sábado, 9 de agosto de 2008

ALVÁRIO URIBE, O PINÓQUIO



Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa


Desde o primeiro dia, a versão oficial do resgate de Ingrid Betancourt em 2 de julho, juntamente com 11 policiais e militares colombianos e três mercenários estadunidenses, deixou a sensação de história mal contada. Os soldados teriam se disfarçado de representantes de uma ONG inexistente. Por profunda que seja sua decadência, as Farc não sobreviveram a mais de quatro décadas de guerrilha acreditando em Papai Noel e seus líderes não nasceram ontem. Pareceu plausível a tese de que líderes guerrilheiros foram subornados, difundida por uma rádio suíça.

Mas, em 5 de agosto, ao divulgar vídeos e fotos da operação, a tevê colombiana RCN revelou uma verdade ainda mais embaraçosa para o presidente Álvaro Uribe.

Em 16 de julho, a CNN divulgara uma foto mostrando o uso da Cruz Vermelha na operação. Era a amostra do material que uma fonte militar confidencial tentara vender por 300 mil dólares, proposta que a emissora recusou por não ter como verificar sua autenticidade.

Na ocasião, o governo colombiano pediu desculpas, que foram aceitas. Uribe disse ter sido enganado, o ministro da Defesa Juan Manuel Santos repassou a batata quente ao general Freddy Padilla, comandante do Exército, e este ao capitão que usou o jaleco.

Com medo dos rebeldes à espera do helicóptero, este teria contrariado ordens e colocado à ultima hora, sobre o colete, uma tela com o emblema. Não seria julgado e seu nome seria mantido em segredo, pois “reconheceu o erro aos seus superiores e a elementos judiciais”.

Agora, a versão divulgada pela emissora colombiana, mais completa (apesar de faltar o momento crítico da rendição dos guerrilheiros), provou que os soldados usavam uniformes e braçadeiras dessa instituição desde o treinamento – e ao final as queimaram para fazer desaparecer a evidência, caracterizando uma fraude premeditada e consciente.
Outros militares vestiram-se como jornalistas da rede venezuelana Telesur e da equatoriana Eucuavisa, meios pelos quais os rebeldes tinham confiança.
Por motivos óbvios, o uso da Cruz Vermelha como disfrace é crime de guerra:se militantes quaisquer dos lados apelam a tal disfarce, o papel humanitário vital dessa instituição, que depende de sua estrita neutralidade, fica comprometido e os grupos de socorro que agem em seu nome(sem falar em jornalistas) passam a correr risco de vida. Protolo anexado anexado à Convenção de Genebra de 1949 proíbe "capturar um adversário usando meios pérfidos" como"simular um estatuto de proteção, mediante o uso de siganos e emblemas. Fica proibido fazer uso indevido do distintivo da Cruz Vermelha".
O omitê internacional da instituição exigiu novos esclarecimentos sobre o "mau uso deliberado" de seus símbolos e, desta vez, tem o dever moral de exigir punições. O presidente Uribe novamente admitiu o erro e pediu desculpas à instituição.
De forma cada vez menos plausível, ele e seu ministro da Defesa- que chamou de "traidores" os responsáveis pelo vazamento, que já teriam sido identificados e seriam punidos- insistem em que não tiveram conhecimento prévio dessas "minúcias".
Mais uma vez, o capitão pagou o pato: "Acreditamos em sua palavra porque na vida militar a palavra é muito mais importante, inclusive esse militar nos jurou por seus filhos que só pôs o símbolo quando teve medo". Não receberá as medalhas prometidas, diz Uribe.
Aparentemente, o episódio não liquidou de vez o papel da Cruz Vermelha, pois em 24 de julho esta- a verdadeira- voltou a servir como mediadora na libertação de oito reféns das Farc. Mas o mprecedcente é grave. Ao mais uma vez -como no caso do do bombardeio do Equador - assumir que seus fins justificam quaisquer meios e sustentar versões que rapidamente se mostram mentirosas, o governo de Bogotá expõe-se ante seus pares como agente da barbárie, tal como foi sempre foi pintado por sua oposição de esquerda.


Fonte: CartaCapital.

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