segunda-feira, 9 de março de 2015

O coxismo paneleiro ou o panelaço dos sem fome



"Será que essas panelas batem por que não há carros de luxo para pronta entrega nas concessionárias, já que a oferta está muito menor do que a demanda? Será que batem por que as filas de espera em restaurantes de luxo continuam grandes? Ou será que batem por que as viagens a Miami e os gastos de brasileiros no exterior continuam crescendo? Só tenho certeza que elas não batem pelos milhões de brasileiros que nos últimos anos, durante os governos Lula e Dilma, deixaram a linha da pobreza. Ou pelos outros milhões que chegaram à classe média". (Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo)
O Mau Dia Brasil, um dos jornais panfletários da Rede Globo e a serviço do campo político conservador, locupletou-se, hoje, com informações propositalmente editadas sobre o caso de corrupção na Petrobras, que está a ser severamente combatida pelo Ministério da Justiça, do Governo Dilma Rousseff, a ter como subordinada à Pasta a Polícia Federal, que nunca em sua história esteve tão livre para atuar e concretizar suas ações de investigações e prisões de corruptos e corruptores.
Até então, os governantes anteriores, como, por exemplo, os do PSDB, nunca investigaram nada e não prenderam ninguém. Pelo contrário, o Governo de Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I — contava com a atuação desastrosa para o País do procurador-geral, Geraldo Brindeiro, autoridade conhecida também como engavetador-geral da República, que ficou célebre em não permitir que denúncias e processos fossem à frente e chegassem às barras dos tribunais.
Agora, o Brasil está a se deparar com os protestos de eleitores conservadores e pessoas não afeitas à democracia, e, portanto, contra a inclusão social e a distribuição de riqueza e renda. Afinal, se tem uma coisa que coxinha udenista de classe média não admite é seu indisfarçável elitismo, seus preconceitos que remontam os seus mais longínquos antepassados, que são demonstrados, na maior "cara dura", por intermédio das redes sociais, em seus lares e trabalhos, além de repercutirem ódios e intolerâncias nos bares espalhados por este País.
Os jornais televisivos, as rádios, as publicações e a internet replicam o pensamento da direita e não abrem espaços aos seus adversários para que eles possam falar de seus propósitos como governo e ao menos se defender de acusações, muitas delas levianas, seletivas e manipuladas, pois o objetivo é hegemonizar o pensamento conservador e fazer com que grande parte da população brasileira tenha acesso a um jornalismo monocórdio, no qual apenas um lado fala, acusa, denuncia e inapelavelmente massacra seus adversários, sem dar oportunidade ao contraditório e àqueles que são acusados, mas não podem se defender na mesma dimensão dos aliados políticos dos magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas e cartelizadas.
O Brasil está a vivenciar o coxismo paneleiro ou o panelaço dos sem fome. É inacreditável, pois, com efeito, surreal a manipulação midiática sobre tal "protesto" quando indivíduos das classes média, média alta e ricas resolveram bater em panelas, como se esse ato de conotação demagógica tivesse a autenticidade daqueles que realmente passam fome ou que foram reprimidos pelas ditaduras militares, que vicejaram durante décadas na América do Sul.
Ao tempo que batiam nas panelas, tais coxinhas de barrigas cheias e de modos raivosamente lacerdistas começaram a desligar e ligar as luzes de suas casas e de seus apartamentos confortáveis, localizados nos melhores bairros de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. De acordo com o Mau Dia Brasil, os protestos têm como motivo principal o pronunciamento de Dilma Rousseff na televisão, quando a mandatária trabalhista falou à Nação para explicar as últimas decisões do Ministério da Fazenda, bem como sobre a corrupção na Petrobras, que começou no fim dos anos 1980 e praticada por funcionários de carreira, concursados, que, com o tempo, conquistaram postos de poder e mando, para, no fim, envolverem-se em corrupções, que hoje estão à mostra para todo o Brasil, de forma transparente e livre de tergiversações.
