segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A HORA DA VIRADA

Segunda, 13 de outubro de 2008
Maria do Rosário: "Yeda é âncora para Fogaça


Candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PT, Maria do Rosário espera ter relacionamento "tranqüilo" com o governo do Estado, administrado pela tucana Yeda Crusius
Diego Salmen


Candidata do PT à Prefeitura de Porto Alegre, a deputada Maria do Rosário tenta retomar a capital gaúcha para o partido depois de um período de 15 anos de governo - interrompido em 2004, com a eleição do atual prefeito e adversário na corrida municipal, José Fogaça, do PMDB.

No primeiro turno da disputa eleiotral, Fogaça obteve 43,8% dos votos válidos. Maria do Rosário conquistou 22,7%. Em entrevista a Terra Magazine, a petista fala sobre como pretende reverter esse quadro nas urnas.

- A maioria dos eleitores votou em uma mudança mais profunda, verdadeira, para melhor, quando não deu a vitória ao prefeito Fogaça no primeiro turno - avalia.


A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), declarou apoiou à candidatura do atual prefeito. Ela vem se desgastando por escândalos no Estado desde que seu próprio vice, Paulo Feijó (DEM), denunciou um esquema que supostamente usava dinheiro de estatais para o financiamento de campanhas eleitorais. (leia aqui), Sobre a pouca atenção dada pela mídia ao apoio da governadora, Rosário provoca:

- Talvez porque a Yeda Crusius seja uma âncora mesmo.

De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Ibope no último sábado, 11, o pemedebista contabiliza 51% das intenções de voto, enquanto Rosário faz parte dos planos de 40% do eleitorado para o segundo turno.

Procurado por Terra Magazine, o candidato José Fogaça ainda não atendeu ao pedido de entrevista.

Confira abaixo a conversa com Maria do Rosário, candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre:

Terra Magazine - O PCdoB declarou apoio à sua candidatura mas, mesmo com todos os votos da candidata Manuela d'Ávila (121 mil) somados aos seus (179 mil), ainda não é possível bater o atual prefeito (que teve 346 mil). Como a senhora pretende reverter a vantagem de José Fogaça?

Maria do Rosário - Em primeiro lugar, quero agradecer à confiança do PCdoB. Essa indicação já me deixa muito honrada. Segundo, eu diria que os votos que foram conferidos no primeiro turno à minha pessoa, ou à pessoa de José Fogaça e o projeto que ele representa, não pertencem a cada um de nós: eles pertencem às pessoas que votaram, e elas vão avaliar tudo novamente. Portanto, eu vou dialogar com toda a população de Porto Alegre. Acredito que a cidade precisa ter mais ritmo para o crescimento econômico, desenvolvimento social, melhoria da qualidade de vida. Porto Alegre já foi uma cidade com projeção para o mundo inteiro, justamente pelas políticas inovadoras, e hoje ela está muito parada. Eu acredito que posso ganhar essa eleição porque a maioria dos eleitores votou em uma mudança mais profunda, verdadeira, para melhor, quando não deu a vitória ao prefeito Fogaça no primeiro turno.

O DEM e PSDB devem apoiar Fogaça, e a maioria desses votos tende a ir para o atual prefeito, por serem oposição ao PT. Qual vai ser a estratégia diante dessa perspectiva política?

Nessa eleição, a lógica não é apenas de quem apóia quem. Os apoios devem ser valorizados, mas, no geral, o eleitor vai fazer sua própria caminhada. Portanto, mesmo votos que foram conferidos aos candidatos Onyx Lorenzoni (DEM), Nelson Marchezan Jr. (PSDB) e com mais razão ainda à Luciana Genro (PSOL) e aos demais, esses votos foram votos contra a continuidade do prefeito Fogaça.

Lula disse que não participará da campanha em Porto Alegre porque o prefeito José Fogaça é do PMDB, partido da base aliada. Como a senhora vê isso?

Eu tenho trabalhado para que o presidente Lula possa estar aqui conosco, e o vice-presidente José de Alencar também, já que nossa aliança tem o PT e o PRB (partido de Alencar). A ministra Dilma Rousseff está, nos momentos disponíveis como em finais de semana, permanentemente nos acompanhando e isso já é uma sinalização. As pessoas sabem que a ministra é coordenadora de políticas de grande porte do governo. E possivelmente, eu torço para isso, vai ser a nossa candidata à Presidência da República. Então a presença dela já é uma sinalização da presença do próprio presidente Lula. Se o presidente não puder estar conosco, de toda a forma nós tocamos a luta, porque Lula é do PT e eu também. As pessoas têm que compreender que eu represento essa política. O candidato Fogaça, por exemplo, defendeu Geraldo Alckmin, foi um dos coordenadores da campanha aqui contra a reeleição de Lula.

