O que me estarreceu e me deixou um tanto sufocado e abatido pelo desalento, e com uma náusea que não passa, o que me deixou de estômago embrulhado mesmo foi constatar quanta gente neurótica, ignorante e baixo-astral existe neste país.
Basta a espoleta da mínima fagulha ou centelha para essa gente sair de suas catacumbas sombrias e dos esgotos: os bichos mais escrotos emergiram dos subterrâneos, das trevas e dos sórdidos subterrâneos da nossa sociedade: TFP; integralistas; carecas do ABC; gente da maçonaria, com seus fardões e flâmulas imperiais [completamente “old fashion”]; fascistas dos mais diversos calibres; militaristas; xenófobos; homófobos etc.
O discurso predominante, nas manifestações, foi o do ódio e da vileza. Não se deixe enganar, mais uma vez, pelo noticiário da grande imprensa de negócios, negociantes e negociatas.
Em meio a alguns inocentes, úteis e inúteis, famílias e pessoas de bem, que saíram às ruas com o legitimo intento de protestar contra a corrupção, o que se viu foi um verdadeiro desfile dos mais diversos recalques, transtornos psiquiátricos, ideologias fracassadas e/ou proscritas, neuroses e mazelas mentais afins.
Perdeu a razão aquele que marchou ao lado de gente que pede “intervenção militar” e ditadura.
Perdeu a razão aquele que marchou ao lado daquilo que de mais abjeto e retrógrado ainda subsiste na sociedade.
Perdeu a razão aquele que, tal qual um(a) boca-suja dos arrebaldes da minha infância de “maloqueiro”, xingou a maior autoridade da República, utilizando-se de impropérios que não cabe aqui repisar. Devemos ter o cuidado de não pisar em “caca” nessa nossa caminhada
A maioria, de modo desavisado, saiu para a manifestação com a displicência de quem sai para um passeio no parque num domingo de sol – olhe que em São Paulo o dia estava cinzento e chuvoso. Como não era dia de clássico no futebol, alguns fizeram a catarse ali mesmo, à luz do dia, e com as câmeras dos celulares e filmadoras como testemunhas “oculares”.
Selfie! Yourselfie! Myself!
Muitos chegaram ao desplante, sem constrangimento algum, de fazer, insistentemente, as famigeradas “selfies” com soldados do batalhão de choque.
Viva as manias e cacoetes da nossa classe média “sem loção”!
Oi! Como é que é?! Peraí... Eu também sou um “classe média”. Eu também sou um pequeno-burguês. Afasta de mim este cálice; este cale-se, pai!
Claro! Refletindo melhor, nada mais apropriado! Aqueles policiais são, como nós todos ao final, fodidos e mal pagos por um governo de estado corrupto e incompetente. Governo este que aqueles mesmos manifestantes reelegeram no primeiro turno da eleição passada , para matar jovens negros nas periferias ou para proteger o patrimônio dos bem nascidos.
Bem nascidos, como aquela “gente diferenciada”, que manifestava sua indignação seletiva em uma tarde de domingo.
Bem nascidos, como aquela gente privilegiada que mora em bairros elegantes das grandes cidades. Muito bem situados, estrategicamente, longe das periferias, onde moram os seus empregados, seus “serviçais”.
Bem nascidos que posavam, sorridentes, com suas roupas uniformes de domingo, ou com o uniforme da seleção do 7 x 1, abraçados com os brutamontes do pelotão de choque, treinados para, naquele dia, e só naquele domingo, quiçá nos outros vindouros, e só para com aquela gente “diferenciada”, “endurecer, mas sem perder a ternura jamais”.
Chocante! Um horror! Uma coisa medonha de se ver!
Aos hipócritas e aos inocentes, aquelas fotografias pareciam denotar uma improvável harmonia entre “centuriões do establishment” e os novos “militontos”, os tais arautos autoritários da “nova democracia”: a “democracia representativa dos filhinhos de papai”. Policiais e “filhinhos de papai”(e de mamãe) posavam ali, juntos – ali, e somente ali –, como que flagrados num instantâneo de inegável dissimulação e hipocrisia, irmanados numa coreografia tão simplória quanto um ballet para “crianças”.
Mas que “nova democracia” é essa, a dos “filhinhos de papai”, que não respeita a Constituição nem as instituições forjadas a ferro e fogo, banhadas em muito sangue e suor, durante anos de história, por autênticos democratas?!
