Pergunto aos meus desalentados botões: adianta falar das realizações do governo nos anúncios que sustentam quem diuturnamente ofende e denigre o anunciante? Embora inimigos do óbvio, bem como desalentados, não deixam de responder que teríamos, no mesmo espaço e ao mesmo tempo, tese e antítese, a afirmação do governo e seu pronto e feroz desmentido, a peremptória e agressiva negação de quanto afirma o anúncio governista. Seria interessante, em todo caso, avaliar até que ponto a mídia nativa influenciou as manifestações recentes. Observadores e altamente confiáveis me dizem que, passado o momento da revolta da periferia  precipitada pelo aumento das passagens de ônibus, as passeatas contaram com a presença majoritária de representantes da chamada classe média. Sim, estes leem a imprensa e ligam na Globo.


Já se justificou afirmar que, a despeito do empenho concentrado e maciço da mídia nativa no sentido de dificultar a vida da presidenta e do seu partido, Dilma ganharia com folga no primeiro turno do pleito de 2014. Patético soava o esforço midiático, embora o alvo da agressão, com generosidade samaritana, sempre se prontificasse a abastecer regiamente os cofres desta que é o verdadeiro partido de oposição. A perspectiva mudou. É a enxurrada do leite derramado.

Há quem diga que as passeatas de junho oxigenam a política brasileira. A verificar como e por quê. Por ora, quem está em dificuldade são os franco favoritos de escassos meses atrás, ou dias até.

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