terça-feira, 7 de outubro de 2008

DEMOCRACIA:HÁ QUEM NÃO GOSTE

Dá-lhe democracia! Dá-lhe Brasilsil! Um papo com o americanófilo brasilfóbico

Ricardo Giuliani Neto

Cada vez que vou pra lá, gosto mais de cá! Frase que produz calafrios n’alguns. Outra que mete a tremedeira é a do Nelson Rodrigues, ao aconselhar a perda do “complexo de vira-latas”. Outra é aquela: olha o avestruz! cabeça no buraco e partes baixas pra lua!. E as eleições municipais, modorrentas como estão, mesmo assim, ainda é um festejo cívico. Adoro essa brasilidade. Que orgulho de ser tupiniquim! Isso mesmo, falo sério, que orgulho de ser terra brasilis.


Uns e outros dizem que os americanos são os caras. A terra da democracia, das liberdades civis e da seriedade e que tudo que fazemos por aqui não é sério. Ledo engano! A massa de brasileiros é o que tem de mais sério neste mundo (sou capaz de sentir os arrepios dos leitores brasilfóbicos). Mas, então, aos fatos.


A torto e direito, mais torto que direito, criticam nosso Congresso por viver num mundo de troca-troca (o que é verdadeiro). “Só voto assim se me deres aquilo ali”. Bah! É só o que se ouve (e se ouve a verdade). Dizemos que o interesse público é jogado às favas em vista de interesses menores, paroquiais (e é verdade). Mas tudo acaba por se perder quando invocam os irmãos do norte como exemplo de conduta política e como exemplo de civismo.


Vejam só. Na quinta-feira passada, o Senado americano aprovou o “pacote” que iria salvar o mundo (salvar até que não vai; serenar, talvez sim). Bush mandou 102 páginas de projeto e recebeu de volta um projeto com 451 páginas. A engorda não era nada mais nada menos que troca-troca. “Tu me dás isso e eu te dou o voto”. Claro, isso dito em inglês – é mais chique – e montados sobre 30% da economia mundial.


Nas gordurinhas, que elevaram o pacote de US$ 700 para US$ 850 bilhões, pode-se encontrar a prorrogação de isenções tributárias – que vão da indústria farmacêutica até autódromos –, isenções para vítimas de furacões, recursos para escolas rurais, benefícios previdenciários para doentes mentais, etc. “Bem coisa de brasileiro”, dirá o americanófilo brasilfóbico. Vira-latas, diria Nelson Rodrigues.


Incomoda o desdém com as coisas de cá, como se lá corresse um mar de rosas. Há quem diga que o Obama – negro e muçulmano – corre o risco de ser assassinado (está nos jornais) e não assumir, se ganhar as eleições. E não seria o primeiro! Há os que ganharam e, no poder, foram mortos. Bush, no voto popular, perdeu as eleições e virou presidente. Lula ganhou no voto, mas há quem tenha saudades de fardas apijamadas. O Homem recebe aprovação de cerca de 80% e há quem não o respeite pelo fato de ser um metalúrgico (ou porque não lê jornal). Não precisa gostar... respeitar é da democracia e da boa educação.


Por lá e pela Europa, falam em cerca de 300 bancos na iminência da bancarrota. Por cá, soluços e muita cautela. Não estamos fora do mundo, e nem o que ocorre no mundo pode justificar o que se faz por aqui. O que não pode é não abrimos os olhos pro mundo para podermos, sem qualquer responsabilidade, ou sem qualquer brasilidade, afirmar que somos o pior povo do planeta. Não somos! E como não somos!


Pois bem, é dia de comemorar o resultado das eleições, da festa democrática, dos que se elegeram com os votos da maioria. É momento de respeitar a maioria. Não sei quais foram, não sei quem se elegeu, estou escrevendo na sexta-feira. Mas não importa. Importa é que podemos falar, expressar, escolher os nossos representantes (os eleitos assumirão seus (en)cargos) e, mais do que qualquer coisa, podemos tomar consciência de que não devemos nos demitir da cidadania. Passado o primeiro turno é hora de participar. Viva a democracia. E pra ti, americanófilo brasilfóbico, ficam os cumprimentos por mais um dia democrático.


http://ultimainstancia.uol.com.br/colunas/ler_noticia.php?idNoticia=56922

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