O novo herói da direita.
Você pode imaginar um juiz britânico – Leveson, por exemplo, o que conduziu as discussões para a regulação da mídia no Reino Unido – numa festa de um magnata da mídia como Rupert Murdoch?
A resposta cabe em três palavras: não, não e não.
Mídia e Justiça devem fiscalizar uma à outra, numa sociedade séria e adulta. Não podem se dar tapinhas nas costas e confraternizar como velhos camaradas.
Que a Globo ignora esse princípio vital da democracia é óbvio. Cenas constrangedoras, no calor do Mensalão, reuniram juízes do STF e jornalísticos icônicos da Globo.
Que o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, não sabia disso é um fato novo, ainda que não surpreendente num país de Justiça partidária como o Brasil.
Num mundo menos imperfeito, Moro teria recusado um prêmio da Globo. Polidamente, assim como um jornalista rejeita um presente caro.
Mas Moro não resistiu, e as imagens dele na premiação são lastimáveis. A posteridade haverá de olhá-las como símbolo de um tempo de atraso no Brasil.
Não há almoço de graça, e nem prêmio. Uma organização como a Globo não premia ninguém sem que haja interesses por trás.
Do ponto de vista prático, o que se deve esperar de alguma causa jurídica que envolva a Globo e que acabe caindo nas mãos de Moro?
A aceitação da homenagem já foi um ruim. Mas as palavras de Moro – e o olhar deslumbrado traído pelas fotos da cerimônia – tornaram as coisas ainda piores.
Moro, segundo o site do Globo, disse ter ficado “particularmente tocado” com os protestos de domingo.
Visto que foram protestos em que Dilma foi massacrada, a declaração de Moro não poderia ser mais reveladora.
Mais que isso, só se ele dissesse que tem andado batendo panela.
Como Joaquim Barbosa antes, Moro já se tornou o herói não dos brasileiros – mas da direita nacional.
Também como Joaquim Barbosa antes, a Globo já tratou de armar a gaiola para ele.
Entre sorrisos, na premiação, Moro entrou nela – para prejuízo da sociedade.
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