sexta-feira, 10 de outubro de 2008

JORNALISMO ALUGADO:SÓ LEMBRANDO



WATERGATE DENTRO DA REDAÇÃO DO JORNAL DO COMMERCIO

Ter uma imprensa livre é uma conquista de uma sociedade. Um exemplo de ambiente democrático. Reflexo de avanço que deve ser sempre comemorado. No Brasil, esta conquista veio sempre recheada de solavancos, idas e vindas, violentos espasmos conseguidos muitas vezes a ferro e fogo, sangue e lágrimas. Já faz mais de 20 anos que o Brasil iniciou sua redemocratização e a imprensa ganhou status de poder paralelo, acima da lei e da ética, assumindo uma postura de jurista, partido político e, muitas vezes, algoz mordaz de vidas públicas. Estão aí os exemplos de Veja, Folha de São Paulo, O Globo, etc.

Aqui em Pernambuco possuíamos uma imprensa relativamente ética, com certo distanciamento do ambiente político imediato, pelo menos em época eleitoral. Sempre soubemos que os donos dos Jornais têm predileção por este ou aquele político, esta ou aquela administração.. Vide o caso de Jarbas Vasconcelos nos 8 anos em que foi governador do Estado (quase sempre tratado a pão-de-ló pelo Diário de Pernambuco e pelo Jornal do Commercio). Ou Roberto Magalhães quando foi prefeito do Recife.

No entanto, depois das eleições estaduais e, sobretudo, nestas eleições municipais de 2008, houve uma verdadeira mudança na redação do principal jornal de Pernambuco: O JORNAL DO COMMÉRCIO. Este órgão, que sempre pareceu um veículo moderno, eqüidistante da interferência direta no ambiente político-partidário, decidiu em 2008 apoiar diretamente uma candidatura, um projeto político na cidade do Recife: a candidatura de Mendonça Filho (DEM) à prefeitura. Não haveria problema se esse apoio viesse estabelecido em editorial, abrindo o jogo diretamente ao leitor, como se faz em jornais de outros países mais evoluídos democraticamente. O problema é que, assim como em outros casos nacionais conhecidos, o JORNAL DO COMMÉRIO decidiu, com subterfúgios antiéticos de edição jornalística, utilizar o veículo noticioso para privilegiar um candidato, em detrimento às outras candidaturas, notadamente a que reúne em sua coligação o Partido dos Trabalhadores.

Nós do Centro Independente de Estudos da Imprensa de Pernambuco (CIEIPE), decidimos estudar o fenômeno, e, como ação concreta na luta pela mídia independente e pelo leitor/espectador consciente, vamos interferir (informando) aqueles que (por obra do próprio JC) desconhecem os fatos que fazem deste periódico, hoje, uma fábrica para construir um candidato ou candidatura e projeto de poder político-ideológico.

Portanto, vamos apresentar aqui uma lista de fatos estranhos, desabonadores, que fazem parte da prática do JORNAL DO COMMÉRCIO, que serão divulgados em blogs, sites de acompanhamento da mídia, para profissionais da mídia, para professores de comunicação, além de leitores e assinantes deste periódico. Reforçamos que encaminharemos estes fatos diretamente pros assinantes, uma vez que já possuímos uma lista com seus nomes e endereços fornecidas diretamente por funcionários do JC. E, já na semana que vem, deverá haver repercussão nos blogs de avaliação de mídia nacionais, repercussão esta já iniciada em sites na Bahia, Paraíba, Alagoas e em Pernambuco.

Vamos então aos fatos que todos os leitores do JORNAL DO COMMÉRCIO têm de ter conhecimento para, assim, poderem fazer seus julgamentos, já que não é só a mídia que tem o direito de fazê-los:

1. O JC possui um Diretor Adjunto de Redação, Laurindo Ferreira, que é casado com a assessora de comunicação do candidato do DEM, Mendonça Filho. O profissional deveria, pelo menos no período eleitoral, ser afastado de suas funções, pelo bem da ética jornalística;

2. O JC possui um sub-editor, Ricardo Novelino, que é filho do candidato do PSC à prefeitura do Recife, CADOCA. Fato que deveria impedi-lo de atuar no período eleitoral;

3. O JC possui um repórter, do Caderno de Esportes, que é assessor do candidato a vice-prefeito na chapa de Mendonça Filho, o deputado André de Paula. O repórter se chama Carlyle Paes Barreto e também deveria ser afastado durante o processo eleitoral;

4. Todos estes casos citados anteriormente, todos esses profissionais, trabalham para seus candidatos de dentro da redação do JC, por vezes recebendo ligações dentro do jornal, praticando assessoria política usando as dependências do vespertino. Diga-se de passagem, que o caso do Diretor de Redação é o mais grave, pois dirige o jornal sob uma ligação direta com uma candidatura!;

5. Chama a atenção a ligação umbilical do colunista Paulo Scarpa, do Repórter JC, com o ex-jornalista do JC, Ênio Benning, atual assessor de comunicação do senador Jarbas Vasconcelos (principal cabo eleitoral do candidato do PMDB, Raul Henry). Scarpa almoça quase toda sexta-feira com Ênio Benning, num shopping da cidade, e, 'coincidentemente', em suas colunas, as informações sobre Raul Henry e Jarbas Vasconcelos são sempre potencializadas positivamente. Não há críticas a esses políticos em sua coluna;