Em que medida esse apoio, se concretizado, será eficiente? Em São Paulo, o apoio do presidente não proporcionou a Marta Suplicy a transferência de votos esperada; ela acabou ficando em segundo lugar no primeiro turno. Lula é mesmo eficiente como cabo eleitoral?

Eu considero muito importante a presença do presidente e o trabalho dele, mas a principal contribuição que ele pode dar às nossas campanhas é o trabalho que ele desenvolve como presidente da República, inclusive contornando crises. Ele desmontou a lógica de alguns, segundo a qual o País sucumbiria à inflação. Agora ele posiciona o Brasil diante de uma crise grave, com ressalvas para que o País mantenha o crescimento econômico, os investimentos públicos, e uma linha de desenvolvimento que agrega milhares de pessoas. Eu realmente avalio que é importante a presença e a participação dele desde o primeiro turno, mas quem tem que se apresentar e ganhar a eleição somos nós aqui. Inclusive com a confiança da população na capacidade e na vontade política para colocarmos Porto Alegre melhor sintonizada com o momento do Brasil.

A governadora Yeda Crusius (PSDB) declarou apoio ao prefeito José Fogaça, mas a mídia local parece não ter dado destaque a esse movimento. Por quê?

Talvez porque a Yeda Crusius seja uma âncora mesmo, né? Ou seja, o fato de ela ter entrado publicamente na campanha de José Fogaça, sem nenhum desmerecimento do candidato em si, a quem eu respeito, pode significar oferecer mais limites à candidatura dele. No entanto, eu acho que isso não tinha como não acontecer. Cada um escolhe seus aliados e de acordo com aquilo que pretende governar. Eu escolho o presidente Lula. José Fogaça escolheu a Yeda Crusius, uma governadora muito ruim para o Rio Grande do Sul, inclusive para Porto Alegre, onde tem tido um descaso impressionante, além de fazer um governo permeado por escândalos da pior espécie a cada momento.

A cobertura da mídia local está sendo isenta nessas eleições?

Olha, foi um primeiro turno meio difícil em termos disso, mas a maioria das emissoras e dos veículos manteve um trabalho respeitoso e democrático. Nós registramos no TRE o que avaliamos que não foi adequado, e estamos muito atentos isso. Mas acreditamos que pode haver uma postura mais democrática dos setores da mídia.

Como seria o relacionamento entre uma eventual prefeitura da senhora e o governo Yeda?

Seria um relacionamento tranqüilo entre instituições, representando a população de Porto Alegre. Mas cobrando, claro. Nós temos uma defasagem de 2.000 policiais militares na região de Porto Alegre; existem mais de R$ 30 milhões devidos pelo governo estadual à área da saúde, e que o Fogaça não cobrou. (Tem que) Defender a população, isso é uma obrigação e uma responsabilidade de quem for eleito prefeito, e eu acho que isso não foi cumprido até agora pelo prefeito que está aí. Eu pretendo ter uma relação respeitosa, mas firme também, de acordo com aquilo que seja o interesse da cidade.

Se o PPS vir a apoiar a senhora, isso não criaria uma contradição política para a sua candidatura?
Eu já disse, no primeiro turno, que não posso ter o apoio do PPS. Não por qualquer restrição a essa ou àquela pessoa, mas por motivos políticos. Foi o partido que pediu o impeachment do presidente Lula, tem atacado muito o governo federal, governou aqui com o Antônio Brito, que foi um privatista que comprometeu o desenvolvimento do Estado por mais de uma década. Existem reflexos muito negativos de políticas desenvolvidas por esse grupo que se encontra no PPS. E eu não falo isso por arrogância, mas por coerência. Realmente, tem que buscar o apoio daqueles com quem eu poderei governar. Eu não posso vender a alma para fazer uma aliança apenas em caráter eleitoral. Nesse sentido, o PPS já sabe que eu declinei já no primeiro turno de qualquer movimento em relação ao PPS.

Caso a senhora seja eleita, quais serão as primeiras medidas a serem tomadas na prefeitura de Porto Alegre?

Eu vou criar ações com metas para trabalhar duas situações imediatas: primeiro, requalificação dos serviços de recolhimento de lixo, de trânsito e de iluminação pública, colocando a cidade numa situação melhor. Isso tudo está muito degradado em Porto Alegre neste momento e os serviços são o cotidiano da cidade. Ao mesmo tempo, eu vou decretar áreas de emergência social, onde a população está mais precarizada, mais abandonada, para conseguir reabrir unidades de saúde que estão fechadas, e garantir o atendimento das crianças. Garantir mutirões para a empregabilidade de pais e mães, para que as famílias fiquem numa situação melhor, incluindo também a segurança e intervenções urbanas.

Terra Magazine .

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