segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O ESTADO E O MERCADO




Depois de quase três décadas de idolatria do mercado, o Estado está de volta ao controle das decisões econômicas.

As principais bolsas de valores do mundo podem cair mais 20% nas próximas semanas, levando a uma quebradeira generalizada de empresas e ao "derretimento" do mercado financeiro, advertiu no sábado, 11 de outubro, em Washington, o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn.

O FMI já alertou que mundo está à beira de uma recessão. Strauss-Kahn, ex-ministro das Finanças da França, reconhece que são necessárias rapidez, força e cooperação para superar a crise financeira global. Pela estimativa do FMI, o prejuízo da crise já chega a US$ 1,4 trilhão. Os bancos precisam de US$ 685 bilhões para se recapitalizar.

Se a crise se agravar nas próximas semanas ou meses, as falências serão inevitáveis e com isso haverá demissões em massa e a crise vai realimentar, com risco de uma depressão mundial.

Os líderes politicos têm pouco tempo para encontrar uma solução. Foi um fim de semana marcado por reuniões do Grupo dos Sete (países mais ricos do mundo, menos a China) e do Grupo dos Vinte, que reúne as 20 maiores economias do mundo, e da União Européia.

No domingo, os 15 países da UE que adotam o euro concordaram em garantir os depósitos bancários até o final de 2009, numa tentativa de ancorar o sistema financeiro. O primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, deu garantia semelhante por três anos.

Já na sexta-feira, quando as bolsas da Ásia, da Europa e dos EUA terminavam a pior semana de sua história, com perdas de US$ 6 trilhões, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciara que o G-7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) se compromete a adotar "todas as medidas necessárias para desbloquear o crédito e o mercado de dinheiro".

Durante reunião em Washington, antes da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, o G-7 também destacou a necessidade de desbloquear o crédito hipotecário (para compra de casa própria), origem da pior crise financeira desde a Grande Depressão (1929-39), e de restaurar a confiança nos bancos.

Paulson revelou ainda que o governo americano vai comprar ações para estabilizar o mercado financeiro. Vai se tornar sócio das empresas em dificuldades para que elas tenham uma garantia extra.

Em entrevista em Washington , o secretário do Tesouro explicou que o objetivo não é aumentar a participação do governo na economia mas encorajar o capital privado a acreditar nas instituições financeiras e contribuir para sua recapitalização.

No momento, o mercado não tem muito estômago para bancos.

O mercado de crédito está paralisado porque os bancos não emprestam entre si porque desconfiam da saúde financeira dos outros bancos. Em meio a uma crise de tais proporções, ninguém vai tirar o dinheiro do seu caixa para emprestar para alguém que pode quebrar amanhã e não pagar a dívida.

Sem crédito, quem tem pagar dívidas e cobrir prejuízos é forçado a vender ações por qualquer preço, já que quase ninguém quer comprar.

A única maneira dos bancos voltarem a emprestar dinheiro é com a garantia do Estado. Na prática, o sistema financeiro dos países ricos está sendo estatizado. Foi o modelo adotado na Suécia nos anos 90 contra uma crise financeira iniciada, como nos EUA, no setor imobiliário.

No Reino Unido, é a formula adotada pelo governo Gordon Brown para tentar salvar o centro financeiro de Londres, um dos maiores do mundo. O governo britânico vai investir diretamente US$ 87 bilhões nos bancos, além de gar garantias de crédito e linhas de crédito especiais no valor total de US$ 700 bilhões.

O valor é o mesmo do pacotão americano. Mas tem uma grande diferença. Nos EUA, o governo poderia gastar US$ 700 bilhões sem resolver o problema nem ter condições de se pagar. Desde sexta-feira, o plano mudou e o Estado entrou diretamente como sócio das empresas a serem beneficiadas. Na proposta britânica, a maior parte do dinheiro é empréstimo ou garantia. Não será necessariamente desembolsado.

É mais um tabu do capitalismo liberal derrubado pelo pragmatismo exigido pela crise. Sem o Estado, o mercado não funciona. Está sujeito a colapsos de conseqüências catastróficas.

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