Por Tereza Cruvinel
Comunicação nunca foi
uma matéria de grande interesse para a presidente Dilma Rousseff.
Enquanto ela navegava na alta popularidade, pôde prescindir de uma
política de comunicação arrojada, que lhe tem feito muita falta agora,
no tempo das vacas magras. A escolha de Edinho Silva para chefiar a
SECOM, fugindo do script tradicional, tem tudo para ser um acerto.
O requisito fundamental de um bom
ministro-chefe da SECOM não é ser jornalista, ter boas relações com os
coleguinhas ou trânsito com os donos da mídia. Conhecer os aspectos
específicos é importante, mas essencial é a capacidade para fazer a
leitura correta dos fatos políticos, perceber para onde o vento sopra e
desfrutar da confiança do titular da Presidência, inclusive para falar
pelo governo sem ter podido consultá-lo. Como fazia Franklin Martins no
segundo governo Lula, para não recuar muito. Ou Fernando Cesar Mesquita
no governo Sarney, recuando um pouco mais. Não adianta ter ali um
repetidor do que disse o (a) presidente.
A Secom também exige capacidade de
gestão, pois não se limita à Secretaria de Imprensa, nela incluída agora
a alimentação das redes sociais, e à atividade de porta-voz. A ela
estão vinculados os setores de publicidade oficial (com verbas que
alcançam os R$ 200 milhões), o departamento de pesquisas e a EBC –
Empresa Brasil de Comunicação, responsável por serviços de comunicação
governamental e por canais de comunicação pública. O projeto segue em
construção e precisa ser fortalecido.
O que a mídia destacou até agora na
escolha de Edinho Silva foi o fato de ele ter sido tesoureiro da
campanha de Dilma no ano passado. Isso já passou e as contas foram
aprovadas. Então, há zero de relação entre uma coisa e outra. Ele foi
escolhido por um conjunto de atributos, não por isso.
Afora ter familiaridade com o tema
da comunicação e compreender os desafios que o governo tem nesta área,
Edinho Silva é uma liderança interna importante no PT. É da corrente
Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula, que foi excluída do
núcleo palaciano com a saída de Gilberto Carvalho. Ele fortalece o
vínculo entre Dilma e o partido, nesta hora em que ela só pode contar
mesmo com o PT – vide o que tem feito o PMDB e o descompromisso da
maioria dos partidos da base. Sua presença no governo também funcionará
como uma espécie de ponte entre a era Dilma e o futuro do projeto
petista, com uma candidatura de Lula em 2018. Ele tem a confiança dos
dois.
O novo ministro obviamente terá um
secretário de imprensa para cuidar das relações imediatas com os
jornalistas e um secretário-executivo para tocar a burocracia da Secom. E
com isso estará mais livre para agregar conteúdo político à comunicação
do governo, que sob Dilma foi tímida e equivocada. Muito provavelmente,
tal como Gushiken e Franklin, Edinho terá assento nas reuniões de
coordenação política.
Muito foi dito também sobre pressões
do PT para que veículos alinhados com o governo sejam melhor
contemplados com verbas publicitárias, mas este não é o ponto central.
Obviamente qualquer governo deve levar em conta, na distribuição das
verbas, os indicadores de audiência, circulação e acesso dos veículos
mas não pode submeter-se exclusivamente a eles. Quando faz isso,
alegando estar praticando a “mídia técnica”, está apenas mantendo ou
aprofundando as assemetrias existentes, ao invés de estimular o
pluralismo, um nutriente da democracia.
Por fim, Dilma deixou de errar
também a fazer rapidamente a escolha. Na Secom, uma interinidade
prolongada, como outras que estão por aí, seria fatal para um governo
que enfrenta adversidades de toda ordem o tempo todo.
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