A foto é da manifestação pelo impeachment da Dilma, esse domingo, em Salvador. Não há um único negro na foto, e olha que nem tinha cordas pra separá-los, como no carnaval
O mais curioso é que esse mar de gente branca, os manifestantes das grandes varandas, os revoltados on line com a alta do dólar e o preço do Iphone 6, e as senhoras do Leblon que sofrem com domésticas que perderam os limites, apoiados pela velha mídia, tentam fazer parecer que toda essa indignação seletiva contra um partido e temas genéricos e ad-eternos como corrupção, é um movimento não dos mais brancos ou ricos, mas dos mais inteligentes, educados, informados, cultos ou sábios.
Afinal, só votaram na Dilma idiotas ou pobres sem educação e por causa do bolsa-família, acredita essa suposta elite que lê a Veja, tem certeza de que o Aécio é que deveria ser o presidente e ainda não aceitou a derrota.
Mas parece uma elite incapaz de propor qualquer medida real, além de relinchar contra uma corrupção generalizada e medidas econômicas que não estudaram a fundo e ouviram falar por grandes economistas formados em grandes instituições a serviço da economia dos bancos e reutilizados por veículos conservadores.
Parece não haver outros pontos para essas pessoas.
Parece menos importante do que o alto custo de viajar para o exterior ou comprar produtos importados, se ainda há quem não tenha o que comer, quem receba menos de mil reais por mês e pague metade disso de aluguel, que perca muitas horas do dia em transportes públicos que os carregam como animais na ida e na volta pra uma comunidade sem saneamento básico. Que hospitais particulares rendam bilhões enquanto a saúde pública é pior do que uma clínica veterinária. Que a educação privada renda bilhões enquanto a “pátria educadora” é um engodo e as universidades e escolas públicas estão e sempre estiveram em situação desesperadora. Que falte água diariamente em muitos lugares pobres, mas nunca falte para irrigar campos de golfe.
Ou então tratam também todos esses pontos como mais uma prova de culpa de um partido e de uma presidente. Esquecem que é assim desde a chegada dos portugueses, e continuará sendo, caso essa elite troglodita apoiada pela velha mídia conservadora consiga retomar o poder.
Que se há uma saída, ela não é tão simples quanto gostaríamos, como se tudo dependesse apenas de uma troca de governo.
Ou se eu estou enganado e eles de fato tem propostas, que as levem nos seus cartazes em vinil, alto falantes, broches e camisas polo, para suas manifestações.
É pra isso que elas servem!
Sugiro os lemas “Pela taxação de grandes fortunas”, “Pela democratização da mídia”, “Por menos impostos para quem vive na miséria”, “Contra a meritocracia dos herdeiros de mais de cinquenta imóveis”…
Bradar contra corrupção e problemas gerais da economia, já foi feito, todos já sabem que todos estão indignados.
A esquerda por se sentir traída pelo governo, por Levy “Maõs-de-Tesoura”, Katia “Motosserra” Abreu e o aumento geral das tarifas. A direita, por estar sendo plagiada, por ter seu programa de governo derrotado nas urnas, mas vê-lo implementado por “petralhas”.
“A presidência, às vezes eu acredito, é a ilusão da escolha”.
Sábio Frankie Underwood.
Pobre elite conservadora e troglodita, brutalizada pela lógica de mercado ao ponto de se tornar desumana. Pobre esquerda enganada e utópica, condenada a combater uma barbárie gourmet em meio a tanto ódio.
Pobres todos nós em tempos sombrios.
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Sobre o Autor
Leonardo é catarinense, jornalista e escreve no blog Van Filosofia. http://filosofiavan.wordpress.com
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