segunda-feira, 16 de março de 2015

Classe média mostra sua face antidemocrática e fascista



As classes médias tradicionais e emergentes, compostas por grupos sociais reacionários, foram às ruas — aos milhares. Essas pessoas estão realmente dispostas a derrubar do poder a presidenta trabalhista legitimamente eleita, Dilma Rousseff, e, de forma autoritária e antidemocrática, mostram, sem quaisquer constrangimentos, seus lados fascistas, como o faz, historicamente, a direita em todos os países quando perde eleições e fica sem o controle dos governos centrais. A direita, por vocação e essência, é golpista, porque seu objetivo é o lucro e a hegemonia de classe social.
As palavras de ordem de conotações golpistas, os gritos recheados de palavrões e ofensas pesadas contra uma senhora mandatária da Nação, os bonecos de Lula e de Dilma enforcados, cartazes e símbolos a representar a suástica nazista, além de toda sorte de preconceitos e intolerâncias expressados sem qualquer ética e civilidade, deixariam o diabo, o pai da mentira, com náuseas e com as faces coradas de tanta vergonha.
Eis as multidões de classe média porta-vozes das forças políticas, ideológicas e econômicas que mais uma vez, a exemplo das passeatas de 1964, que alavancaram o golpe civil-militar, saem às ruas a carregar um ódio ideológico jamais visto nos últimos cinquenta anos, porque imagino que tal atitude desses reacionários só deve ter acontecido nos idos de 1964 e 1954, quando Jango e Getúlio tiveram de se deparar com movimentos politicamente à direita, a ter à frente setores golpistas das Forças Armadas, do empresariado, dos magnatas bilionários de imprensa (sempre eles) e da classe média sempre rancorosa e conservadora, que, a despeito das gerações, continua imutável no que concerne ao seu enraizado golpismo.
Percebe-se, nitidamente, que a classe média, principalmente a paulista, nostálgica da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de 1964, que descambou para uma ditadura de 21 anos, bem como saudosa da reação elitista e armada de 1932 contra um governo revolucionário, colocou em sua agenda a derrubada de uma mandatária eleita pela maioria dos eleitores brasileiros e que teve mais de 54 milhões de votos.
A pequena burguesia, indiscutivelmente, optou pelo confronto ao Governo Trabalhista, e vai continuar a realizar passeatas e protestos antidemocráticos, a "virilizar" pelas redes sociais seus interesses até então dissimulados, mas sistematicamente repercutidos por seus aliados e cúmplices da imprensa de mercado, por intermédio de cartazes, faixas, palavras de ordens, dizeres em camisas e camisetas, além dos sons dos trios elétricos, que não deixaram dúvidas que a intenção da burguesia não é patriótica, pois, com efeito, o propósito é conquistar o Estado, e, consequentemente, chegar ao poder, e, por sua vez, implementar-se a agenda política e econômica dos partidos derrotados nas eleições.
Soa como ridículo os coxinhas de classe média, de almas udenistas, chamarem o Governo Dilma de autoritário, bolivariano, comunista e até mesmo golpista, quando a verdade é que esse segmento social de valores direitistas se aproveita da plena democracia que viceja no Brasil para pedir "intervenção" militar, ou seja, simplesmente um golpe de estado, a usar, inclusive, a Constituição, que, segundo os golpistas, dispõe sobre o impedimento de presidentes da República.
Só que os coxinhas antinacionalistas e entreguistas têm de entender que a presidenta Dilma não cometeu crimes de responsabilidade ou qualquer malfeito, o que inviabiliza o golpe e a instabilidade constitucional. Ao contrário, se tem uma pessoa que não enriqueceu, esta pessoa atende pelo nome de Dilma Rousseff. Além do mais, as passeatas são bem-vindas, porque dessa maneira poder-se-á perceber o quanto esse segmento reacionário da sociedade se equivoca quando pede por uma intervenção militar em plena democracia. Trata-se, sobremaneira, de acinte e deboche contra a inteligência e a sensatez alheia.