6. O colunista Inaldo Sampaio, que sempre aprofundou algumas questões políticas, tem exibido um grande distanciamento da análise dessa campanha municipal. Antes, o jornalista promovia, no 'abre' de sua coluna, reflexões pessoais sobre o momento político, sobre as pesquisas divulgadas, sobre os fatos de cada candidatura. Hoje o que vemos, como reflexo da censura existente no JORNAL DO COMMÉRCIO, é uma coluna frouxa, com quase 80% de seus assuntos direcionados para a política do interior, e com aberturas geralmente feitas com opiniões de outros atores políticos, e não do próprio jornalista. Chama a atenção o pouco espaço dado às ações do candidato do Partido dos Trabalhadores, João da Costa, mesmo quando ele já protagonizou uma das grandes viradas da história política do Recife (tinha 5% há 4 meses, e hoje tem em torno de 40% das intenções de voto), bem como às ações do candidato CADOCA, que tem papel político sempre minimizado nas citações;

7. O caso Inaldo Sampaio vai mais longe. O colunista, segundo outros profissionais da mídia pernambucana, faz assessoria de imprensa 'não-declarada' para prefeitos do interior do Estado. Ele usa a própria coluna como espaço de divulgação! Houve caso de o colunista do JC ligar para profissionais de outros jornais (o Diário de Pernambuco, por exemplo) para 'sondar' informações negativas de seus 'prefeitos-assessorados' que seriam divulgadas nos concorrentes! Tudo isso de dentro da Redação do JORNAL DO COMMÉRCIO!

8. O caso mais terrível é do jornalista Jamildo Melo, editor do Blog do Jamildo. Este jornalista é conhecido nas rodas profissionais da cidade e nas salas de aula como um exemplo do que não se deve fazer na profissão. É sabido que, dentre outras coisas, Jamildo Melo já: destratou companheiros de trabalho, praticou assédio moral com companheiras de Blog, ameaçou representantes de Organizações Não Governamentais do estado, fez assessoria às escondidas para um shopping da cidade enquanto era lotado no Caderno de Economia do JC, pratica censura dos 'posts' colocados no seu Blog (sem avisar aos seus leitores que está fazendo moderação do espaço virtual), escreve auto-elogios nos espaços para comentários dos leitores, assinando como outra pessoa; convoca profissionais da Redação do JC para postarem elogios e comentários no blog e assim iludir o leitor como se o site estivesse sendo muito freqüentado. Como exemplo desta participação enganosa dos jornalistas de dentro da Redação poderíamos citar: Maria Luiza Borges, Otavio Toscano e Saulo Moreira que já se passaram por leitores normais do blog utilizando pseudônimos como Helena de Tróia, Catia Santos e Tiago. É interessante notar que não é proibido um jornalista do JC postar mensagens no Blog do próprio jornal, mas que ele usasse o próprio nome e não servisse como ponto de apoio ao editor do Blog diante dos leitores sem que estes saibam de quem parte os elogios.

9. E por fim, falemos dos espaços propriamente ditos que o JORNAL DO COMMÉRCIO vem apresentando em suas edições para as notícias sobre os candidatos. Em nossos estudos, que se referem aos meses de junho e julho e metade do mês de agosto, quase 93% das notícias sobre o candidato Mendonça Filho (DEM) são consideradas positivas e são apresentadas com destaque gráfico (fotos coloridas, quarto ou metade de página, sempre na metade superior do jornal). Já o candidato do PT, por exemplo, merece 35% de notícias positivas. Neste caso há uma inversão em relação ao candidato Mendonça Filho. O candidato do PT tem suas notícias negativas (ou 'negativadas') amplificadas no alto da página, utilizando fotos em preto e branco e com manchetes sensacionalistas. Ou seja, os destaques seguem o seguinte padrão editorial: as notícias negativas do candidato do PT vem na primeira metade da página com a mesma formatação das notícias positivas do candidato Mendonça Filho! Numa comparação visual tem-se a exata noção da manipulação que se tenta empreender através de técnicas jornalísticas. Sem falar no teor das manchetes e títulos negativos dados ao candidato do PT que não são confirmados no bojo da matéria.. Apenas 29% dos textos sobre o candidato petista correspondem aos seus títulos negativos. Algo parecido acontece com o candidato CADOCA, que tem quase 60% de notícias negativas em destaque, quase sempre mostrando sua trajetória como um perdedor contumaz.
Inicialmente estes são alguns dados já catalogados por nosso grupo de estudos e que serão divulgados para o público especializado e leitores do JC, para que assim possamos equilibrar um pouco o jogo democrático que, pelo visto, anda tão pouco ético na Redação do JORNAL DO COMMÉRCIO.

Destacamos que os profissionais que fazem parte deste veículo são apenas trabalhadores que têm de obedecer ordens, até mesmo se antecipando e promovendo uma auto-censura no cotidiano das pautas e reportagens. Quando fazemos esta análise não queremos desmerecer o trabalho destes profissionais, pelo contrário, queremos revalorizar este trabalho, através de uma pressão democrática pela volta da ética na imprensa local. Agradecemos desde já a ajuda de muitos profissionais e ex-profissionais do próprio jornal e de outros veículos, bem como de estudantes da UNICAP na pesquisa ora empreendida.

Centro Independente de Estudos da Imprensa de Pernambuco (CIEIPE) .

Colaboração do amigo Ronaldo.


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