O coxismo histérico, desembestado e o panelaço dos sem fome, ocorridos na noite de domingo é um prévia das manifestações que ora acontecerão, no dia 15 de março. Pelo o que eu vi, essas encenações podem até chamar a atenção, porque a imprensa meramente de mercado e que deseja há mais de um século pautar os governantes e a sociedade brasileira vai repercuti-las a exaustão. É assim que a banda toca nesses pagos ou plagas. Não há como ser diferente, porque por meio do voto a direita brasileira está a perder a quatro eleições.
Entretanto, é salutar que as instituições democráticas exijam que o estado de direito seja respeitado, para que não haja no futuro confrontos entre os partidários da direita deste País contra os militantes das esquerdas brasileiras e dos movimentos sociais ligados a elas. Uma tentativa de golpe de estado não seria sensata e muito menos possível de acontecer, porque não vivemos mais em um Brasil ainda quase agrário, desinformado e com uma população com muitos analfabetos, como acontecia em 1964.
Reconheço que a direita não desiste nunca para ter seus privilégios e benefícios jamais diminuídos, porque deixar de tê-los é quase impossível em um País como o Brasil, onde viceja um capitalismo selvagem, patrono de uma das mais perversas e mórbidas concentrações de renda do mundo. O que nós, da esquerda, queremos é distribuição de renda e riqueza, combate à pobreza, inserção social plena à população, além de um Estado nacional forte e que facilite o acesso à saúde, à educação, ao emprego e à moradia de boa qualidade. O restante vai se conseguir aos poucos, mas sistematicamente. O que a esquerda e o Governo do PT querem é o Brasil independente e o povo emancipado. Ponto.
Esses pontos centrais são o que a direita quer evitar que se concretizem. Os reacionários de classe média, os ricos e seus partidos conservadores aliados da imprensa de negócios privados sabem disso. Porém, por sabê-lo, dissimulam, manipulam e mentem sobre as realidades ora apresentadas nesse contexto de crise na Petrobras, que se transformou em uma novela de estilo mexicana nos telejornais, que dia a dia massacram seus adversários, porque são matrizes do ódio político e da intolerância racial e de classe social.
Se alguém duvida, que se dê o trabalho de ler os comentários de coxinhas udenistas sedentos de sangue, que odeiam a igualdade entre as classes e que se mostram, indisfarçadamente, rancorosos e intolerantes com a ascensão social de parcela da população, que sempre serviu a essa gente como trabalhador braçal e mão de obra barata. Para um coxinha, ver negros, nordestinos e pobres a frequentar os shoppings, as universidades públicas, os aeroportos, os restaurantes, os cinemas e os bairros onde moram como consumidores é o fim da picada. Para os coxinhas udenistas de almas lacerdistas é preferível morrer.
Por isso, essa gente se sente traída pelo Governo Trabalhista e popular, que também a beneficiou e facilitou seu acesso aos bens de consumo tão afeitos ao coxismo paneleiro amante de Miami e Nova York. A quem interessou o panelaço dos sem fome? Respondo: ao PSDB e ao DEM, aos magnatas bilionários de imprensa, ao empresariado rural e urbano direitista e fundamentalista, que age por intermédio de suas federações e confederações, à parte da classe média ideologicamente conservadora e vingativa, pois inconformada, deveras, em dividir "seus" espaços com os mais pobres.
A verdade é a seguinte: o protesto de classe média não teve o alcance desejado pela oposição demotucana. De forma alguma. Tanto o é verdade que o hashtag#DilmadaMulher, que teve a intenção de apoiar a mandatária deste País foi uma das mais usadas pelos internautas, ao ponto de entrar para o trending topics do Twitter. Este fato ocorreu no decorrer do pronunciamento da presidenta Dilma Roussef. A resumir: os coxinhas não representam a maioria do povo brasileiro, que deu à Dilma mais de 54 milhões de votos. O panelaço e o coxismo aconteceram somente em bairros nobres de algumas capitais. Protestar pode; dar golpe, não. É isso ai.

Davis Sena Filho

Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre

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