A politização dos números da economia está enlouquecendo as redações. O que houve hoje, quarta-feira 10 de dezembro, não foi outra coisa que não uma sabotagem midiática organizada. O IBGE divulgou que o crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre bateu um recorde histórico. Mais que isso. Registrou-se um crescimento de qualidade, com ampliação do parque industrial, aumento da massa salarial, do nível de emprego, e com melhores índices entre as regiões e as camadas sociais mais pobres - portanto com distribuição de renda. O que seria uma excelente oportunidade para melhorar o astral e incentivar um clima de otimismo às vésperas do Natal, quando as vendas costumam ganhar ritmo, incentivando a economia e gerando mais empregos, foi transformado, por uma operação alquímica típica de nossa mídia, em augúrio de novas desgraças. Nem o bom senso está sendo mais respeitado. Miriam Leitão entrevista analistas - certamente escolhidos a dedo entre a turma urubunômana - que chegam ao cúmulo de afirmar que a alta na economia no terceiro trimeste tem um ponto negativo: de que formarão uma base alta para uma queda abrupta no quarto trimestre. Nem consigo explicar direito, de tão estúpido. Quer dizer que os milhões de empregos gerados, a felicidade nos lares, os eletrodomésticos, tão sonhados, que foram adquiridos, têm um ponto negativo? Tudo tem um lado negativo, ok, mas neste caso, é como dizer que viver tem um lado negativo, que é a constante possibilidade de morrer. Morrer também é uma "queda abrupta".
"Crise freia país no auge de seu crescimento econômico"
Esta é a manchete do Globo. No entanto, como ele pode afirmar, peremptoriamente, que a crise "freia país", se o referido recuo na economia é apenas uma previsão? O que é científico, comprovado, é o crescimento do país.
Na tentativa de desculpar-se por ter previsto tanta desgraça e agora ser obrigado a vir a público com a notícia do maior crescimento da história recente, a mídia diz que a crise financeira iniciou-se somente em setembro, ao final do terceiro trimestre, com a falência do Lehman Brothers, e que afetaria a economia brasileira apenas no quarto trimestre. É mentira. A crise econômica mundial, e mais especificamente nos EUA, iniciou-se há dois anos, com a quebra de várias grandes corporações. Recentemente, a própria imprensa noticiou que os EUA vivem recessão há um ano.
Houve um estouro de bolha a partir de setembro, está certo, mas, apesar dos trilhões envolvidos, não adveio de queda na demanda mundial. Ao contrário, a demanda global prossegue crescendo. Essa crise tem sido uma crise de marcas famosas. Uma crise de bancos privados, estatizados pelos governos europeus e, parcialmente, também pelo governo americano. Os trilhões de dólares mudaram de mãos.
Os profetas do apocalipsse, aqui no Brasil e lá fora, subestimam o poder criativo da raça humana, que já enfrentou crises infinitamente piores que essa. Andaram comparando com o crash da bolsa de Nova York. Outra incorreção histórica. Em 1929, não havia uma Ásia industrializada e pujante. Não havia uma América Latina industrializada e pujante. Não havia uma União Européia unida e forte. Não havia um Brasil industrializado e com petróleo! O Brasil, em 1929, não possuía uma gota de petróleo e, pior, ainda éramos acossados pela propaganda - apoiada por Globo, como sempre - de que não havia possibilidade de haver petróleo no país!
Em 1929, éramos uma grande fazenda monocultura de café. Hoje o Brasil exporta centenas de produtos e todos são importantes para nossa balança comercial. O café, e o Brasil continua sendo o maior produtor e exportador mundial, representa menos de 1% de nossas exportações.
A crise financeira mundial serviu a vários propósitos interessantes. Ajudou a eleger Obama, um negro de esquerda, para a presidência dos EUA, um fato que terá desdobramentos geopolíticos em todo planeta. E servirá para reduzir o desequilíbrio entre as nações, com redução proporcional do PIB americano em relação aos PIBs de outros países. O Brasil ficará melhor na foto. O Brasil deverá sair da crise com uma graduação mais alta entre as maiores economias do mundo, saindo décima posição para a oitava ou sétima, superando Espanha e Itália e emparelhando com França e Inglaterra.
Na década de 30, nossa única riqueza, o café, atingiu preços tão baixos que Getúlio achou melhor manda queimar quase 100 milhões de sacas estocadas. Com as exportações paralisadas, passamos a investir no mercado interno, e diante de um mundo que afundava em crises e hostilidades, que culminariam na II Guerra Mundial, o Brasil viveu momentos gloriosos em sua economia e cultura, com a implantação de indústrias de base e o surgimento de grandes gênios da literatura, como Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade.
Há que se refletir algumas coisas. Primeiro: mesmo se o PIB brasileiro levar um tombo no quarto trimestre, o crescimento acumulado em 2008 terá sido o maior em décadas. Segundo: um país não vive só de PIB. Teremos vivido mais um ano de melhora na distribuição de renda. Regiões pobres, como o Norte e Nordeste, continuam experimentando um crescimento muito acima da média nacional. Criamos a TV Brasil, que deverá se consolidar em breve como a maior TV pública das Américas. Mais de 43 milhões de brasileiros estão acessando a internet, um número incrível, quase metade da população economicamente ativa. As vendas pela internet explodiram. A blogosfera brasileira ganhou autonomia e densidade política, possuindo hoje, provavelmente, mais leitores do que a mídia impressa tradicional. Com um detalhe: se no início, a blogosfera era dominado por playboyzinhos branquelas e mimados, geralmente do Sul e Sudeste, hoje atingiu um amadurecimento muito mais democrático e diversificado, com produtores e leitores de todas as idades, classes sociais, raças e regiões.
Repito: não podemos pensar o Brasil apenas em termos econômicos. O país amadureceu politicamente. Ainda falta amadurecer culturalmente, livrar-se de alguns entulhos do regime militar, sendo o principal deles a paranóia anti-comunista da grande mídia. E o golpismo político. Eliminadas as possibilidades de novos golpes militares contras as forças de "esquerda", a direita avançou .
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