De pensamento colonizado, a pequena burguesia golpista não suporta o Brasil e muito menos compreende o momento histórico que o País está a vivenciar. Na verdade, ela odeia o poderoso País sul-americano, como demonstra, inquestionavelmente, suas atitudes e palavras repercutidas pelas redes sociais. Diz cada coisa, que um cara como o Mussolini se sentiria um amador, porque ficaria espantado com tanta infâmia e desumanidade.
Depois saem às ruas, hipocritamente, a vestir a camisa da Seleção Brasileira, a empunhar mastros com bandeiras do Brasil e a dissimular, ao tempo que manipular suas verdadeiras intenções, que se propõem a derrubar uma presidenta constituída e que representa uma vertente do pensamento ideológico à esquerda do espectro político.
Trata-se do nacionalismo "global" praticado há décadas por essa gente portadora de um incomensurável complexo de vira-lata e que só dá "as caras" com seu nacionalismo alienado e despolitizado em corridas de fórmula 1 e esportes coletivos, como o futebol, pois compactuam com os interesses das empresas dos magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas, que se resumem a ganhar muito dinheiro de publicidade com as transmissões, de preferência por intermédio de dinheiro público, via Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES, Petrobras, dentre outras estatais. Alguém deveria avisar aos magnatas bilionários, neoliberais e privatistas, que suas empresas deveriam ser privatizadas, pois quem as alimenta é o dinheiro do contribuinte. Ponto.
O nacionalismo coxinha é iníquo, pueril e leviano, sem eira nem beira, bem a gosto das classes médias "revoltadas", vazias de pleitos sociais, porque desconhecem as realidades mais prementes do povo brasileiro e, por sua vez, não possuem capacidade para formular uma pauta reivindicatória, a ter, então, como saída para tanta incompetência e desconhecimento a reclamação, de forma altissonante ou histérica, sobre a corrupção e "tudo o que está aí", sem, no entanto, perceberem que foi exatamente o Governo de Dilma Rousseff, por meio da Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça, que prendeu e puniu os ladrões do dinheiro público.
São servidores concursados no fim da década de 1980 e início dos anos 1990, que no decorrer do tempo não foram investigados, como, por exemplo, nos governos do tucano Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, aquele que foi ao FMI três vezes, de joelhos, humilhado, com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil três vezes, além de hoje, aos 83 anos e somente lembrado pelas "elites" as quais serviu com esforço e dedicação, não ruborizar suas faces ao apoiar, recentemente, o impeachment de Dilma Rousseff.
Lamentável é o outono político de Fernando Henrique, pois medíocre e antinacional, que vendeu o Brasil igual a um caixeiro viajante e se recusou a pensá-lo, e, com efeito, transformar-se em estadista. Fazer o quê, né? Cada um e cada qual tem a dimensão histórica adequada ao seu tamanho político. E FHC é um anão político em toda sua plenitude, como verificarão inapelavelmente os historiadores e não os "historialistas" a serviço das famílias midiáticas, que nunca tiveram, não têm e jamais terão quaisquer compromissos com a independência do Brasil e com a emancipação do povo brasileiro. Sem sombra de dúvidas.
Todavia, a realidade é que essa gente está inconformada e com os olhos vermelhos de ódio e preconceitos. Estão furibundos, pelo motivo de seus candidatos e partidos não terem vencido as eleições, bem como a verdade é que essas pessoas não estão a brincar, e, se tiverem oportunidades, vão tentar derrubar a presidenta Dilma Rousseff, que até agora não reagiu à altura, por intermédio de comunicação do Governo, de seus líderes no Congresso Nacional e de seus aliados dos movimentos sociais, sindicais, estudantis e dos eleitores, aos milhões, que fizeram com que pela quarta vez consecutiva o PT vencesse as eleições presidenciais.
