Por Glauco Faria
Com a pequena vantagem obtida pelo atual prefeito Gilberto Kassab (DEM) já no primeiro turno sobre a petista Marta Suplicy, boa parte dos analistas da imprensa de sempre se apressaram em dizer que essa é uma vitória do governador José Serra (PSDB). Aliada ao revés de Aécio Neves com a candidatura Lacerda em BH, parece que o tucano vive o melhor dos mundos, esfregando as mãos como um estrategista brilhante que superou dois inimigos internos em um só domingo.Mas será que é isso mesmo?
Serra trabalhou nos bastidores para a eleição de Kassab, mas a grande arrancada do prefeito paulistano tem pouco a ver com a “forcinha” do governador. Apesar da sua lealdade e de sempre citar Serra nos discursos, Kassab contou com um importantíssimo trabalho de marketing político, fazendo uma campanha que conseguiu valorizar os feitos da sua administração e ocupando o posto de anti-PT, como já dito aqui. Trabalho tão acertado que, antes do início do horário eleitoral, sua administração ostentava 35% de ótimo/bom, segundo o Datafolha, e chegou a 50% na reta final da campanha.
Além disso, o atual prefeito contou não apenas com a máquina, mas com o maior tempo de TV e com a maior arrecadação de campanha.Por outro lado, Serra não pôde dar seu apoio público ao demo, portanto não faz sentido atribuir qualquer transferência de votos de um para o outro. O mérito que a mídia atribui a ele então passa a ser o de grande mentor político que consegue pavimentar seu caminho rumo ao Planalto em 2010.
E é aí que uma aparente vitória hoje pode implicar em derrotas futuras.Não é a primeira vez que Serra atropela, de uma forma ou de outra, aliados/adversários para conseguir o que quer. Em 2002, por exemplo, detonou a candidatura de Roseana Sarney e depois massacrou Tasso Jereissati na disputa interna para ver quem seria o candidato presidencial do PSDB. O resultado da manobra é que o então PFL não se aliou aos tucanos formalmente, o que diminuiu o tempo de TV e a sustentação política de Serra, e Tasso fez tanto esforço pelo colega de partido quanto o governador paulista fez por Alckmin nesta eleição.
Ganhou, mas não levou. De quebra, na mesma eleição, conseguiu atrair o ódio de Ciro Gomes com o uso de métodos pouco ortodoxos para tirar seu adversário do segundo turno. Uma aliança improvável dos dois na reta final se tornou impossível e Ciro foi para os braços de Lula.Agora, novamente derrota um adversário de seu próprio partido. Criou para Alckmin uma situação embaraçosa e isso pode resultar em fraturas e feridas que não vão se fechar até 2010. Mesmo enfraquecido, Alckmin conta com o apoio boa parte da bancada paulista na Assembléia Legislativa e tem influência no estado.
O vereador mais votado da capital, aliás, é seu aliado Gabriel Chalita, que também se tornou um desafeto de Serra após a atual secretária de Educação paulista jogar em suas costas a maior parte do medíocre desempenho da área no âmbito estadual. Ou seja, Alckmin está longe de ser carta fora do baralho.Permanecendo no partido, Alckmin é uma pedra no sapato do governador e a divisão pode se acentuar até 2010. Mais que habilidade, Serra terá que refrear o instinto de escorpião que acaba envenenando gente do seu próprio partido. E, obviamente, se esforçar para eleger Kassab. Caso contrário, será cobrado de forma brutal pela derrota em São Paulo e passará do paraíso ao inferno em três semanas. Das “estrelas políticas” no cenário brasileiro, Serra é quem mais tem a perder no segundo turno.
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