Bernardo Mello Franco
A proposta de criação da Comissão da Verdade é o novo capítulo de uma antiga cruzada do ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, para denunciar os militares que torturaram nos porões da ditadura.
Ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), ele começou a se dedicar à missão há 35 anos, de dentro da cadeia, quando ajudou a organizar a primeira lista de desaparecidos políticos. O levantamento resultou num manifesto entregue à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com os nomes de 233 torturadores, descrição de métodos de tortura e relação de vítimas do regime.
Nos anos 80, Vannuchi coordenou o projeto “Brasil: Nunca Mais”, que resultou num livro-denúncia com mais de 30 edições até hoje. Comandou uma operação sigilosa que envolveu o contrabando de processos do Superior Tribunal Militar (STM) e o aluguel de um galpão transformado em gráfica clandestina.
O livro desmonta a versão oficial do regime para a morte de dezenas de militantes.
Foi publicado em 1985 sem a identificação dos autores e com prefácio assinado pelo arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns.
Ateu declarado, o ministro se aliou à Igreja em 1973, quando o cardeal o procurou na cadeia para comunicar que celebraria uma missa pelo estudante Alexandre Vannuchi Leme, seu primo, morto sob tortura aos 22 anos. A ditadura plantou a notícia de que ele teria sido atropelado ao fugir de um cerco da polícia, o que seria desmentido pelo “Brasil: Nunca Mais”.
O próprio ministro também sofreu torturas violentas na cadeia. Foi baleado e preso aos 20 anos, quando estudava medicina na Universidade de São Paulo e militava na ALN de Carlos Marighella. Vannuchi não gosta de falar sobre a experiência, para evitar ser tachado de revanchista. A ALN foi uma das siglas mais atuantes da guerrilha urbana. Promoveu ações armadas como assaltos e sequestros para arrecadar fundos e libertar presos.
Numa rara entrevista em que tratou do assunto, Vannuchi contou à revista “Poder” sua primeira ação de militante: aos 18 anos, pichou palavras de ordem contra o regime nos muros de um quartel e de uma delegacia da cidade natal, São Joaquim da Barra (SP).
A ação estava programada para 13 de dezembro de 1968 — por coincidência, a noite em que o AI-5 foi editado. Vannuchi soube da notícia num bar, pela TV.
— A gente não entendeu direito aquilo, achamos até a maior graça. “A nossa pichação vai ser a primeira resposta a essa merda! É São Joaquim na vanguarda!” — relembrou.
Vannuchi é assessor de Lula desde os tempos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e participou de todas as campanhas do chefe.
No governo desde 2005, lançou o livro “Direito à Memória e à Verdade”, uma espécie de reedição ampliada e oficial do “Brasil: Nunca Mais”, que provocou forte reação nos quartéis. Por polêmicas ligadas à ditadura, já ameaçou pedir demissão pelo menos outras duas vezes: quando a Advocacia Geral da União assumiu a defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar dezenas de desaparecidos, e quando o comando da busca por ossadas da Guerrilha do Araguaia foi entregue ao Exército. Nas duas ocasiões, recuou sem ser atendido. O Globo.
A proposta de criação da Comissão da Verdade é o novo capítulo de uma antiga cruzada do ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, para denunciar os militares que torturaram nos porões da ditadura.
Ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), ele começou a se dedicar à missão há 35 anos, de dentro da cadeia, quando ajudou a organizar a primeira lista de desaparecidos políticos. O levantamento resultou num manifesto entregue à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com os nomes de 233 torturadores, descrição de métodos de tortura e relação de vítimas do regime.
Nos anos 80, Vannuchi coordenou o projeto “Brasil: Nunca Mais”, que resultou num livro-denúncia com mais de 30 edições até hoje. Comandou uma operação sigilosa que envolveu o contrabando de processos do Superior Tribunal Militar (STM) e o aluguel de um galpão transformado em gráfica clandestina.
O livro desmonta a versão oficial do regime para a morte de dezenas de militantes.
Foi publicado em 1985 sem a identificação dos autores e com prefácio assinado pelo arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns.
Ateu declarado, o ministro se aliou à Igreja em 1973, quando o cardeal o procurou na cadeia para comunicar que celebraria uma missa pelo estudante Alexandre Vannuchi Leme, seu primo, morto sob tortura aos 22 anos. A ditadura plantou a notícia de que ele teria sido atropelado ao fugir de um cerco da polícia, o que seria desmentido pelo “Brasil: Nunca Mais”.
O próprio ministro também sofreu torturas violentas na cadeia. Foi baleado e preso aos 20 anos, quando estudava medicina na Universidade de São Paulo e militava na ALN de Carlos Marighella. Vannuchi não gosta de falar sobre a experiência, para evitar ser tachado de revanchista. A ALN foi uma das siglas mais atuantes da guerrilha urbana. Promoveu ações armadas como assaltos e sequestros para arrecadar fundos e libertar presos.
Numa rara entrevista em que tratou do assunto, Vannuchi contou à revista “Poder” sua primeira ação de militante: aos 18 anos, pichou palavras de ordem contra o regime nos muros de um quartel e de uma delegacia da cidade natal, São Joaquim da Barra (SP).
A ação estava programada para 13 de dezembro de 1968 — por coincidência, a noite em que o AI-5 foi editado. Vannuchi soube da notícia num bar, pela TV.
— A gente não entendeu direito aquilo, achamos até a maior graça. “A nossa pichação vai ser a primeira resposta a essa merda! É São Joaquim na vanguarda!” — relembrou.
Vannuchi é assessor de Lula desde os tempos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e participou de todas as campanhas do chefe.
No governo desde 2005, lançou o livro “Direito à Memória e à Verdade”, uma espécie de reedição ampliada e oficial do “Brasil: Nunca Mais”, que provocou forte reação nos quartéis. Por polêmicas ligadas à ditadura, já ameaçou pedir demissão pelo menos outras duas vezes: quando a Advocacia Geral da União assumiu a defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturar dezenas de desaparecidos, e quando o comando da busca por ossadas da Guerrilha do Araguaia foi entregue ao Exército. Nas duas ocasiões, recuou sem ser atendido. O Globo.
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