O que Dilma Rousseff espera? Por um golpe? O PT vai continuar a tergiversar sobre a realidade que se apresenta e não reagir a esse processo de imolação, criminalização, calúnia e difamação? A imprensa imperialista vai falar sozinha? O ex-presidente Lula e a presidenta Dilma têm de se reportar à sociedade, reconquistar a interlocução com sua base, que é a própria sociedade, a que é inquilina das camadas sociais mais pobres e populares. São nesses segmentos que estão os trabalhadores, os estudantes, os autônomos, a grande maioria dos servidores públicos, enfim, o povo.
O PT tem de entender que deve governar para quem elegeu sua candidata a presidente da República. Governar para quem acredita e apoia os programas e os projetos do Governo Trabalhista. A inimiga é a Globo. Ponto. Não há mais espaço para não compreender esta realidade, porque ela é factual e não hipotética. Ou o PT e o Governo Trabalhista tratem as Organizações(?) Globo como inimigas que querem, de fato, derrubar a presidenta Dilma Rousseff, ou arquem com as consequências — o golpe.
O PT tem de se reportar ao PMDB, negociar com paciência e cobrar desse partido, tradicionalmente moderador dos conflitos políticos, sua responsabilidade quanto à governabilidade. No Brasil de dimensões geográficas continentais não se governa e não se tem maioria no Congresso sem fazer alianças. Se um presidente brasileiro, seja qual for o partido e a ideologia, pensa que vai conseguir governar sem costurar a colcha de retalhos, que é formalizar uma coalizão, está redondamente equivocado, e, por seu turno, poderá sacramentar o fim de seu próprio governo.
Contudo, ainda tem solução viável para estancar esse sangramento, cuja adaga está nas mãos de uma imprensa familiar, massacradora, irresponsável, historicamente golpista e que diuturnamente lincha a mandatária eleita, criminaliza o PT e judicializa a política para fins de conquistar o poder central antes das eleições de 2018, a considerar, inclusive, uma aliança com o PMDB, até porque este partido tem força moderadora e, quando o processo político se encontra estável, a governabilidade se torna menos crítica e conflituosa.
Dividir o PMDB e levá-lo à oposição é o que quer a direita midiática e os partidos PSDB, DEM e PPS. Vale ressaltar que o PSDB quando esteve no poder também contou com a força moderadora do PMDB. Evitar esse processo draconiano de dissolução da aliança governista tem de ser a prioridade do PT e do Governo Trabalhista. Esta é a leitura correta a ser feita, pois, do contrário, o PT fica sem base política e vai ter enormes dificuldades para governar. Além disso, este é o desejo da oposição derrotada em 2014 e inconformada por não ter o controle dos recursos orçamentários federais há 12 anos, sendo que ainda tem quatro anos para Dilma Rousseff governar.
Por isto e por causa disto, a tentativa de engessar o Governo Trabalhista, fazê-lo sangrar, impedir que seus programas e projetos sejam realizados e criminalizá-lo ao máximo, por meio das mídias de negócios privados, do Judiciário e do Ministério Público burgueses, que jogam no time dos ricos, 24 horas por dia, todos os dias da semana, mês a mês, no decorrer de 365 dias, até que em certa eleição futura os pobres e os trabalhadores, as classes populares e os movimentos sociais ligados ao PT, ou que sempre optaram em votar no Partido dos Trabalhadores, troquem de lado e votem na direita dos coxinhas golpistas.
A direita que sempre explorou economicamente as classes populares, violou seus direitos humanos e trabalhistas e sistematicamente atuou contra os interesses do Estado brasileiro e dos trabalhadores. A direita da ditadura militar. É tudo isto que está em jogo. Se o PT e o Governo Trabalhista não enxergam estas realidades, então, que preparem seus caixões, encomendem o velório e se satisfaçam com seus enterros. Reagir é necessário e imperativo. O Governo Dilma e o PT ainda têm, sem sombra de dúvidas, muita força para se contrapor ao golpe, com a parceria estratégica do PMDB. É isso ai.


Davis Sena Filho

Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre

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