Bancos, montadoras e gigante da alimentação são alvo de operação contra propina
Grupo de comunicação RBS, presidido por Eduardo Sirotsky
O Grupo RBS lidera a quadrilha dos sonegadores, propineiros.
Em Brasília
Os bancos Bradesco, Santander, Safra, Pactual e Bank Boston, as
montadoras Ford e Mitsubishi, além da gigante da alimentação BR Foods
são investigados por suspeita de negociar ou pagar propina para apagar
débitos com a Receita Federal no Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf). Na relação das empresas listadas na Operação Zelotes
também constam Petrobras, Camargo Corrêa e a Light, distribuidora de
energia do Rio.
"Aqui no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) só os
pequenos devedores pagam. Os grandes, não", resumiu um ex-conselheiro do
Carf, com cargo até 2013, numa conversa interceptada com autorização da
Justiça, segundo relato dos investigadores. Procuradas pela reportagem,
a maioria das empresas informou não ter conhecimento do assunto.
A fórmula para fazer o débito desaparecer era o pagamento de suborno a
integrantes do órgão, espécie de "tribunal" da Receita, para que
produzissem pareceres favoráveis aos contribuintes nos julgamentos de
recursos dos débitos fiscais ou tomassem providências como pedir vistas
de processos.
Grupo de comunicação RBS, presidido por Eduardo Sirotsky e afiliado da Rede Globo no Rio Grande do Sul, é um dos alvos da Operação Zelotes, da Polícia Federal; grupo é suspeito de pagar R$ 15 milhões para obter redução de débito fiscal de R$ 150 milhões; ao todo, os débitos fiscais da RBS somariam R$ 672 milhões.
O grupo Gerdau também é investigado pela suposta tentativa de anular débitos que chegam a R$ 1,2 bilhão.
O banco Safra, que tem dívidas em discussão de R$ 767 milhões, teria sido flagrado negociando o cancelamento dos débitos.
Estão sob suspeita, ainda, processos envolvendo débitos do Bradesco e
da Bradesco Seguros no valor de R$ 2,7 bilhões; do Santander (R$ 3,3
bilhões) e do Bank Boston (R$ 106 milhões).
Outro lado
Os casos apurados na Zelotes foram relatados no Carf entre 2005 e 2015.
A força-tarefa ainda está na fase de investigação dos fatos. A lista
das empresas pode diminuir ou aumentar. Isso não significa uma
condenação antecipada.
A Camargo Corrêa é suspeita de aderir ao esquema para cancelar ou
reduzir débitos fiscais de R$ 668 milhões. Também estão sendo
investigados débitos do Banco Pactual e da BR Foods.
A empresas citadas foram procuradas pela reportagem. O Grupo RBS
informou que "desconhece a investigação e nega qualquer irregularidade
em suas relações com a Receita Federal". O Bradesco e a seguradora
especializada em saúde do grupo Bradesco Seguros informaram, por meio de
nota, que não comentam assuntos sob investigação das autoridades
judiciais.
O banco BTG Pactual, sucessor do antigo banco Pactual, também afirmou,
via assessoria, que não comentaria. Entre as instituições financeiras,
Santander e Banco Safra foram procurados, mas não se manifestaram. O
BankBoston não foi encontrado. A Gerdau afirmou que não foi contatada
por nenhuma autoridade pública a respeito da Operação Zelotes. "A
empresa reitera que possui rigorosos padrões éticos na condução de seus
pleitos junto aos órgãos públicos", informou, por meio de nota.
A Embraer afirmou que não tem nenhuma informação a respeito do assunto.
A Camargo Corrêa também informou desconhecer "informações suscitadas
pela reportagem". A Petrobras não quis se pronunciar, da mesma forma que
a concessionária Light, do Rio de Janeiro. A Copersucar disse que
desconhece o teor das informações e reitera que cumpre rigorosamente com
todas as normas e legislação vigente.
BR Foods, Mitsubishi MMC, Ford Indústria, Cervejaria Petrópolis, Évora,
Marcopolo, Nardini Agroindustrial foram procurados mas não responderam
até o fechamento desta edição. A reportagem não conseguiu localizar
Ometto, Viação Vale do Ribeira, Via Concessões, Dascan, Holdenn, Kanebo
Silk e Cimento Penha e CF Prestadora de Serviços. A reportagem não
conseguiu identificar com segurança quem são Carlos Alberto Mansur e
Newton Cardoso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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