Que democratas são esses que clamam por um golpe de força, por uma intervenção militar?! E que mandam a presidente tomar “naquele lugar”, dentre inúmeros outros impropérios, que não se deve reproduzir aqui, repito. E que ainda ensinam suas crianças a fazerem o mesmo.
Que verbalizam, sem pudor ou constrangimento algum, a precária arrogância dos ignorantes. Como se loucos fossem; como se houvessem, de fato e de direito, perdido a razão.
Que vociferam a sua arrogância da ignorância contra uma mulher, a presidente da Repúbica, uma das mais autênticas e honestas democratas que esse país já teve a honra de eleger. A primeira mulher a se eleger presidente da República do Brasil, eu destaco.
Sim, são ignorantes! Pois ignoram a Constituição; ignoram o Estado Democrático de Direito; ignoram a História; ignoram o Humanismo; a poesa! Ignoram a tudo e a todos.
Os psiquiatras e psicanalistas, muito provavelmente, já devem estar pensando em propor ao governo a implantação imediata de uma espécie de "Bolsa Rivotril" destinada a coxinhas, madames e "revoltados online". Seria medida prudente, para o bem da Nação. É preciso dar um "sossega-leão" para as bestas-feras e bichos escrotos que saíram às ruas – numa espécie de anunciação do apocalipse do bom senso e dos direitos humanos.
Pareceu-me que hordas, que se achavam "donos da razão", tinham, na verdade, perdido a razão nas sarjetas das grandes avenidas de algumas grandes cidades, Brasil afora, adentro, mas, preponderantemente, no desde sempre chamado "Sul Maravilha". Por que será? Não é mesmo?
Algum pobre coitado, algum gari ou catador de material reciclável – oxalá seja um homem bom e sensato – há de achar, em meio a tanta insanidade, essa razão perdida na sarjeta e assim, quem sabe, restaurar o bom senso, em meio ao alarido dos renitentes “panelaços” daqueles que fazem barulho porque, simplesmente, autoritários que são, recusam-se a ouvir o que o outro tem a dizer. Como crianças mimadas, birrentas.
Recusam-se, pois, ao diálogo. Tal qual a ditadura que não à toa querem ressuscitar do inferno dos nossos piores pesadelos
Vade retro! Esconjuro!
Deus me/nos livre que gente assim um dia assuma as rédeas, o comando deste país, já tão maltratado por séculos!
Presenciamos estarrecidos, em meio a um mal estar que deveria constranger e incomodar a todos os homens de bom senso, gente desfilando seu ódio e instintos os mais baixos e primevos nas avenidas, num triste "carnaval" da INFÂMIA e do OPRÓBIO.
Os inconsequentes e os arrogantes arautos da hoje “glorificada” ignorância, nos dias errantes e dissolutos que correm, agora se acham no direito de “no grito” tomar o poder destituindo uma presidente legitimamente eleita.
Sim, é isso memso, eles, notadamente os indivíduos da elite branca da região sudeste do país, perderam as eleições, mas não se conformam. Tal e qual meninos “criados com vó”, embalados/embriagados pelo ódio e pela completa falta de razão, tentam a pulso usurpar o poder.
Os “líderes” da oposição e a grande mídia celebraram esse "grande evento" com a alegria e irracionalidade de um GOL! num estádio de futebol, quando na verdade, deveriam deplorar.
Se esse novos arautos da intolerância e do ódio pensam que assistiremos, impávidos e silentes, destruirem o que levamos décadas de lutas no campo democrático para construir nesse país, estão redondamente enganados.
Se eles acham que podem dobrar de joelhos uma nação, seu povo e suas instituições a um ato de vontade de alguns garotões, patricinhas e madames da Zona Sul (no RJ), do farol da Barra (em Salvador-BA) ou de Higienópolis e dos Jardins (em SP), insisto, estão completamente equivocados.
Não é mesmo, trabalhadores, sindicalistas e Centrais Sindicais?
Não é mesmo, classe média esclarecida brasileira?
Não é mesmo, blogueiros de esquerda (ou “progressistas”)?
Não é mesmo, lideranças dos sem-teto?
Não é mesmo, movimento do sem terra?
Não é mesmo, cidadão?
Lula Miranda
Poeta, cronista e economista. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média
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